F1: O que aconteceu para Hamilton e Leclerc serem desclassificados?
A Mercedes e a Ferrari tiveram cada uma delas um dos seus monolugares desclassificados horas após o final da corrida do Grande Prémio dos EUA, fruto do desgaste excessivo da prancha no fundo (plank em inglês). Lewis Hamilton perdeu o segundo lugar alcançado em pista, enquanto Charles Leclerc, depois de uma corrida com apenas uma paragem para troca de pneus, ficou sem o sexto posto. Mas porque terá acontecido esta infração em dois carros de equipas diferentes e para que serve este componente?
Importa referir que o surgimento do ‘plank’ na Fórmula 1 se deu no período seguinte ao acidente fatal de Ayrton Senna em Imola em 1994, como um componente de segurança, prevenindo desta forma que as equipas não coloquem os monolugares com uma altura ao solo tão baixa quanto poderiam desejar. Sabemos que quanto mais “colado” ao asfalto um monolugar de Fórmula 1 estiver – menor a altura ao solo – mais ‘downforce’ cria e daí se retira um melhor desempenho. A prancha – que curiosamente não é de madeira como muitos julgam, mas sim de um material criado com fibra de vidro e resina – está montada na linha central do fundo trabalhado dos atuais monolugares, tendo como espessura obrigatória pelo regulamento 10mm +/- 0.2mm “e deve ser uniforme quando nova”, sendo aceitável devido ao uso após cada corrida “uma espessura mínima de 9mm”. Menos do que isso, a desclassificação é a sanção mais usual para esse caso.
O desgaste é medido através de uns orifícios em locais pré-definidos que são efetuados na superfície da prancha, preenchidos com uma liga de titânio (designados por skid e que resultam nas faíscas que vemos por vezes a sair por baixo dos monolugares), sendo também pesado este componente no início de cada fim de semana, havendo depois uma comparação com o seu peso no final, sabendo-se, através destes dois processos, se o ‘plank’ sofreu mais desgaste do que o máximo permitido e se a configuração da equipa para o monolugar foi a causa principal.
As pranchas são ainda mais necessárias desde 2022, uma vez que o efeito solo da atual geração de monolugares exige mais atenção para não permitir exageros a cada uma das equipas com as suas afinações para os fins de semana de corrida. Um carro mais próximo do solo aumenta o risco de instabilidade aerodinâmica e mecânica, podendo resultar num acidente grave como vimos no passado da F1 e que obrigou ao surgimento deste componente.
Para constatar que a ‘plank’ tem cumprido a sua função, basta ver o baixo número de desclassificações por desgaste excessivo da prancha no final das corridas, sendo ainda mais estranho acontecer a dois carros diferentes na mesma corrida.
As verificações técnicas pós-corrida são realizadas de forma aleatória, sendo mais incisiva nos carros que terminam nos primeiros lugares da classificação, sendo ainda recolhidas amostras de combustível e óleo, realizados testes de resistência das asas, etc.. Ao desgaste dos ‘skids’ das pranchas também. E foi nesse particular que os carros de Hamilton e Leclerc foram apanhados.
O facto de existir o formato de Sprint no “ondulado” traçado de Austin pode explicar a infração, mas parece mais do que claro que a Mercedes e a Ferrari exageraram na altura ao solo dos monolugares do britânico e do monegasco. Com os carros em parque fechado desde sexta-feira é mais difícil perceber que houve um exagero nesse sentido, mais ainda porque a Sprint é realizada com cargas de combustível completamente diferentes. Na Fórmula 1 todos os pormenores contam. Os compostos de pneus usados na corrida de domingo foram diferentes dos de sábado, ao mesmo tempo que os carros carregaram mais combustível para as 56 voltas do GP, tendo tido apenas um treino livre para se perceber como funcionavam os carros em ‘stints’ longos e simulações de qualificação. Foi um duro golpe para Lewis Hamilton e Charles Leclerc, que sem culpa perderam os pontos conquistados, mas o regulamento é claro sobre este tema, não havendo, como acontece noutros casos, lugar a muitas dúvidas. A desclassificação era o cenário mais provável quando o Delegado Técnico da FIA enviou para o Colégio de Comissários Desportivos a sua constatação dos factos.
Falta saber se mais carros estariam nas mesmas condições, uma vez que é impossível à FIA aferir todos os concorrentes nas suas verificações técnicas, e se a desclassificação de ambos os pilotos levará a uma nova discussão sobre o tempo necessários para as equipas testarem todas as soluções de afinação para os fins de semana de Sprint.
Foto: Philippe NANCHINO/MPSA
O regulamento é claro mas anacrónico. Mantêm-se a fórmula, quando foi mudado o formato de alguns GPs, passando a haver menos treinos livres, mais qualificações e sprint+race… com muita retenção em parc fermé.
Se tivessem verificado mais carros, quantos mais estariam condenados?
Aí ia haver um grande choque e debate.