F1, GP do Qatar, Mercedes: uma oportunidade perdida?

O Grande Prémio do Qatar disputou-se em circunstâncias distintas dos demais, podendo a Mercedes ter perdido uma oportunidade única para bater Max Verstappen e vencer uma corrida em 2023.

O circuito de Losail é composto por curvas de alta velocidade, basicamente, delimitadas por correctores que, na configuração deste ano, deveriam assegurar que os pilotos se mantivessem nos limites da pista.

No entanto, na sexta-feira à noite a Pirelli encontrou indícios de separação entre o piso e a carcaça dos pneus provocados pelos novos correctores, o que fez soar os alarmes do construtor italiano e da FIA.

Na corrida sprint, no sábado, voltou a verificar-se o fenómeno e algumas horas antes do início da prova de domingo foi decidido que cada jogo de pneus não poderia superar dezoito voltas de utilização, o que na prática obrigava a que fossem realizadas três paragens para cobrir as cinquenta e sete voltas que compunham o Grande Prémio do Qatar.

Nestas circunstâncias, os pilotos teriam de disputar a prova no limite das capacidades do material e das suas próprias faculdades, ao invés de gerirem os pneus, como é normal presentemente, dado que teriam de trocar os pneumáticos muito antes de estes perderem performance de forma evidente.

Os carros que têm como um dos seus grandes trunfos a capacidade de gestão dos pneus perdiam esta vantagem e neste grupo estava o Red Bull RB19, muito embora as suas restantes qualidades o deixassem ainda como favorito.

O monolugar mais próximo da máquina de Milton Keynes em performance pura era o McLaren MCL60, o que permitiu a Oscar Piastri o seu primeiro triunfo na Fórmula 1, ao vencer a corrida sprint, realizada no sábado.

No entanto, tanto o australiano, sexto, como Lando Norris, décimo, foram apanhados pelos limites de pista na qualificação e a ameaça dos homens da McLaren a Verstappen diminuía, ficando George Russell no segundo posto da grelha de partida e Lewis Hamilton na terceira.

Porém, com Toto Wolff ausente de Losail, a Mercedes vivia um dos seus piores pesadelos logo nos primeiros metros de corrida – o heptacampeão mundial, com pneus macios, arrancava melhor que os dois da frente, colocava-se por fora de Verstappen e Russell na primeira curva, tentando passar para a frente. Porém, sem que o seu colega de equipa pudesse chegar-se para a direita, uma vez que tinha lá o neerlandês, Hamilton apertou o seu conterrâneo, sendo o toque inevitável.

O piloto do Mercedes número quarenta e quatro ficava na escapatória com a jante traseira direita partida e Russell entrava em pião, caindo para último, tendo ainda de visitar as boxes para trocar a asa dianteira do seu monolugar.

O Safety-Car que entrou em pista para recuperar o carro de Hamilton e o de Liam Lawson, que ficou noutra escapatória devido a um incidente distinto, não penalizou tanto Russell como poderia penalizar, mas a prova da Mercedes ficava completamente condicionada logos nos primeiros momentos.

Com as paragens de alguns pilotos durante a neutralização da prova, o inglês subia a décimo quarto, mas um lugar no pódio parecia completamente fora de cogitação para o piloto da Mercedes.

Porém, Russell passou a impor um ritmo fortíssimo, ganhando posições atrás de posições e mostrando um andamento muito semelhante ao de Verstappen, apesar de ter tráfego pela frente.

Na oitava volta, já com o pelotão estendido no circuito, o inglês estava em décimo segundo a 14,8s do Tricampeão Mundial, que conquistara o ceptro deste ano no sábado com o segundo posto na corrida sprint.

Na décima terceira passagem pela linha de meta, uma antes de rumar às boxes para trocar de pneus, Russell estava a dezassete segundos do líder, muito embora nunca tenha rodado no ar livre.

Num dia em que o ‘overcut’ era mais forte que o ‘undercut’, dado todos serem obrigados a trocar de pneus antes de estes perderem a sua eficácia, quando Verstappen realizou a sua primeira troca de pneus, na décima sétima, tinha já uma vantagem de vinte segundos para Russell, mas ao longo do segundo stint ganharia apenas 2,2s ao inglês, apesar do piloto da Mercedes voltar a ter que se haver com tráfego.

Só quando montou pneus duros, na trigésima segunda volta, Russell teve dificuldades em manter o ritmo de Verstappen, mas ainda assim, os homens da McLaren ficaram preocupados com o inglês.

No final, o ameaça do piloto da Mercedes esfumou-se, até porque apostou nos pneus macios para o seu último stint, um composto que não se mostrou adequado, acabando em quarto a trinta e quatro segundos de Verstappen, que venceu pela décima quarta vez este ano, celebrando da melhor forma o seu terceiro título, na companhia de Piastri e Norris no pódio.

No entanto, o ritmo evidenciado por Russell ao longo de toda a corrida, talvez com a excepção do período em que montou pneus duros, deixou no ar a ideia que, a Mercedes, com dois carros para atacar o neerlandês, talvez fosse uma ameaça séria ao domínio deste, podendo o incidente espoletado por Hamilton ter impedido a equipa de se bater pelo seu primeiro triunfo da temporada.

Foto: Sam Bloxham/Mercedes