F1, O passo atrás da Ferrari: Fumo com (ou sem) fogo?
Bastou o primeiro Grande Prémio do ano para perceber que a Ferrari está em muitos maus lençóis, e por muitas explicações que Mattia Binotto esteja a tentar dar, falando por exemplo da má correlação dos dados do túnel de vento com a pista, a verdade é que se por vezes os números que se extraem de determinadas situações nunca dizem tudo, desta feita dizem mesmo muito. Olhando para diversas métricas, a Ferrari caiu fortemente de desempenho em qualificação, ritmo da corrida e em velocidade em reta.
Mesmo admitindo que o SF1000 está mais rápido em curvas do que no ano passado, o que é um dado mais facilmente comprovado na Hungria, há ali qualquer coisa que não ‘bate bem’, e não deve haver muitos observadores que não apontem para o motor.
A Ferrari está mal não só em qualificação como em ritmo de corrida, e apesar do excelente segundo lugar de Charles Leclerc na primeira corrida da Áustria, é fácil olhar para os números e concluir que essa posição é muito, mas mesmo muito afortunada. Senão vejamos.
Em termos de performance pura, na qualificação, percebe-se que a Ferrari está em quinto lugar, atrás da Mercedes, Red Bull, McLaren e Racing Point. Comparando com 2019, a Ferrari piorou 0.9s em qualificação, enquanto a Mercedes melhorou mais de meio segundo, um enorme passo atrás e se pensarmos no que pode ter causado essa situação, é quase impossível não a atribuir a algo que a Ferrari tinha o ano passado e agora não tem.
E o que tinha que agora não tem? Na reta da meta de Spielberg, a Ferrari registou o ano passado 291.1 Km/h, este ano quedou-se pelo 286.3 Km/h. No ponto mais rápido do primeiro setor da pista austríaca, a Ferrari conseguiu o ano passado uma velocidade de 327.9 Km/h enquanto este ano se ficou pelos 323.8 Km/h.
As razões. Este foi o primeiro Grande Prémio de F1 depois da FIA ter acabado com os truques do fluxo de combustível e da queima de óleo. A Ferrari sempre insistiu que nunca fez nada de errado e os seus motores nunca estiveram ilegais mas a verdade é que fizeram um acordo com a FIA, e não aceitam que os detalhes desse acordo sejam tornados públicos, alegando propriedade intelectual.
Logicamente que toda a gente, e não só os responsáveis das sete equipas que não usam motores Ferrari, entendem que “ali há gato”.
A Ferrari defende-se com a aerodinâmica, alegando a ‘tal’ falta de correlação, e isso pode ser verdade, pois todos sabíamos que a aerodinâmica de 2019 não era o ponto forte da Ferrari. Era a velocidade máxima. Vejam-se os triunfos de Monza e Spa.
Olhando para os quadros abaixo, percebe-se facilmente quem perdeu, face a 2019, e daí a concluir qual é o denominador comum. Para piorar tudo, os motores estão congelados até 2021…
Agora resta saber o ‘package’ que a Ferrari vai trazer já no próximo fim de semana e vai ser muito interessante perceber como mudarão os números. Para já, olhando para as duas qualificações de 2019 e 2020, veja-se a coincidência de todas as equipas com motores Ferrari terem piorado. Prepare-se para as cenas dos próximos capítulos…