F1: Será Lawrence Stroll o ‘papa’ certo para a Aston Martin?
A Aston Martin não teve um bom início de temporada no Bahrein, mas isso não significa que não possa recuperar, mais preocupante é forma como a equipa tem vindo a ser liderada, que causa algumas dúvidas quanto à sua competitividade a longo prazo.
“Tenho uma excelente relação com os homens e mulheres em Silverstone. Mais do que dupliquei o tamanho daquela equipa, nos doze anos em que lá estive. Muitas das pessoas que foram contratadas quando eu estava lá, não quero dizer escolhidas (por mim), mas tive a mão na sua contratação e recrutamento de outras equipas e na criação de um grupo que trabalhou bem e funcionou bem.
Mas, como um amigo meu me disse, a Igreja Católica só tem um papa. E quando se tem dois papas, não funciona. Por isso, acho que estava na altura de sair e deixar o Aston Martin para o seu único papa, e vou tentar ajudar a Alpine o melhor que puder”.
Estas são as palavras bem elucidativas de Otmar Szafnauer acerca da sua saída da estrutura que liderou desde 2009 até ao final do passado ano.
O romeno-americano sublinhou que tinha perdido poder no último ano no seio da equipa de Silverstone e que o seu patrão, Lawrence Stroll, imiscuía-se em demasia no seu trabalho, o que não lhe deixava espaço de manobra.
O canadiano é um homem de negócios de sucesso habituado a usar a sua destreza para alcançar os seus objectivos e o seu currículo está cheio de bons resultados, tornando-se num os homens mais ricos o Canadá.
Para além disso, tem uma enorme paixão por automóveis e automobilismo e este é um catalisador poderosíssimo para que um dono de uma equipa Fórmula 1 possa ser bem-sucedido na categoria.
Porém, gerir uma equipa do pináculo do automobilismo é bastante diferente de gerir um negócio na indústria do vestuário ou qualquer outro.
Um qualquer negócio tem habitualmente um plano a longo prazo que exige resultados, mas os fracassos ou sucessos não são alvo de um intenso escrutínio público a cada corrida, sendo uma panela de pressão de emoções que pode dinamizar as tropas ou lançá-las para uma espiral de desconfiança que é difícil de inverter sem um líder em quem confiem.
Szafnauer era esse líder, dado que, tal como aponta na sua declaração, foi ele que carregou a equipa desde os anos difíceis após a aventura Midland/Spyker, tornando-a numa das estruturas mais eficientes do plantel, mesmos nas difíceis temporadas finais sob o controlo de Vijay Mallya.
O espaço do romeno-americano foi reduzido com a entrada de Martin Whitmarsh para o posto de CEO da Aston Martin Performance Technologies e com a crescente intervenção de Stroll na gestão diária da equipa, Szafnauer decidiu bater com a porta para rumar à Alpine.
É verdade que o canadiano e os seus associados têm vindo a investir massivamente na equipa, estando em construção uma novíssima fábrica e em marcha um plano de contratações que visa dotar a Aston Martin F1 dos recursos humanos necessários para a levar a ser uma das forças competitivas a médio prazo.
Porém, atirar dinheiro para cima dos problemas não é suficiente para se ser bem-sucedido na Fórmula 1, basta recordar o projeto da Toyota, e ao minar a liderança de alguém em que todos confiam não é a melhor forma de criar uma dinâmica positiva numa equipa que tem vindo a passar por algumas dores de crescimento desde que se metamorfoseou em Aston Martin.
Para além disso, o substituto de Szafnauer, Mike Krack, está afastado da categoria máxima do desporto automóvel desde 2008 e não existe um consenso no paddock acerca das duas capacidades, o que poderá criar algumas dificuldades aquando da tentativa de contratação de técnicos a outras equipas.
Existe ainda a questão a manutenção de Lance Stroll na equipa, o filho do patrão, que mina também a imagem que a Aston Martin projeta para o exterior.
O jovem canadiano entra este ano na sua sexta temporada na Fórmula 1 e, muito embora seja um piloto com qualidade, ainda não deslumbrou e, sem a ajuda do seu pai, dificilmente estaria ainda no mundo dos Grandes Prémios.
A sua continuidade na formação de Silverstone deixa transparecer que esta existe apenas para que o filho do patrão possa competir no maior palco do automobilismo do mundo.
Face a este cenário, talvez seja o momento para Lawrence fazer uma introspeção para decidir o que pretende fazer com a equipa em investe massivamente e, sobretudo, deixar nas mãos de quem sabe a gestão da equipa. Caso contrário, poderemos estar a ver daqui a alguns anos a frustração a apoderar-se dele e da equipa, podendo esta ter de passar por um processo conturbado até haver fumo branco…