F1, Opinião: O que esperar dos novos Directores de Corrida
A Fórmula 1 entra no próximo fim-de-semana numa Nova Era, com o novo regulamento técnico, mas também a Direção de Prova terá um corte com o passado, com novos Diretores de Prova e VAR. É uma nova abordagem que espero que traga mais clarividência nas decisões sobre os atos em pista dos pilotos, como passo a explicar.
Depois do que se passou no Grande Prémio de Abu Dhabi do ano passado, era impossível que tudo ficasse na mesma, não interessa agora discutir se as decisões de Michael Masi foram acertadas ou não, o australiano dificilmente se poderia manter no lugar, tal a polémica que se verificou.
Como sabemos, Masi foi substituído por Eduardo Freitas e Niels Wittich, que se revezarão no cargo, assistidos por Herbie Blash, que será conselheiro, e por uma direção de corrida virtual – semelhante ao VAR do futebol – que ajudará o diretor de prova na tomada de decisões.
Existe, portanto, uma organização mais robusta para deliberar de uma forma mais sustentada, desejando-se, por isso, também mais acertadas.
O que eu gostava de ver era mais consistência nas decisões, que deixassem os pilotos lutar sem grandes intromissões e que os limites da pista fossem verdadeiramente policiados.
O ano passado assistimos a grandes inconsistências nas decisões dos comissários desportivos.
Os exemplos mais gritantes foram as penalizações a Lando Norris e a Sérgio Pérez no Red Bull Ring, que não deram espaço no exterior quando eram atacados por fora, sendo penalizados, ao passo que Max Verstappen em Interlagos, escolheu não travar para a Curva do Lago, quando Lewis Hamilton o tentava ultrapassar por fora, obrigando este a ir para a escapatória, não sofrendo qualquer chamada dos comissários.
São este tipo de incoerências que gostava de ver supridas esta temporada.
Aliás, o episódio da prova brasileira é paradigmático.
O piloto da Red Bull, atual Campeão do Mundo, escolheu não fazer a curva, seguindo em frente, para obrigar Hamilton a fazer o mesmo e, assim, proteger a sua liderança.
Estas são as ações que gostava de ver penalizadas exemplarmente, dado que houve um propósito, não foi uma ação resultante de querer disputar uma posição, ou defendê-la, foi uma manobra tática que ultrapassou aquilo que é admissível.
Muito diferente do que se passou em Silverstone ou Monza, tendo como protagonistas os mesmos intérpretes.
Nestas duas situações, que resultou em toques entre ambos – abandonando Verstappen no circuito inglês e os dois no italiano – nenhum deles tinha como objetivo colocar o outro fora de pista, ambos apenas tinham como propósito suplantar o seu adversário, acabando o contacto por ser um resultado disso mesmo, ao nenhum deles querer ceder.
Estas são os tipos de situações em que não me parece que o Diretor de Prova e os comissários desportivos devam entrar em ação.
São situações normais de corrida e terão de ser os pilotos a resolver entre eles estas situações sem que existam interferências externas.
Outra questão que gostaria de ver resolvida definitivamente é a questão dos limites de pista, que é um problema que acaba por beneficiar os pilotos menos afoitos e precisos.
Neste caso, Eduardo Freitas tem uma visão clara, sobretudo se mantiver a postura que tem vindo evidenciar no Campeonato do Mundo de Endurance.
Os limites são as linhas brancas que delimitam a pista, se um carro tiver com as quatro rodas para lá delas, está fora de pista e, portanto, tem de ser penalizado.
Vou até mais longe, os circuitos deveriam ter formas de impedir que os pilotos ultrapassassem os limites da pista, ou se o passassem seriam imediatamente penalizados – podia ser uma faixa de relva de dois metros ao longo de todo o circuito; se alguém chegar a essa zona, perde tempo imediatamente, sujando os pneus no processo, tendo uma penalização automática sem qualquer intervenção externa.
Estas são as áreas em que gostaria de ver uma evolução relativamente ao ano passado no que diz respeito a intervenção da Direção de Corrida e dos comissários desportivos, julgo que teríamos corridas mais justas e, claro mais entusiasmantes.
O título do artigo é sobre o que esperar dos novos directores de corrida e depois mistura atribuições do DP com atribuições do Colégio de Comissários Desportivos. A bem do leitor menos informado, convém o AS separar as águas e não promover confusão entre esses dois órgãos.