F1: O dilema de Daniel Ricciardo

Daniel Ricciardo é o piloto mais descontraído e boa onda da F1. A sua postura tem conquistado muitos fãs e assenta que nem uma leva ao espírito da Red Bull, que no início era também uma equipa com uma forma de estar diferente e mais… leve. Os títulos consecutivos de Vettel trouxeram um pouco mais de seriedade mas a entrada na era turbo-híbrida diluiu o domínio conquistado e a Red Bull teve de passar a correr atrás do prejuízo.

A saída de Mark Webber abriu a porta a Ricciardo que aos poucos conquistou uma equipa que estava completamente virada para Vettel, um feito só por si digno de nota. O australiano conciliou o desempenho dentro de pista com uma atitude que agradou a muitos fora do carro. O sorriso está sempre presente e sente-se que Ricciardo sabe que no fundo é um privilegiado por estar na F1 e a cumprir o seu sonho. Ricciardo trouxe de volta a Red Bull irreverente e de espírito jovem. Foi ele que manteve a equipa no topo desde a sua entrada em 2014.

Mas se já conquistou o respeito do colegas e a admiração dos fãs, falta-lhe conquistar o tão ambicionado título. Até agora, Ricciardo conquistou 5 vitórias e  27 pódios,  o que não é mau, mas é claramente pouco para um piloto com a sua qualidade. Ricciardo tem capacidade para lutar por títulos, e o próprio saberá disso. É talvez esse o motivo pelo qual ainda não renovou pela Red Bull.

Ricciardo tem 28 anos e sente que o próximo contrato tem de ser o certo para tentar ser campeão. Qualquer equipa veria a chegada do australiano com bons olhos mas Ricciardo sabe que tem de escolher muito bem o seu próximo alvo pois caso contrário poderá tornar-se noutro “Alonso” mas ainda sem os títulos do espanhol. Mas mesmo as hipóteses que tem pela frente não são tão certas quanto parecem.

Vettel disse na primeira conferência de imprensa do ano que não se importaria de ter Ricciardo como colega de equipa. Uma coisa é o que se diz outra é o que se pensa e depois da primeira experiência na Red Bull, Vettel não deverá arriscar, numa fase em que é a estrela da Scuderia. E depois há Leclerc. O jovem prodígio vem do programa de jovens pilotos da Scuderia e a marca teria todo o interesse em aproveitar o seu talento. Raikkonen ainda tem o que é preciso para garantir muitos pontos à Ferrari mas parece ter cada vez menos a capacidade para incomodar Vettel. Criou-se um equilíbrio que beneficia a equipa e Ricciardo viria acabar com a harmonia vigente. Há quem diga que o o mais certo é que, se Kimi quiser fazer mais um ano, a Ferrari fará novo contrato, enquanto espera pelo processo de maturação de Leclerc (ou se deslumbrar este ano, pode ter a vaga já em 2019). Apenas na hipótese pouco provável de Vettel ter um ano mau e a Ferrari abdicar dos serviços do alemão é que a opção Ricciardo seria encarada como prioritária. Mas é um cenário muito difícil de acontecer.

Há também a opção Mercedes. Bottas tem apenas contrato até ao fim do ano e são muitos os que duvidam que Bottas consiga manter o lugar na Mercedes. Embora estejamos apenas no início do ano a primeira amostra deixou muito a desejar. Ricciardo na Mercedes seria excelente ao nível de marketing mas um novo pesadelo ao nível da luta de egos. A equipa ficou muito desgastada com o confronto Hamilton vs Rosberg e com Ricciardo o cenário deverá ser o mesmo. Será que Hamilton quererá ter um novo confronto tão duro? E depois há também Ocon e Russel, dois jovens com muita qualidade que a Mercedes não quererá desperdiçar. E enquanto Hamilton estiver na equipa, a vontade de desestabilizar o piloto que conquistou 3 títulos com a equipa deve ser mínima.

Por fim a Red Bull. Ficando onde está, Ricciardo terá quase de certeza chassis com muita qualidade mas o problema está no motor. A Renault demora a igualar a potência das adversárias e a Honda… é um grande ponto de interrogação. O ano começou com novas promessas de fiabilidade mas a primeira corrida já teve um motor que vai para o lixo, numa triste repetição do passado recente. Ficando na Red Bull, Ricciardo sabe que poderá não ter as mesmas armas para lutar por títulos nos próximos 2 anos pelo menos. Além disso Vertappen é olhado como o futuro da equipa e já não era a primeira vez que a Red Bull prestava um serviço de menor qualidade a um australiano.

Ricciardo é um piloto de top e merece claramente um carro para lutar por títulos.  O piloto tem de perceber muito bem o que o futuro pode reservar e o que quer para si. Para já a Mercedes poderá ser o destino, isto caso decida mudar de ares. Mas na F1 tudo muda rapidamente e quem sabe o guião muda de forma radical e temos um surpresa? Mas a ver Ricciardo campeão de F1 seria algo que qualquer fã veria com bons olhos.