F1, GP dos EUA: Inconsistência dos comissários ou regras mal definidas?
O GP dos EUA ficou marcado pela polémica da penalização a Lando Norris (e não só) que ditou a queda do terceiro para o quarto lugar do piloto britânico e a perda de pontos importantes na luta pelo título, cada vez mais uma miragem.
Lando Norris foi penalizado pela manobra de ultrapassagem já perto do final, tendo feito a manobra fora da pista, o que motivou uma penalização de cinco segundos. A justificação dos comissários é simples:
” O carro 4 estava a ultrapassar o carro 1 por fora, mas não estava ao mesmo nível que o carro 1 no ápex.
Assim, de acordo com as Diretrizes de conduta de pilotagem, o Carro 4 perdeu o “direito” à curva.
Assim, uma vez que o carro 4 saiu da pista e regressou à frente do veículo 1, considera-se que se trata de um caso de saída de pista e de obtenção de uma vantagem duradoura. É imposta uma penalização de 5 segundos em vez da penalização de 10 segundos recomendada nas diretrizes porque, tendo-se comprometido com a manobra de ultrapassagem por fora, o piloto do carro 4 não tinha outra alternativa senão sair da pista devido à proximidade do carro 1, que também tinha saído da pista.
Tendo em conta o que precede, determinamos que este facto não será considerado como um “strike” no limite da pista para Carro 4″.
Assim se explica como Norris foi penalizado com cinco segundos e não foi penalizado por exceder os limites de pista quatro vezes.
O que disseram os chefes de equipa?
Andrea Stella e Toto Wolff destacaram-se na crítica às decisões dos comissários. Wolff considerou que ridicula a penalização a George Russell e estabeleceu paralelos com a situação de Max Verstappen e Lando Norris:
“A penalização de George é uma anedota. Todos estão a lutar muito, mas para mim a decisão contra George foi inexplicável”, disse ele. “Já vimos muitas situações dessas. Nenhum deles foi penalizado até George e, obviamente, houve outro depois. Não quero comentar a situação Max/Lando porque não é a minha corrida”, acrescentou. Acho que o Zak [Brown] e o Andrea [Stella] vão analisar isso. Todos estão a dar o seu melhor, mas eu preciso de me conter aqui.”
“A minha opinião é que a forma como os comissários de pista interferiram nesta bela peça de desporto automóvel foi inapropriada, porque ambos os carros saíram da pista”, argumentou Andrea Stella no final da corrida. “Ambos os carros ganharam uma vantagem. É uma pena porque nos custa um pódio. Custou-nos uma corrida em que nos mantivemos pacientes. Depois de termos sido empurrados na primeira volta, na primeira curva, aceitámos a situação”, acrescentou. “Dito isto, a nossa posição é muito clara: este tipo de decisão dos comissários de pista não pode ser objeto de recurso. Para nós, o capítulo está agora encerrado e passamos à próxima corrida. Para nós, não havia dúvidas de que a manobra era correta”, disse Stella.
As inconsistências aproveitadas
O caso de Lando Norris parece mais ou menos claro. O britânico chega atrás de Verstappen na curva e perde o “direito” à mesma. Parece que neste caso há mais frustração do lado da McLaren do que erro por parte dos comissários. Mas a corrida deu-nos vários exemplos do que tem de ser alterado.
A penalização de George Russell, parece que faz pouco sentido. O piloto fez exatamente o mesmo que Verstappen e melhor, pois ficou dentro de pista. Foi penalizado por forçar outro piloto fora de pista. Não terá sido o que Verstappen fez com Norris?
"Lando isnt ahead at the apex. You could argue you were pushed off the track, but you werent ahead. Both cars are off the track. Max would get a warning for that. Lando meanwhile is overtaking off the track. You see the difference? The stewards have been concisent about that" https://t.co/Y7kpHlNdwU pic.twitter.com/4rTfdEjy2I
— 😀 (@wetfroggie) October 20, 2024
Verstappen, propositadamente, esticou a travagem com Norris na curva 1 da primeira volta (sem penalização, o que nos pareceu aceitável) e depois já no final, quando Norris foi penalizado. Verstappen tem aproveitado para usar esta manobra, em que força o piloto que ultrapassa por fora, para fora dos limites de pista. A inconsistência aqui é que uma manobra foi considerada ilegal (a do Russell) e a de Verstappen foi considerada legal. A diferença? Verstappen estava a defender por dentro e Russell estava a atacar por dentro. No entanto, na curva 1, Verstappen atacou por dentro e fez o mesmo, o que não foi penalizado. Os comissários são muito mais permissivos na primeira volta, em prol do espetáculo, mas essa permissividade (acordada por todos) leva a este tipo de comparações, em que situações similares são avaliadas de forma diferente.
Very consistent @FIA pic.twitter.com/lMLf7Nq22G
— Pablo (@BloopGG) October 20, 2024
O problema é que as Normas de Conduta dos Pilotos, aprovadas por pilotos, equipas e F1 podem dar abertura a este tipo de situações, especialmente as travagens longas que convidam quem está a tentar passar por fora a ir fora de pista. Para uns poderá ser uma forma legítima de defesa, para outros poderá ser uma manobra exagerada. Mas criam-se inconsistências que se tornam mais difíceis de ler.
Por que a McLaren não pediu a Norris para devolver a posição?
Este é outro problema na F1. Muitas equipas estão tentadas a não devolver a posição e pedir ao piloto para acelerar e ganhar a vantagem necessária para anular a penalização. Em casos em que o piloto fica com “pista limpa” na sua frente esse truque tem sido muito usado. Lando Norris terminou com quatro segundos de vantagem para Verstappen. Mais uma volta e teria “anulado” a penalização. Assim, pode parecer que o infrator pode ganhar vantagem ao ir contra a lei, pois sabe que pode ter “dinheiro para pagar a multa”, ou seja, vantagem para anular a penalização. A McLaren fez mal e não é certo que tenha sido essa a ideia. Mas a verdade é que se trata de outro problema que começa a acontecer.
Tudo isto merece consideração e trabalho, muito mais do que tentar que os pilotos não digam palavrões. A FIA, a F1 e as equipas têm devem olhar para estas situações e torna-las mais claras para o bem de quem compete e quem vê.
Foto: Getty Images / Red Bull Content Pool
Após o final da curva 1, na zona onde se recomeça a reacelarar, e onde ocorreram a maior parte destas siituações, alarguem a pista, mais uns metros, e aquilo que foi agora “sair de pista”, deixa de o ser. E os chicos espertos que mergulham por dentro, e depois se limitam a encostar o adversario “para fora da pista”, sabendo que a FIA vai considerar isso como infracção caso o adversario consiga ultrapassar, deixam de se aproveitar desse expediente. Neste caso concreto, nesta pista e nesta curva, não há qualquer problema em termos de segurança, há espaço para isso. E… Ler mais »