F1: O caminho de Portugal até o regresso ao calendário

Por a 19 Janeiro 2021 10:30

No ano passado vivemos o que muitos apenas sonhavam. O regresso da F1 ao nosso país aconteceu 24 anos depois, graça à maldita pandemia. A mesma pandemia que tanto nos agasta poderá voltar a colocar Portugal na rota da F1.

De um sonho distante a uma realidade inesperada. Foi assim que vivemos a vinda da F1 a Portugal. O Grande Circo teve de reformular o calendário de 2020 por causa da pandemia e a Europa, casa mãe da F1, tornou-se no seu abrigo mais seguro e organizar o calendário em solo europeu transformou-se numa necessidade pela facilidade e flexibilidade que isso permitia aos organizadores. De um momento para o outro, Portimão passou a ser hipótese real e poucas semanas depois foi confirmado como a 12ª ronda do calendário 2020.

Era a oportunidade perfeita para mostrar o fantástico traçado do Autódromo Internacional do Algarve ao mundo. A infraestrutura já tinha sido elogiada anteriormente e já tinha recebido grandes competições internacionais mas longe de terem o impacto mediático da F1. Quem já viu os carros a percorrerem o traçado algarvio não podia deixar de imaginar o que seria ver os carros mais rápidos do mundo neste carrossel de asfalto. Qualquer amante de automobilismo se apaixonaria facilmente pelo AIA e a F1 não seria exceção. O fim de semana do GP de Portugal mostrou ao mundo uma pista que se tornou num desafio tremendo para pilotos e que conquistou milhões de fãs em todo o mundo, com as reações nas redes sociais a serem unânimes.

Abriu-se uma porta que estava fechada. A F1 voltou a aprender o caminho para Portugal e descobriu uma pista que proporciona um espetáculo visual e desportivo de grande qualidade. A esperança de que o nosso país voltasse a ser escolhido para o calendário de 2021 cresceu, pois temos tudo o que a F1 e os fãs querem ver numa corrida. Mas o primeiro rascunho do calendário 2021 trouxe de volta a dura realidade e Portugal parecia estar mais longe da F1, algo que foi confirmado com a ratificação das datas, mesmo com uma vaga que permanecia aberta, depois do Vietname ter ficado novamente de fora. Os rumores “atribuíram” essa vaga a Portugal ou a Imola, que já há muito manifestava o desejo voltar a ter a F1 a tempo inteiro. A pista italiana foi confirmada semanas depois.

Mas a maldita pandemia que tanto nos continua a tirar, voltou a ganhar força, alastrando de forma implacável, obrigando a restrições mais apertadas e confinamentos, que são um entrave à F1. Era preciso voltar novamente a alterar a agenda e a Austrália foi a primeira “vítima”, vendo a sua prova ser adiada. O caso da China foi o mais drástico, sendo a prova cancelada, à espera de uma vaga que muito provavelmente não chegará. As organizações dos circuitos citadinos também estão com pouca vontade de gastar dinheiro nas montagens, sem que as provas sejam confirmadas o que é praticamente impossível neste cenário tão volátil. Assim a solução encontrada em 2020 voltou a ganhar força… apostar em circuitos europeus, já prontos a receber a F1. Com essa mudança de filosofia, a hipótese Portimão ganhou muito mais força

Portimão foi uma pista que agradou às equipas de F1. O AutoSport sabe que nesta questão do calendário da Fórmula 1 para 2021, a Liberty Media já antevia que, pelo menos a primeira parte do ano pudesse ser afetada pela pandemia e por isso no final do ano as 10 equipas foram questionadas com uma pergunta era simples: “Se tivessem que voltar a um dos novos circuitos, qual escolhiam?”. Todas responderam Portimão! Nem a Alpha Tauri disse Imola, ou a Ferrari, Mugello. Portimão foi unânime.

É um circuito moderno, tem instalações muito mais próximas do que a Fórmula 1 está hoje em dia habituada, o traçado, já se percebeu, é desafiador para os pilotos, e por isso é natural que o AIA tivesse reunido as preferências. O que não se esperava era um resultado de 10-0. A esta vontade junta-se os rumores cada vez mais insistentes da imprensa europeia especializada de que Portimão está na calha para regressar, com a data de 2 de maio a ser apontada. A escolha de Portimão facilita a logística, uma vez que a prova seguinte será em Barcelona uma semana depois. A deslocação seria apenas um “salto” comparado com outras que a F1 faz regularmente, poupando nos transportes e no desgaste do pessoal.

Mas a vinda da F1 para Portugal ainda depende de vários fatores. O AIA necessita de atualizações que custam três milhões de euros. Esse investimento necessita de uma fonte de receita que passaria pela bilheteira, mas é praticamente impossível pensar numa prova europeia a receber público nos primeiros meses do ano. Se por um lado a FOM consegue poupar muito dinheiro ao fazer provas em solo europeu, também perde se as mesmas provas não receberem público. Portimão, Mugello só poderão pagar se receberem público, uma hipótese remota, pelo que a F1 anda a sondar outras opções que possam garantir retorno.

A máquina da F1 vive do dinheiro e apesar de todos na organização reconhecerem a valia das novas pistas introduzidas em 2020, ninguém se esquece que a sobrevivência do desporto depende do que fatura. A Liberty precisa das 23 corridas para receber o valor completo das transmissões TV que representa aproximadamente 35% da receita. Bahrein, Rússia Singapura, EUA, México, Arábia Saudita, Austrália e Abu Dhabi são as pistas que mais contribuem para o bolo de receitas do Grande Circo. Só a Arábia Saudita, Bahrein e Abu Dhabi contribuem com mais de 200 milhões de dólares, três corridas que significam 35%, com as restantes corridas a perfazer o resto do bolo. É um equilíbrio precário que os responsáveis da FOM tem de gerir e por isso não espanta que queiram receber o tanto quanto possível de todas as corridas.

Portanto a questão do dinheiro que sempre nos afeta volta a estar em cima da mesa. O próprio presidente da FPAK, Ni Amorim referiu isso recentemente. Em declarações à Lusa, confirmou que há boas hipóteses da Fórmula 1 voltar a Portugal explicando que as negociações estão avançadas, mas que há ainda questões a ser ultrapassadas. O governo, que tem na sua posse os números do retorno da F1 em Portugal da corrida do ano passado, mas terá que fazer um investimento superior ao do ano passado, sendo a segunda condição, a presença de público no Autódromo Internacional do Algarve: “Há negociações avançadas para haver Grande Prémio de Portugal de Fórmula 1 em 02 de maio. A vinda da F1 só faz sentido com público nas bancadas, e se o Estado português quiser”. O Estado querer ou não depende da vontade em investir e, sabendo o excelente retorno da corrida do ano passado, o valor do investimento face ao retorno expectável torna-se numa questão de fácil resposta.

Recorde-se que o ano passado a FOM necessitava desesperadamente da corrida portuguesa, e o estado só teve de pagar as obras de repavimentação e outras de menor impacto no circuito, porque a Fórmula 1 tem standards que não dispensa. E isso foi feito.

“É preciso pagar, sim. A F1 não se mexe de borla. O Grande Prémio deu um retorno extraordinário e os dados já estão na posse do Governo. Mas entendemos que neste momento há outras prioridades e ainda não foi possível discutir o assunto”, explicou Ni Amorim acrescentando ainda que os responsáveis do Autódromo Internacional do Algarve (AIA), estão “em contacto diário com o promotor [do campeonato]”. Apesar de tudo, Amorim mostra-se “otimista” quanto à possibilidade de a Fórmula 1 regressar a Portugal pela 18.ª vez.

O cenário mais provável nesta fase é o regresso da F1 em maio, vaga para a qual o AIA é claro favorito. A F1 precisa da Turquia, Mugello e Nurburgring para o fim de maio, principio de junho para substituir Mónaco, Canadá e Azerbaijão que deverão ser cancelados. A primeira metade do problema fica “resolvido”. Resta saber como será a segunda metade. Japão e Singapura só receberão a F1 se for realmente seguro o que é difícil de prever. Se surgirem novos cancelamentos a tarefa complica-se mas a Europa poderá ser novamente solução com pistas como Jerez, Hockenheim, Magny Cours a entrarem nas opções. O certo é que a F1 fará tudo para ter as 23 corridas feitas no fim do ano.

Resumindo, Portugal não tem a vinda da F1 garantida, mas está muito bem posicionado para voltar a ver o Grande Circo em Portimão. Como e em que condições ainda não se sabe, mas Portimão ganhou grande importância nos planos da F1.

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