F1, GP da Arábia Saudita: A crise do míssil

Por a 28 Março 2022 18:30

A Fórmula 1 viveu durante o Grande Prémio da Arábia Saudita uma das situações mais alarmantes na sua história de quase setenta e dois anos, depois de o evento saudita ter seguido em frente, apesar da queda de um míssil a vinte quilómetros do circuito Jeddah.

Há oito anos que a Arábia Saudita está envolvida na guerra civil do Iémen, apoiando o poder instituído neste país, confrontando os rebeldes houthis, apoiados pelo Irão, sendo este um confronto bastante violento, apesar de estar já há bastante tempo fora das prioridades mediáticas dos media ocidentais.

Não é incomum a Arabia Saudita ser atacada por mísseis enviados pelos houthis, tendo um caído dias antes do início do programa oficial do segundo Grande Prémio da temporada.

Tendo isto em conta, quando um projétil atingiu instalações da Aramco, quando ainda decorria a primeira sessão de treinos-livres, criando uma nuvem espessa e negra bem visível do circuito, nenhum dos responsáveis da FIA ou da FOM, ou mesmo das equipas, deverão ter ficado muito surpreendidos, uma vez que este era um cenário que seguramente estava em cima da mesa.

No entanto, como seria de esperar, a proximidade do ataque criou alguma consternação no paddock, começando uma sensação de insegurança a reinar entre as hostes da Fórmula 1.

Uma reunião foi rapidamente realizada entre a primeira e segunda sessões de treinos-livres para discutir a situação, contando com a presença Stefano Domenicali, Mohammed Ben Sulayem, os chefes de equipa, os pilotos e um consultor de segurança.

A decisão imediata foi a de prosseguir com o evento, mas depois da segunda sessão de treinos-livres, os pilotos voltariam a reunir-se e então começaram a surgir dúvidas quanto à possibilidade de um Grande Prémio ser levado a cabo na Arábia Saudita no passado fim-de-semana.

As discussões duraram mais de três horas, havendo, segundo a publicação italiana “Gazetta dello Sport”, cinco pilotos que estavam contra a realização do evento – Lewis Hamilton, George Russell, Fernando Alonso, Pierre Gasly e Lance Stroll.

Foi preciso a visita de Stefano Domenicali e de Mohammed Ben Sulayem para convencer todos os pilotos de que havia segurança no circuito para que uma corrida de automobilismo fosse levada a cabo em Jeddah.

Segundo diversas informações, foi determinante para que os pilotos se sentissem seguros as garantias oferecidas pelo governo saudita, que assegurou que não haveria mais ataques no decorrer do evento.

Aparentemente, determinante para essa segurança foram os ataques aéreos desenvolvidos pela força aérea saudita, que bombardeou posições houtis no Iémen, como resposta ao envio do míssil para as instalações da Aramco.

Esta investida teve como resultado num cessar-fogo da parte dos houtis, que comunicaram no início de domingo que não atacariam a Arábia Saudita ao longo de três dias, o que poderia ser o início de um processo de mais duradouro, caso os seus opositores suspendessem os ataques aéreos.

Seria sempre muito difícil que a prova não fosse realizada, provavelmente, apenas na eventualidade de haver um conjunto de ataques mais sustentado à zona do circuito poderia colocar em causa o evento, dada a importância da Arábia Saudita na Fórmula 1 de hoje.

Existe um contrato de dez anos em execução, e é um dos mais valiosos da temporada, para além disso, a Aramco, a petrolífera estatal, patrocina a categoria e é o patrocinador-título da Aston Martin, tendo um peso financeiro considerável. 

No campo político, a família Mohammed Ben Sulayem, dos Emirados Árabes Unidos e presidente da FIA, é próxima do Príncipe Mohammed bin Salman, o homem que lidera Ríade, sendo difícil que houvesse uma decisão da parte da entidade federativa que fosse contra a Arábia Saudita.

Colocando tudo isto na balança, será difícil que exista algum tipo de impacto na prova saudita no futuro, devendo manter-se no calendário, apesar dos constantes atropelos do país aos direitos humanos.

O dinheiro falou, e continua a falar, mais alto, porém, os responsáveis terão de conviver com uma decisão que lhes poderá custar ao nível da imagem a médio-longo prazo e que os coloca numa situação de incoerência relativamente à sua decisão de cancelar o Grande Prémio da Rússia devido à guerra da Ucrânia.

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