F1: Nem Safety-Cars ou bandeiras vermelhas travam Hamilton
Três situações de Safety-Car e duas bandeiras vermelhas conspiraram para que pudéssemos ter um resultado inesperado no Grande Prémio da Toscânia, mas no final, voltou a ser Lewis Hamilton a vencer, ao passo que Valtteri Bottas, uma vez mais, viu escapar-lhe uma oportunidade…
Pela primeira vez neste ano tao “sui generis”, o Campeonato do Mundo de Fórmula 1 visitava um circuito que nunca tinha sido palco para uma prova da competição máxima do automobilismo, gerando uma enorme expectativa. Com a sua curvas de média e alta velocidade, sem chicanes que quebrassem o ritmo, rapidamente Mugello caiu no goto dos pilotos, que adoravam a fluidez do circuito toscano, lançando-lhe superlativos, muito embora as forças a que eram sujeitos – que chegaram a roçar os 6G na qualificação – prometessem uma tarde de domingo exigente ao nível físico.
A Mercedes mostrou estar forte na pista italiana, mas Max Verstappen parecia ser um factor, pelo menos em configuração de corrida, e com o desgaste dos pneus a poder ser um problema, o Red Bull do holandês poderia ser uma verdadeira ameaça aos “Flechas Negras”, que normalmente sentem dificuldades em estender a vida dos pneus, sobretudo com temperaturas altas e em Mugello a pista superou consistentemente os 40ºC.
No seio da equipa de Brackley, Bottas tinha a vantagem inicial, sentindo-se à vontade no traçado da Ferrari, ao passo que Hamilton admitia que os dois primeiros sectores ainda lhe escondiam alguns segredos.
Os ingredientes para assistirmos a uma corrida emocionante pareciam estar reunidos, muito embora existisse o temor de que fosse quase impossível ultrapassar em Mugello, apesar da longa recta da meta.Valtteri Bottas continuou a exercer o seu domínio na manhã de sábado, ao passo que Verstappen voltava a apresentar-se como uma ameaça, tendo ficado a dezassete milésimos de segundo do finlandês na terceira sessão de treinos-livres, ao passo que Hamilton era remetido para o terceiro lugar a 0,083s do seu colega de equipa.
O inglês parecia estar em desvantagem e poder ver-se remetido para um papel subalterno relativamente ao seu colega de equipa e, ainda, ser acossado por Verstappen. No entanto, no momento da verdade, o hexacampeão mundial mostra quem manda e foi o que acabou por acontecer na qualificação.
Bottas ainda foi o mais rápido na Q1, mas da Q2 para diante, o inglês tomou conta das operações conquistando a sua nonagésima quinta pole-position na Fórmula 1, ao bater o finlandês por 0,059s.
Faltou pontinha de sorte
O piloto do carro setenta e sete não teve desta feita a sorte do seu lado, uma vez que teve de abortar a sua segunda volta lançada na Q3 devido ao despiste de Esteban Ocon. Sem que Hamilton tivesse melhorado o seu tempo original, existiam fortes possibilidades de Bottas melhorar e bastavam 0,060s, mas o destino não quis e o finlandês teria de arrancar para o primeiro Grande Prémio da Toscânia da história no segundo posto ao lado do seu colega de equipa. Verstappen não conseguiu manter a sua ameaça aos Mercedes na qualificação, ficando em terceiro, mas ficou mais próximo que nunca este ano do duo dos “Flechas Negras”, criando enormes expectativas para a corrida de domingo.
Os três do costume estavam nas suas posições habituais, mas Bottas estava mais forte que nos mais recentes fins-de-semana e Verstappen poderia ter no Red Bull RB16 Honda uma arma para se bater de igual para igual com os Mercedes.
Mesmo os receios de falta de ultrapassagens poderiam ser infundadas – e foram – uma vez que o DRS era poderoso em Mugello e a natureza do
circuito, que pune os erros, prometia uma corrida animada em que o Safety-Car poderia ser uma factor a ter em conta. Mas claro que o arranque é sempre um momento de muita tensão, contudo, para Verstappen esses momentos começavam assim que saía das boxes para rumar à pré-grelha de partida.
Problemas com a unidade de potência da Honda preocupavam os japoneses e os responsáveis da equipa de Milton Keynes, e com motivos para isso.
Assim que as luzes dos semáforos se apagaram, Lewis Hamilton viu-se superado por Valtteri Bottas e com Max Verstappen ao seu lado, mas o desafio do holandês era fogo-fátuo, dado que o V6 turbohíbrido nipónico sofria uma quebra de potência, concretizando-se os receios da parceria anglo-japonesa, sendo o holandês engolido pelo pelotão.
A corrida de Verstappen acabaria pouco depois. Kimi Raikkonen, Pierre Gasly e Romain Grosjean aproximaram-se lado a lado da Luco, quando encontraram o Red Bull número trinta a três a baixa velocidade, o toque entre todos foi inevitável, ditando o abandono dos franceses e do holandês.
Na saída da Luco, Lance Stroll tocou na traseira do McLaren de Carlos Sainz, que entrou em pião. Sem por onde ir, Vettel bateu no carro inglês, ficando ambos com a respectiva asa dianteira partida.Com o caos criado nos primeiros metros, não restava outra opção a Michael Masi senão enviar o Safety-Car para a pista, mas então um dos candidatos à vitória já tinha ficado pelo caminho.
Levaram cinco voltas para que a pista fosse limpa, mas o drama estava novamente à espreita.Bottas, no comando e tentando evitar que Hamilton entrasse no seu cone de aspiração ao longo de toda a recta da meta, deixou o recomeço para último instante possível, a poucos metros da linha de meta – onde as ultrapassagens podem começar ser feitas – ao passo que os pilotos da cauda do pelotão, com painéis verdes a serem mostrados, aceleravam na tentativa de ganhar o máximo de posições possíveis.Quando deram conta que à frente a corrida ainda não tinha começado, o acidente foi inevitável, tendo Nicholas Latifi, Kevin Magnussen, Antonio Giovinazzi e Carlos Sainz batido entre eles, abandonando com os carros bastante danificados parados em plena recta da meta. A bandeira vermelha era uma inevitabilidade.
Enorme carambola
A ânsia de manter o seu colega de equipa no seu encalço acabou por criar as condições, ainda que indirectamente, para um violento acidente, deixando Bottas exposto num novo arranque clássico, com os carros parados na grelha de partida.O pior cenário para o finlandês acabou por se concretizar e, no segundo, arranque, Hamilton ascendia ao comando, passando a controlar as operações. O piloto do carro setenta e sete tudo tentou para entrar na zona de DRS do seu colega de equipa, mas, muito embora tenha estado próximo, nunca o conseguiu, percebendo que tinha de tentar algo diferente para poder bater o líder do Campeonato de Pilotos.
Os pneus continuavam a ser uma preocupação para a Mercedes, tendo instruído os seus recrutas a evitar os correctores, mostrando que os médios montados durante a bandeira vermelha não estavam a aguentar o calor e o asfalto abrasivo de Mugello. Prevendo que Hamilton parasse primeiro, normalmente o mais bem classificado entra nas boxes primeiro, Bottas pediu à equipa que montasse pneus diferentes dos que montaria o seu colega na sua troca de pneumático.
Contudo, o finlandês começava a sentir vibrações no pneu dianteiro/esquerdo, o que mais sofre em Mugello, perdendo três segundos em duas voltas para Hamilton, e a Mercedes foi obrigada a antecipar a sua paragem para a trigésima segunda volta, montando-lhe borrachas duras. O inglês, que parava na volta seguinte, montava o mesmo tipo de pneus, anulando qualquer vantagem estratégica que Bottas pudesse ter e deixando-o numa situação em que não conseguia desfeitear o líder. Porém, na quadragésima terceira volta o piloto de Nastola voltaria a ter uma nova oportunidade para suplantar o seu colega de equipa e melhorar a sua situação na luta pelo título.
Lance Stroll, que rodava na quarta posição, sofria um problema no seu pneu traseiro/esquerdo na saída da primeira Arrabbiata, lançando-se contra as barreiras de protecção a alta velocidade. Com os muros de pneus bastante danificados, Michael Masi, depois de ter enviado para a pista o Safety-Car, voltava a mostrar as bandeiras vermelhas, interrompendo, pela segunda vez, a corrida. Bottas teria a oportunidade de repetir o seu primeiro arranque, suplantar o seu colega de equipa e vencer o Grande Prémio da Toscânia. Enquanto a prova esteve parada, todos os pilotos ainda em competição,
apenas doze, aproveitavam para montar pneus macios usados, estando todos na mesma situação para as catorze voltas finais – seria uma conclusão de ataque num circuito que não perdoa erros. No entanto, Bottas falhou completamente o arranque e, em vez de atacar o seu colega de equipa, viu-se suplantado por Daniel Ricciardo. O Renault não seria um problema, desenvencilhando-se dele no início da volta seguinte, mas Hamilton tinha a corrida completamente controlada, vencendo pela nonagésima vez na Fórmula 1 – a apenas um triunfo do recorde Michael Schumacher – vendo-se Bottas novamente vergado pela perfeição do inglês nos momentos-chave de um Grande Prémio. O azar conspirou para que o finlandês saísse derrotado de Mugello, mas este também não aproveitou as oportunidades para bater o Campeão do Mundo, sendo cada vez mais uma formalidade para que este conquiste o seu sétimo título.
FIGURA: Alex Albon
Lewis Hamilton esteve uma vez mais a um nível elevadíssimo, deixando, como tem acontecido amiúde desde que os dois são colegas de equipa, Valtteri Bottas a pensar no que poderia ter sido, caso tivesse sido perfeito, como exige a situação, mas a forma como Albon respondeu ao triunfo de Gasly em Itália merece ser sublinhado.O tailandês passou por diversas contrariedades na tarde de domingo, mas nunca sucumbiu a elas, lutando e vendo-se obrigado a ultrapassar para alcançar o seu primeiro pódio na Fórmula 1. Este é o Albon que terá de aparecer na segunda metade da temporada, caso queira manter o seu lugar na Red Bull.
MOMENTO: 2º partida
Depois de ter sido suplantado por Bottas na primeira partida, Hamilton devolveu a graça ao seu companheiro de equipa na segunda, assegurando definitivamente o comando da corrida. No terceiro o finlandês falhou e o inglês ficou descansado na liderança, conquistando o seu 90º triunfo.
1000 Grandes Prémios disputados pela Ferrari. Um número extraordinário e que demonstram a longevidade da “Scuderia”. Só foi pena ter sido celebrado com tão fracos resultados em pista.