F1, opinião: Devemos esperar para perceber se ‘fosso’ entre equipas de topo e restantes aumentou
O pelotão da Fórmula 1 poderá ver aumentada a margem que separa as equipas do topo da classificação – Red Bull, Ferrari, Mercedes, McLaren e Aston Martin – e as restantes estruturas, criando dois níveis diferentes e com mais dificuldade destes se alterarem até ao final do atual ciclo regulamentar. Segundo os primeiros sinais revelados nos Grandes Prémios do Barém e da Arábia Saudita, a diferença de desempenho entre as equipas de cima da tabela e as equipas que compõem o resto do pelotão parece estar a aumentar.
As palavras de Nico Hülkenberg no final da corrida saudita, servem um pouco de argumento a este cenário. O piloto alemão lembrou que as oportunidades para somar pontos são mais raras e equipas como a Haas – onde podemos colocar neste momento também a Williams, RB e Sauber – terão de aproveitar quando um carro (ou mais) das equipas da frente tem problemas durante a corrida. Aconteceu isso mesmo com Lance Stroll, que desistiu após acidente. Se isso não acontecer, deverá acontecer uma repetição da classificação do Barém, onde cinco equipas ‘reservaram’ para si os dez primeiros lugares.
Em 2023, a Alpine estava muitas vezes em ‘terra de ninguém’, servindo quase de ponte que ligava as equipas da frente do pelotão e as restantes, na iminência de poder pontuar, mas também disso não acontecer. Com a queda do desempenho que tem marcado o início de temporada dos franceses – a Alpine poderá apresentar um plano de desenvolvimento muito agressivo que os coloque noutra posição que não no fundo da classificação, num cenário semelhante à McLaren, mas neste momento é a equipa mais lenta das 10 e o caso parece um pouco mais sério do que aconteceu com os britânicos em 2023 – deixou de existir, pelo menos nas duas primeiras corridas do ano, uma equipa que se coloque entre os referidos dois níveis dentro do pelotão.
Quererá dizer que os regulamentos – técnicos e financeiros, principalmente – falharam? Nem por isso. Se tivermos como exemplo o que aconteceu em 2023, quando a Aston Martin começou a temporada muito forte, mas depois teve algumas contrariedades quando apresentaram as suas mais limitadas atualizações, caindo na classificação, enquanto a McLaren apresentou uma trajetória diferente, passando a discutir pódios. Este cenário também pode ser replicado em 2024 e até em 2025, último ano deste ciclo regulamentar.
Além disso, os dados do Barém e de Jidá, em alguns casos, parecem díspares. Por exemplo, a Aston Martin pareceu melhor em ritmo de corrida em Jidá do que no Barém. Ao mesmo tempo que a estratégia delineada pela Haas para somar um ponto com Hülkenberg, com Kevin Magnussen a atrasar deliberadamente os carros adversários atrás de si, não permitiu perceber o que pode fazer a Williams RB e até a Sauber, se bem que neste caso, os problemas nas paragens para trocas de pneus nas duas provas tenham sido muito prejudiciais para Valtteri Bottas e Zhou Guanyu.
Se tivermos em conta as palavras de Jock Clear, engenheiro muito experiente e que está ainda à frente do programa de jovens pilotos da Ferrari – possivelmente até à chegada de Jérôme d’Ambrosio, que deixará a Mercedes – devemos esperar até ao fim de semana do GP do Japão para perceber melhor as dinâmicas dentro do pelotão.
A prova na Austrália deverá dar mais respostas, mas a pista de Suzuka apresenta-se como um traçado mais revelador daquilo que é realmente a ordem de forças dentro do pelotão. Realizando-se normalmente na segunda metade do ano, a prova nipónica acontece esta temporada em abril (entre os dias 5 a 7), sendo mais desafiante e com outras características que não se assemelham aos três circuitos de início de temporada.
Para já, e é preciso insistir que apenas se realizaram duas provas, a estabilidade regulamentar deu-nos uma imagem da frente do pelotão muito parecida com aquela que vimos no final da temporada passada, apesar de todas as equipas terem melhorado o seu desempenho, com exceção da Alpine. Red Bull está na frente, seguida da Ferrari, com McLaren e Mercedes atrás, enquanto a Aston Martin apresenta-se a fechar este top 5. No entanto, mais atrás, é mais complicado traçar um retrato fiel.
O que para já podemos aferir, é que essas equipas têm muitas dificuldades de poder surpreender e surgir na luta pelos pontos.
Foto: Mark Thompson/Getty Images/Red Bull Content Pool