F1: Poderá a Ferrari vencer em 2022?

Por a 30 Dezembro 2021 09:18

A Ferrari, depois da sua pior temporada desde 1980, conseguiu este ano recuperar do abismo e dar passos seguros rumo à competitividade, mas poderá estar em 2022 em condições de poder lutar por vitórias e até títulos?

2020 foi um “annus horribilis” para a Ferrari, subitamente a equipa de Maranello tinha a unidade de potência menos performante do pelotão, não interessa agora explicar o que levou a isso, e um carro dimensionado para um nível de potência que já não existia.

Para compor tudo, a pandemia da COVID-19 congelava o desenvolvimento dos

V6 turbo híbridos, e ao nível do chassis as limitações eram bastantes, tendo a monocoque que ser usada em 2020 e em 2021.

O impacto nas pretensões na “Scuderia” era claro – seriam duas temporadas longe da luta por vitórias e ainda mais distante da possibilidade de colocar um ponto final no deserto de títulos – o último, de Construtores, foi conquistado em 2008.

No auge da crise de Maranello, que terá chegado ao seu ponto mais baixo no Grande Prémio de Itália de 2020, foi pedida a cabeça de Mattia Binotto, muito embora o italiano não fosse o principal responsável pela debacle, uma vez que os problemas vinham já detrás.

No entanto, John Elkann e Louis Camilleri seguraram o italiano de Lausanne e isso poderá ter sido determinante para que, depois do fosso de 2020, a Ferrari começasse a recuperar este ano e possa estar em condições de lutar por vitórias na próxima temporada.

Esta decisão da cúpula da “Scuderia” acabou por começar a dar frutos na

temporada deste ano graças a uma abordagem metódica da parte de Binotto.

Ao contrário do que muitas vezes aconteceu no passado, o italiano não rasgou com o passado para começar com uma folha em branco, iniciando antes um período de avaliação no seio de toda a estrutura da formação de Maranello.

Houve alterações na organização da Ferrari com Enrico Cardile a tomar o leme do departamento de chassis, no lugar de Simone Resta, que encontrou guarida na Haas.

Cardile tal como Enrico Gualtieri, o responsável pela área dos motores, reportam diretamente a Binotto, fazendo-se aí a ponte entre os dois departamentos, ao passo que Laurent Mekies, o director desportivo e que trabalhou na FIA; ganhou importância, sendo uma das peças da Ferrari no jogo político típico da Fórmula 1.

Se no campo organizacional se verificou uma evolução por parte da ‘Scuderia’, também na pista este ano os monolugares de Maranello mostraram uma progressão que não se deveu apenas a uma unidade de potência mais bem conseguida, depois da débil solução de 2020.

É claro que o V6 turbo híbrido da última temporada foi um passo em frente relativamente ao seu antecessor, mas no campo do chassis e melhorias foram notórias e sentidas pelos pilotos desde o primeiro momento em que entraram em pista.

Mais importante, os resultados que a equipa estava a obter nos testes de Sakhir, eram consonantes com o que tinha alcançado nas suas ferramentas de simulação. Também ao longo da temporada – na verdade até Silverstone, quando a Ferrari decidiu parar o desenvolvimento do SF21 – as evoluções apresentadas pela equipa foram de encontro às expectativas dos técnicos, sublinhando a boa correlação de dados entre o mundo virtual e o real.

Este foi um ponto fraco da Ferrari nos últimos anos e foi preciso um trabalho extenso e profundo para que as ferramentas de simulação pudessem ser recalibradas, tendo Binotto aproveitado o péssimo ano de 2020 para o fazer, na verdade, não havia nada a perder, portanto, era uma oportunidade que não podia ser desperdiçada.

Também operacionalmente foi possível ver algumas debilidades por parte da Ferrari, com estratégias desacertadas e falhas nas trocas de pneus que custavam posições aos seus pilotos.

Ao longo da presente época assistiu-se a uma melhoria progressiva nestes aspectos e na ponta final de 2021 tantos as paragens nas boxes como as estratégias dos homens da formação de Maranello eram extremamente fiáveis e acertadas.

Mesmo a paragem de Charles Leclerc aquando do Safety-Car Virtual durante o Grande Prémio de Abu Dhabi foi um risco calculado na esperança de poder alcançar algo mais sem qualquer risco para além de o monegasco perder o quinto lugar no Campeonato de Pilotos. Porém, até o piloto de Monte Carlo preferiria arriscar e terminar num hipotético pódio, que

acabou por cair no colo de Sainz, a jogar à defensiva e ver um resultado de relevo fugir-lhe por entre as mãos.

Leclerc voltou a demonstrar ser um piloto de elite e, com um carro competitivo ao seu dispor, já mostrou ser capaz de se bater com qualquer um – o Lewis Hamilton que o diga, após o Grande Prémio de Itália de 2019 – e, depois da temporada de 2021, dificilmente alguém dirá que ao substituir Sebastian Vettel por Carlos Sainz a Ferrari não saiu ganhar.

Na verdade, desde que o SF1000 tocou a pista e mostrou ser um projecto falhado que em Maranello se começou a trabalhar para encontrar todos os problemas que levaram a um monolugar tão fraco para os pergaminhos da equipa mais bem-sucedida da história da Fórmula 1.

Aparentemente, tudo está no sítio certo para que a Ferrari possa volta a lutar por vitórias e mesmo o departamento de motores está agora com a sua capacidade reforçada, basta recordar a forma como conseguiu antecipar a estreia do sistema híbrido de 2022.

Foi o muito criticado Binotto que liderou todo o processo para que a formação de Maranello pudesse chegar a 2022, ano em que é estreado o novo regulamento, com uma dinâmica e com a capacidade para poder regressar aos triunfos, tendo até estreado um novo simulador – segundo os especialistas o mais avançado do mundo da Fórmula 1- isto apesar de

todos os constrangimentos provocados pela pandemia.

Posto isto, está a Ferrari pronta para voltar aos triunfos já em 2022?

Sim, parece ter a estrutura, as ferramentas, os técnicos e os pilotos para isso. Mas num ano em que tudo é novo as incógnitas são muitas, cada equipa tem de lançar os seus próprios desafios e quem for mais ambiciosa e for capaz de lidar com essa ambição será a que no início de 2022 estará em melhor posição para vencer… Veremos quão ambiciosa será a Ferrari…

Subscribe
Notify of
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments
últimas Destaque Homepage
últimas Autosport
destaque-homepage
últimas Automais
destaque-homepage
Ativar notificações? Sim Não, obrigado