F1: Ser piloto é fácil…
O desporto motorizado é exigente a muitos níveis, mas a F1 leva tudo a um extremo. E aquela ideia de que qualquer um conseguia fazer o que os pilotos fazem é… no mínimo discutível.
O desporto de alta competição é um dos mundos onde se pode ver um pouco das impressionantes capacidades do ser humano. Os atletas mostram de forma regular o que trabalho diligente, dedicação a toda a prova e talento podem fazer, conseguindo feitos que a maioria acha extraordinários.
Na F1 é também assim. Os homens que se sentam ao volante das máquinas mais rápidas do mundo fazem parecer um exercício complexo, simples.Não há como fugir à realidade que a F1 é muito diferente agora da “tal F1 do antigamente” que apaixonou milhões. A simplicidade de processos e a menor preponderância da máquina faz muitos suspirar de saudades. É um facto que a F1 atual é o mundo imaginado por engenheiros. A atenção ao pormenor, a técnica apurada, as inúmeras simulações… Tudo isso é uma espécie de pornografia para quem lida com a matemática, física e mecânica, mas torna-se algo indigesto para quem quer apenas uma boa “luta de gladiadores”. Este caminho mais técnico da F1 talvez tenha retirado alguma magia, mas dizer que é mais fácil ser piloto de F1 atualmente do que era no passado… é a meu ver um exagero.
Diz-se que os estreantes chegam à F1 e facilmente conseguem atingir patamares próximos dos que já andam no Grande Circo há algum tempo. Será que a F1 ficou mais fácil ou os jovens estão cada vez mais bem preparados? Este fenómeno é transversal ao desporto na sua generalidade… cada vez mais os jovens causam impacto na sua chegada ao topo. Não porque o desporto ficou mais fácil, mas apenas porque o nível de preparação é indubitavelmente superior. E por isso a nossa percepção do “fácil” se torna enganadora.
As máquinas atuais são complexas, pesadas e não são tão agressivas como eram no início do milénio. Essas eram máquinas menos dóceis à primeira vista, por serem mais leves e menos evoluídas. Os F1 atuais são pesados, o que os tornam mais estáveis e mais previsíveis. Mas são máquinas diferentes que exigem coisas diferentes. O cronómetro não mente e os monolugares atuais são os mais rápidos que já vimos e só isso aumenta o grau de dificuldade. Os pilotos têm de encontrar a trajetória ideal, e ao mesmo tempo têm de lidar com os pneus, com as configurações da unidade motriz, com a distribuição de travagem… Tudo isto, sem perderem o foco.
Ao ver as voltas de Lando Norris no final dos dois primeiros GP do ano, não pude deixar de admirar a capacidade de concentração do jovem britânico que, a juntar à pressão de conseguir o seu primeiro pódio, teve de lidar com as incessantes indicações do seu engenheiro para obter o melhor do seu carro. É apenas uma amostra da exigência atual da F1. Podemos não apreciar estes carros, o espetáculo que dão, mas não devemos pensar que a exigência atual é menor.
Excelente texto.
Por isso digo que é um erro comparar constantemente Pilotos de uma Era analógica, como os de hoje em dia da Era digital e electrónica. Completamente diferentes em termos de preparação, e acesso a telemetria para melhorarem os tempos.
“a F1 leva tudo a um extremo” + “é mais fácil ser piloto de F1 atualmente do que era no passado” – Será que sim? “a capacidade de concentração do jovem britânico” – qual seria a capacidade de concentração de Lando Norris se ainda jovem já tivesse tido 3 rebentamentos de pneus e 4 quebras de suspensão a alta velocidade numa pista onde a berma tem 1 metro em vez das bermas atuais de 500 metros? Continuaria com a capacidade intacta? Começaria a perder confiança e a fraquejar? “É apenas uma amostra da exigência atual da F1” – qual a… Ler mais »
E eu ponho-lhe a questão ao contrário: Será que o Piquet, o Senna, o Prost e outros de outras eras, brilhariam do mesmo modo, se tivessem de conviver com os volantes actuais? Se tivessem que lidar com toda a electrónica actual? Com todos os modos de motor?
Meu caro, ninguém tem respostas para isso, pelo que devemos olhar apenas para o que temos hoje e deixarmos de fazer comparações com o passado. O único ponto em que se podem fazer comparações é com o profissionalismo e paixão com que os pilotos se entregam.
Excelente artigo, muito bem elaborado. Discordo apenas numa questão, também discutível. Os carros de hoje em dia não são os mais rápidos de sempre. Se o são, isso deve-se em parte aos pneus usados actualmente. Em 2004, ano em que se registaram a grande maioria dos recordes dos circuitos (entretanto batidos), os carros eram 141kgs (!) mais leves do que os actuais mas estavam limitados por pneus de composto mais duro (especialmente os Bridgestone), mais pequenos e com 4 sulcos de 14mm de largura, o que reduzia a área de contacto do pneu com o asfalto e, portanto, a aderência.… Ler mais »
Não deixa de ser mais rápido. Os pneus fazem parte do carro. Cpts
E também fazem a diferença em termos de performance. É injusto comparar, por exemplo, dois atletas num sprint de 100 metros, um calçado com sapatilhas próprias, o outro com chinelos. O último estará sempre em desvantagem. Não havendo igualdade de condições, não é justo comparar os dois por igual.
só faz sentido comparar o passado com o presente em variáveis externas ao carro. Por exemplo, a consistência de um piloto é intemporal. Contudo, agora existem também mais GP por ano do que antes, o que torna as coisas de difícil comparação. Estes pilotos são super atletas, muito mais do que no passado, disso não tenho grandes dúvidas. e quando falo em super atletas, falo no plano físico mas também no emocional.