F1: Mudar a meio da época afinal compensa
A F1 não é muito dada a mudanças de pilotos a meio da época. É comum dizer-se que um piloto deve ter uma época completa para mostrar o que pode fazer, mas em 2024 vimos pilotos a serem dispensados a meio da temporada e com bons resultados para as equipas que o ousaram fazer.
Antes de mais é importante salientar a excelente preparação dos jovens talentos que vão surgindo. O caso de Oliver Bearman é o mais flagrante. Depois de ter dado nas vistas no karting, a sua carreira nos automóveis foi muito boa enquanto andou pela F4 (campeão), mas foi perdendo (aparentemente) algum fulgor na F3 (terceiro classificado) e na F2. Não seria o primeiro nome a ser mencionado pelos adeptos como potencial estrela da F1, mas nas duas participações mostrou qualidade e competência, mesmo com pouca preparação.
Liam Lawson em busca do lugar ao sol
Mas os casos que mais se destacam são os de Franco Colapinto e Liam Lawson. Começando pelo neozelandês, não é a primeira vez que Lawson é chamado a meio da temporada para mostrar o seu valor. Já no ano passado Lawson foi chamado para substituir Daniel Ricciardo e deu nas vistas. Foram essas corridas que lhe abriram a porta para esta segunda oportunidade que começou em Austin.
Depois de um ano parado, Lawson foi chamado para assumir novamente o lugar de Ricciardo, com a pressão extra de saber que agora está em cima da mesa um lugar a tempo inteiro na F1 (e quem sabe na Red Bull). Neste seu regresso, fez questão de ser mais rápido que o colega de equipa na qualificação (na Q1) e na corrida, fez uma espetacular recuperação, terminando nos pontos. Uma prestação que nunca vimos Daniel Ricciardo fazer nesta temporada. Lawson começou com o pé direito esta nova oportunidade.
A surpresa Colapinto
Franco Colapinto tem uma história semelhante. Chamado para substituir Logan Sargeant, agarrou a oportunidade com as duas mãos, mostrando qualidade, arrojo, o que lhe permitiu escancarar as portas da F1. Se há uns meses a possibilidade de garantir um lugar na F1 parecia remota, agora é exigido por muitos que se mantenha no Grande Circo.
Estes dois casos mostram que, por vezes, o risco de mudar a meio da época compensa. Que os jovens estão cada vez mais bem preparados e que uma troca que antes seria arriscadíssima, agora começa a fazer sentido. Mais ainda, estes jovens trazem novidade à F1 e elementos interessantes, graças à sua personalidade.
Uma lufada de ar fresco
Tal como George Russell, Lando Norris e Alex Albon, que quando entraram davam um extra especial ao espetáculo, pela ingenuidade e sinceridade das suas afirmações, voltamos a sentir isso com estes dois jovens. Lawson é mais comedido, mas tem uma postura muito relaxada, ao nível de Oscar Piastri e não se esconde das perguntas. Colapinto é ainda um tesouro que pode ser muito mais explorado pela Williams ao nível de marketing. As suas declarações no final da última corrida foram hilariantes: quando questionado sobre a sua volta mais rápida, o argentino lamentou que Esteban Ocon lhe tenha roubado a volta e questionou “porque o chamaram às boxes para colocar borracha nova? É preciso pensar no meio ambiente.” Ou quando explicou a opção de começar com os pneus duros, salientou que foi ele que convenceu a equipa a começar com duros, acrescentando “se não conseguir um lugar como piloto, vou tentar como engenheiro de estratégia.” Pequenas pérolas que vão sendo descobertas e que não são caso único.
Uma coisa parece certa: Liam Lawson e Franco Colapinto trouxeram melhorias às respetivas equipas. Não tremeram na sua estreia e mostram em pista que podem ser um caso sério. Se calhar compensa mudar a meio.