F1: Riscos desnecessários

Por a 12 Novembro 2018 15:32

O GP do Brasil vai certamente ser um dos mais comentados, não só por termos visto uma excelente corrida, mas também pelo incidente que tirou uma vitória quase certa a Verstappen.

Uma mistura de estratégia, afinação inteligente do carro por parte da equipa e um ritmo fantástico de Verstappen fizeram que o #33 tivesse uma mão na taça de vencedor da prova brasileira. Ninguém contava, no entanto, que Ocon se tornasse numa das figuras da corrida.

Depois de sair das boxes com pneus super-macios, Ocon começou a colocar um ritmo de corrida superior ao de Verstappen e por isso chegou à traseira do holandês. Todos os pilotos retardatários podem ultrapassar o líder, mas normalmente isso é feito de forma que não estrague a corrida de quem seguem em primeiro lugar. O que Ocon fez foi arriscar uma ultrapassagem ao líder, numa curva onde já o tinha conseguido anteriormente, mas em circunstâncias diferentes. É fácil atribuir a culpa a Ocon pelo sucedido e de facto o francês fez algo que poucos esperariam. Ocon tem sido sempre correto desde a sua entrada na F1 e embora já tenha sido Actor principal em alguns toques, especialmente com o seu colega de equipa, nunca ficou a sensação que tal fosse feito com maldade, tal como neste caso. Foi apenas uma manobra mal medida na altura.

O que aconteceu foi um piloto que apesar de tudo ainda é um jovem, que já provou o seu talento inúmero vezes e ainda assim está sem lugar para 2019 (para já) numa clara injustiça para o seu talento e o trabalho que desenvolveu até agora. Apesar de ter de ser apontado como o principal culpado (sem qualquer dúvida) não posso deixar de pensar nestes factos como uma atenuante. Quem não perderia um pouco o norte se estivesse prestes a sair do sítio onde sonhou estar desde sempre e onde chegou por mérito próprio?

Mas Verstappen foi mais uma vez vítima do seu ímpeto e talvez do seu ego. O jovem holandês é um prodígio e na pista de Interlagos, tal como fez em 2016, mostrou novamente que os deuses das corridas lhe deram um dom único. Mas a tão falada maturidade de Verstappen que vinha a ser elogiada nas últimas corridas voltou a diluir-se. Se Ocon deveria ter refreado os seus ímpetos e não ter prejudicado o líder, também Verstappen deveria ter sido mais inteligente na abordagem à curva 2. Hamilton resumiu de forma perfeita a situação: “Ele não tinha nada a perder, tu tinhas tudo a perder” disse o pentacampeão a Verstappen.

A postura do #33 quanto a mim não é criticável, pois a F1 é um jogo duro onde a vantagem psicológica é importante. A grande maioria dos pilotos sabe que Verstappen não vai abrir a porta ou vai alargar a trajetória apenas porque alguém está a fazer uma tentativa otimista. Ele vai usar a melhor trajetória aconteça o que acontecer e isso irá pesar sempre a quem seguir atrás dele. Mas chegará a altura, como em Interlagos, que encontrará um piloto tão teimoso quanto ele e o choque acontecerá. Verstappen terá de medir melhor estas situações. Se abrisse a porta a Ocon, o francês teria seguido e Verstappen teria mantido a liderança. O que aconteceu ali? Talvez um pouco de arrogância por não gostar de ver um retardatário passar por ele? Apenas surpresa por não esperar que Ocon continuasse a manobra?

Quanto a mim, Ocon é culpado e mereceu inteiramente a sua penalização e graças a isso ficou agora no meio de uma teoria da conspiração desnecessário, que faz pouco sentido, mas que se tornou quase inevitável. Ocon já mostrou mais tato noutras ocasiões e se conseguiu o impressionante número de 27 corrias terminadas não foi graças a este tipo de manobra. Mas Verstappen irá lutar por campeonatos no futuro e terá forçosamente de ponderar melhor este tipo de situações. Este ano “apenas” perdeu uma vitória, mas no futuro poderá perder mais que isso.

Quanto aos empurrões no final da corrida… estamos a falar de jovens que querem vencer. Claro que a atitude é reprovável e que temos de torcer o nariz as cenas vistas no final…, mas no fundo, todos sabemos que faríamos o mesmo, que são este tipo de reações que dão vida à F1 e que mostram que os pilotos não são máquinas, mas sim homens e mulheres como nós, com emoções à flor da pele. A F1 também precisa disto para viver e crescer. Não creio que seja o mais importante disto tudo, até porque, felizmente não se chegou a uma situação extrema.

“Espero que daqui por 15 anos possamos rir disto tudo” disse Verstappen no final. Há também notícias que dão conta de um cumprimento entre ambos os envolvidos depois da visita aos comissários. O que vimos foi uma lição dura para ambos, que certamente irá ser útil no futuro. O que vimos foi dois excelentes pilotos a sofrerem as dores de crescimentos, rumo ao sucesso. Isto também é F1.

Caro leitor, esta é uma mensagem importante.
O Autosport já não existe em versão papel, apenas na versão online.
E por essa razão, não é mais possível o Autosport continuar a disponibilizar todos os seus artigos gratuitamente.
Para que os leitores possam contribuir para a existência e evolução da qualidade do seu site preferido, criámos o Clube Autosport com inúmeras vantagens e descontos que permitirá a cada membro aceder a todos os artigos do site Autosport e ainda recuperar (varias vezes) o custo de ser membro.
Os membros do Clube Autosport receberão um cartão de membro com validade de 1 ano, que apresentarão junto das empresas parceiras como identificação.
Lista de Vantagens:
-Acesso a todos os conteúdos no site Autosport sem ter que ver a publicidade
-Desconto nos combustíveis Repsol
-Acesso a seguros especialmente desenvolvidos pela Vitorinos seguros a preços imbatíveis
-Descontos em oficinas, lojas e serviços auto
-Acesso exclusivo a eventos especialmente organizados para membros
Saiba mais AQUI
Subscribe
Notify of
14 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments
últimas F1
últimas Autosport
f1
últimas Automais
f1
Ativar notificações? Sim Não, obrigado