F1: O estranho caso da Silly Season 2020

Por a 13 Maio 2020 17:45

A Silly Season de 2020 prometia muito, depois ameaçou ser muito calma e agora, virou o jogo de cabeça para baixo. O mercado irá promover mudanças profundas no grid para 2021.

E depois da calma, veio a tempestade de novidades e especulações. A Silly Season corria ao ritmo da paragem motivada pela crise pandémica, com apenas alguns rumores aqui e ali. Mas os meses de maio, junho e julho prometem muitas novidades com as equipas a querer resolver os dossiers das contratações e renovações.

A Silly Season começou em grande, com os rumores da possível ida de Lewis Hamilton para a Ferrari. O piloto tem o recorde de Michael Schumacher ao seu alcance e uma passagem pela Ferrari poderia estar nos planos do britânico, que tentaria assim ser campeão em três equipas diferentes. Hamilton apanhou o gosto por bater recordes e não é descabido pensar que queira juntar mais esse ao seu já vasto portfolio de conquistas.

Por um lado Hamilton tem na Mercedes a sua “casa”, tendo estado ligado desde sempre à marca germânica. É sem dúvida a melhor equipa, que produz os melhores carros e com a liderança ideal para o seu estilo de vida. Na Mercedes é feliz, mas a vontade de vestir o vermelho Ferrari existe. Uma peça importante neste quebra-cabeças é Toto Wolff que também poderá estar de saída. A sua saída implicaria uma menor vontade de Hamilton em continuar na Mercedes. Mas os últimos rumores dizem que se a Ferrari quisesse, já poderia ter contratado Hamilton. O dinheiro não é problema e o impacto mediático certamente compensaria o investimento, além de Hamilton garantir resultados em pista. Mas a Ferrari preferiu renovar logo com Charles Leclerc, num contrato de longa duração, e fazer dele o homem para o futuro. E essa aposta não parece compatível com a ida de Hamilton e talvez por isso o negócio não tenha avançado.

Com a ida de Hamilton para a Ferrari cada vez menos provável, o mercado virou-se para Leclerc e Max Verstappen, dois jovens talentos e as grandes estrelas do futuro da F1. Leclerc assinou logo com a Ferrari e por isso foi passou a ser carta fora do baralho, mas Verstappen viu o seu nome ser associado a uma possível ida para a Ferrari ou Mercedes. A especulação também depressa terminou e a Red Bull puxou da carteira grande para convencer o jovem holandês para ficar na equipa.

Os atores principais da Silly Season 2020 estavam assim a sair um por um do palco, mas faltava Sebastian Vettel. O alemão vinha de duas época negativas na Ferrari, e via Leclerc assumir-se como estrela da equipa, ficando para segundo plano. O discurso de Vettel mostrava vontade de ficar e de conquistar o título pela Ferrari, mas as conversas com as chefias da Scuderia não terão agradado ao tetra campeão. E de repente o cenário da permanência de Vettel é rasgado de cima a baixo e eis que chegamos ao início desta semana.

Vettel está fora da Ferrari em 2021 e um dos lugares mais cobiçados está vago. Os principais candidatos são Carlos Sainz e Daniel Ricciardo. Mas a lista de nomes é bem maior e conta com Valtteri Bottas, Antonio Giovinazzi, Fernando Alonso, Nico Hulkenberg. Até Daniil Kvyat é referenciado. Hamilton é também uma opção, mas se a Ferrari quisesse mesmo o britânico já o teria feito.

A Ferrari tem a faca e o queijo na mão, mas parece com pressa de resolver a questão. E isso torna a situação estranha. A Ferrari poderia esperar um pouco mais pelo início da época para tentar entender as suas opções. Para entender se Giovinazzi poderia ser o escolhido, se Sainz iria manter a forma, se Ricciardo estaria em melhor forma ou até se Bottas tinha estofo para entrar na Scuderia. Mas a Ferrari parece determinada em resolver já o assunto e, da dupla de pilotos referida com mais frequência, parece ter escolhido o piloto que menos mostrou até agora.

Ninguém duvida do valor de Carlos Sainz, mas tem apenas um pódio no seu currículo enquanto Ricciardo tem vitórias em seu nome e já mostrou que pode ser um candidato ao título. Se for confirmada a opção Sainz, a Ferrari faz algo inédito que é ter uma dupla com média de idade de 23 anos com currículos curtos. O que está a tentar a Ferrari? Os italianos costumam escolher pilotos com experiência e créditos firmados. A escolha Sainz parece ir contra a filosofia da Scuderia.

A situação de Vettel é também confusa. O alemão não está interessado em dinheiro e já disse que queria um projeto interessante onde possa ter um papel principal. McLaren e Renault são as hipóteses mais fortes, pois Mercedes com Hamilton torna-se impossível assim como a Red Bull com Verstappen. A McLaren parece a opção mais forte, mas os rumores de hoje afirmam que a equipa de Woking tem acordo com Ricciardo. A lógica diria que o alemão seria a primeira escolha da McLaren, mas parece ser Ricciardo o escolhido. Significa isto que Vettel está de saída ou vai para a Renault?

Por falar em Renault, a confirmar-se a saída do australiano, é um golpe no ego da equipa que não conseguiu convencer aquele que seria o seu piloto nº1 a ficar. Isso coloca em causa a imagem do projeto, revela dúvidas sobre o potencial e mais que isso, dá uma dor de cabeça à equipa. Se Ricciardo sair, quem entra? Vettel tem de ser encarado como hipótese, mas depois disso as opções são diminutas. É difícil ver Alonso regressar à F1 para ingressar na Renault. Nico Hulkenberg pode tornar-se hipótese, mas as opções são menores para a marca do losango. Christian Lundgaard é falado como hipótese, mas para um projeto como o da Renault, ter Esteban Ocon e Lundgaard na equipa não será o ideal.

Outra peça que se pode tornar importante é Valtteri Bottas. O piloto também está em fim de contrato e a Mercedes teve dúvidas em renovar com o finlandês para 2020. Os germânicos deverão esperar mais um pouco e ver como Bottas se apresenta em pista este ano, mas tem em George Russell um jovem cheio de talento, potencial e com a postura certa para uma equipa de topo. Se Bottas ficar sem lugar, a Renault poderá aproveitar para tentar acertar com o #77 e uma nova “onda de choque” pode mudar ainda mais o cenário da F1.

Outro finlandês que está em fim de contrato é Kimi Raikkonen, o mais velho do grid. Nada diz que o Iceman tem vontade de sair, mas também ninguém garante que ficará, pelo que se pode abrir uma vaga na Alfa Romeo. Também na Haas Romain Grosjean está no último ano, assim como Kevin Magnussen. Aqui depende muito do que a Haas quer fazer e se pretende ou não ficar na F1. A Williams terá de esperar e ver se Russell fica ou não, sendo que Nicholas Latifi deverá ficar na equipa. A única estrutura que não entra nestas contas é a Racing Point que tem contrato assegurado com Pérez por mais três anos e Stroll… há de ficar enquanto o pai estiver à frente a operação. Do lado da Alpha Tauri os pilotos têm contrato com a Red Bull e a única mudança que se pode vislumbrar é a troca de um dos homens da “equipa b” da Red Bull por Alex Albon, se este não confirmar o potencial que mostrou em 2019.

O Grid de 2021 promete ser muito diferente do atual e o efeito dominó da saída de Vettel da Ferrari pode ganhar proporções significativas.

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