F1, Opinião: Vettel, um mau embaixador para a F1

Por a 18 Maio 2022 09:30

A recente passagem de Sebastian Vettel por um programa político inglês causou furor, sobretudo entre os media anglo saxónicos, mas o alemão acabou por ser injusto com a Fórmula 1, a competição que lhe permitiu chegar aos palcos a que hoje consegue chegar.

O piloto da Aston Martin foi recentemente convidado do programa da BBC Question Time, um espaço de debate político em que os convidados respondem a perguntas dos espectadores em estúdio.

Vettel abordou temas como a Guerra da Ucrânia, o Brexit, o aumento do custo de vida no Reino Unido e, claro, as alterações climáticas, assim como os tipos de energia que hoje são usados e devem ser usados no futuro, temas caros ao tetracampeão do mundo.

Quando questionado pela pivot sobre se não se sentia hipócrita por falar tanto no uso de energias sustentáveis quando participava num campeonato que queimava combustíveis fósseis, Vettel não se deteve, respondendo: “sim, sinto, sinto. E está certa por se rir. Há questões que me coloco todos os dias. Não sou um santo. Estou preocupado quanto ao futuro destes tópicos, energia, a dependência da energia e para onde vamos no futuro”.

É evidente que todos os pilotos têm direito à sua opinião e claro que Sebastian Vettel não foge a isso, mas talvez lhe ficasse bem explicar ao mundo, e no caso a telespectadores britânicos que não seguem necessariamente a Fórmula 1, o que a categoria máxima tem feito e o que vai fazer para combater as alterações climáticas e como está a criar tecnologia que estará depois disponível a todos para alcançar a neutralidade carbónica.

Poderia ter chamado a atenção para as atuais unidades de potência dos monolugares de Fórmula 1 que são os motores a combustão mais eficazes da história do automóvel.

Poderia ter apontado que a Fórmula 1 é um dos melhores – senão o melhor e seguramente melhor que a Fórmula E – laboratórios para a evolução das baterias para indústria automóvel e não só.

E tinha a possibilidade de ir mais além, e chamar a atenção para os esforços que estão a ser feito ao nível dos combustíveis, estando planeado para 2026 o uso exclusivo de carburante completamente sustentável e sem recurso ao petróleo.

Ou de sublinhar que o Campeonato do Mundo de Fórmula 1 está a trabalhar para alcançar a neutralidade carbónica em 2030 e que hoje já não se usa plástico no paddock.

Tudo isto Vettel poderia ter usado para rebater a crítica velada da sua interlocutora e esgrimir que a sua participação no pináculo do desporto automóvel ajuda a sociedade a caminhar no sentido da sustentabilidade a diversos níveis.

No final, o alemão preferiu ir pela perceção geral de que o desporto automóvel é um hobbie com custos elevados para o ambiente e, logo, para a sociedade, quando na verdade outros desportos, muitos deles vistos como ecológicos, têm custos bem superiores, basta recordar o que se passa com o Tour de France, umas das competições com maior pegada ecológica.

Vettel, que foi convidado para o programa em questão devido à sua relevância enquanto piloto de Fórmula 1, foi um péssimo embaixador da categoria, contribuindo para os habituais clichés que afligem o desporto automóvel em vez de os desmistificar.

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