F1, Portimão vs Mugello: A opinião de quem conhece
Ainda não é certo, mas a possibilidade de termos duas estreias na F1 é grande. Mugello e Portimão poderão receber um GP pela primeira vez, faltando apenas a confirmação oficial.
Pistas novas implicam novos desafios para os pilotos. Alguns já conhecem as pistas e os que não conhecem certamente irão usar e abusar dos simuladores para perceberem as exigências. Mas apenas quando percorrerem as pistas nos monolugares é que terão uma noção clara do que terão pela frente.
O Autódromo Internacional de Mugello é uma pista situada Toscana, Itália. O comprimento do circuito é de 5,245 km, conta com 14 curvas e uma reta de 1.141 km de comprimento. A tradição das corrida em Mugello já remonta a 1920, mas a infraestrutura atual foi edificada em 1973. Apesar de ter recebido testes de F1, Mugello nunca recebeu um GP, sendo um dos palcos preferidos do MotoGP, além de receber outras categorias.
O Autódromo Internacional de Portimão,em Portugal, tem 4.692 km de cumprimento, com 19 curvas na configuração GP, embora a pista permita várias configurações. O complexo foi pensado para o desporto motorizado como um todo, incluindo uma pista de kart, parque tecnológico, hotel cinco estrelas, complexo desportivo e apartamentos. A construção foi concluída em outubro de 2008 e o circuito foi homologado pela FIM em 11 de outubro de 2008 e pela FIA dois dias depois. Além de ter já recebido alguns testes privados com monolugares de F1, a pista portuguesa recebe as SuperBikes, assim como o ELMS entre outras competições internacionais. É também palco de eleição para programas de TV como Top Gear que recorre frequentemente a esta infraestrutura para filmagens.
As pistas apresentam algumas semelhanças nos seus traçados. São ambas rápidas, com curvas de média e alta velocidade, muito fluídas e com mudanças muito interessantes no gradiente de elevação. A velocidade das pistas torna-as muito exigentes a nível técnico e com poucos pontos de travagem mais fortes, exigem coragem nas ultrapassagens. Portimão tem como vantagem ter mais pontos fortes de travagem em relação a Mugello, mas a longa reta da meta da pista italiana poderá favorecer o uso de DRS e tornar as tentativas de ultrapassagens mais eficazes.
Mas nada melhor do que pedir a quem já de facto conhece as pistas para nos dar uma ideia do que os pilotos de F1 poderão encontrar. Começamos por José Rodrigues, que correu no TCR Itália e teve a oportunidade de correr na pista de Mugello, assim como em Portimão no TCR Portugal.
“É excelente termos a hipótese de ter Fórmula 1 no Autódromo Internacional de Portimão. Relativamente ao traçado, acho mesmo muito interessante ver a F1 num traçado tão rápido e ao mesmo tempo muito técnico nas partes mais sinuosas do circuito, podendo ser proveitoso para os melhores carros em termos aerodinâmico. Na minha opinião, é um circuito muito semelhante a Mugello. No entanto, em termos globais o “nosso” Portimão tem infra-estruturas mais modernas que Mugello e muito mais modernas e superiores que Imola. Em termos de traçado Imola, é mítico, tem uma maior mistura entre curvas rápidas e curvas lentas, talvez permitindo maior espetáculo para os atuais monolugares. Pessoalmente, são três circuitos de que gosto muito, tendo boas recordações de lá. Em Itália, só vejo dois/três circuitos além de Monza com condições para receber a F1: Mugello, Imola e Misano. Porém, Misano seria um pouco diferente do que estamos habituados a ver na F1, e por isso ao incluir Misano teríamos de incluir muito mais pistas no lote de opções. Espero que Portimão seja finalmente confirmado.”
César Machado competiu também em Mugello no TCR Itália tendo adorado a pista na altura:
“Mugello é um circuito top, com algumas semelhanças com Portimão. Tem também muitas subidas e descidas. É um circuito de topo e dá muito gozo andar lá. Há algumas curvas que são mesmo “de coração” onde é preciso coragem para andar no limite. Das três pistas onde corri em Itália (Imola, Mugello e Vallelunga), Mugello foi sem dúvida a que gostei mais. Tem uma mistura de curvas muito interessante, uma reta gigante em que, se entrarmos mal na última curva, pagamos caro. O ideal era que a F1 confirmasse a entrada destas duas pistas no calendário. Portimão é também uma pista fantástica, os fãs portugueses já conhecem bem a qualidade da infraestrutura e da pista. Ao nível de exigência, creio que são traçados semelhantes, com zonas mais críticas onde se pode perder ou ganhar muito tempo, numas onde é preciso coração, noutras onde é preciso uma boa afinação do carro. A inclinação da pista nota-se mais em Portimão em comparação com Mugello que, ao contrário da pista portuguesa, não tem curvas cegas.Adorava ver a F1 no nosso país, mesmo que seja à porta fechada. Os pilotos que já lá correram gostaram muito e poderia ser também um impulso interessante para a nossa economia ou pelo menos para a economia local. Mas ficava muito contente se tivéssemos um Grande Prémio português.
Creio que ao nível do espetáculo, Portimão poderá dar mais do que Mugello.”
Pedro Salvador é também outro dos pilotos nacionais a conhecer bem a realidade de ambos os circuitos. O experiente piloto luso já mostrou a sua categoria em ambos os traçados e deixou a sua avaliação:
“Mugello e Portimão são ambas pistas muito boas e interessantes. São pistas rápidas com características para proporcionar boas corridas. Creio que Mugello pode pode dar corridas mais entusiasmantes, pois a grande reta da meta pode facilitar as ultrapassagens, uma vez que a recta da meta de Portimão é mais especifica e poderá não permitir o uso tão eficaz do DRS. Certamente que Portimão parece-me ser a mais espetacular das duas e que poderá dar imagens fantásticas, mas ao nível de lutas em pista talvez Mugello permita mais mudanças.”
No entanto Salvador não se ficou pela análise dos traçados e deixou a sua opinião sobre a vinda da F1 a Portugal:
“Se a F1 vier sem custos para nós, sou o primeiro a aplaudir a iniciativa, mas se a F1 vier com muitas exigências, que depois se vão traduzir em gastos, então aí digo `Não Obrigado`. A F1 vai chegar cá, vai usar as nossas infraestruturas, que são de grande qualidade, certamente fará muitas exigências, depois irá embora e provavelmente não regressará pois a nossa realidade não permite gastar milhões para trazer cá a F1. E qual o retorno que iremos ter com isso? De que forma é que o nosso país e o nosso desporto motorizado vai lucrar com esta vinda? É um pouco como trazer cá a Liga dos Campeões, dá a sensação que recebemos porque mais ninguém quis. Acho que se for para gastar dinheiro no desporto motorizado, há outras formas de o fazer para melhorarmos internamente. Agora se me perguntarem se fico muito entusiasmado por ver a F1 cá? Depende sempre do reverso da medalha e pelo que vejo, não acredito que o retorno justifique o investimento. “
Filipe Albuquerque conhece também a realidade de ambas as pistas
“Mugello é uma pista muito rápida e as curvas mais lentas são de terceira e permitem levar muita velocidade. É um traçado muito engraçado com curvas míticas como são as Arrabbiatas. Acho que pode ser difícil para o espetáculo uma vez que as curvas rápidas poderão dificultar a vidas aos carros de F1, especialmente nas perseguições e nas lutas. Portimão é um traçado mais completo, com curvas mais lentas. O circuito já foi desenhado a pensar em criar pontos de ultrapassagem, como o gancho da Torre por exemplo. Também tem curvas rápidas e portanto em termos de espetáculo tenho a certeza que Portimão pode dar mais nesse aspeto. Mas ambas são muito giras de guiar e é impossível negar a história e o caráter de Mugello.“