F1: George Russell tem ou não qualidade para ser o futuro da Mercedes?
Dois centímetros. É a diferença entre estar no pódio ou ficar na cauda do pelotão. George Russell aprendeu da forma mais dolorosa que as pequenas margens fazem toda a diferença na F1.
Russell estava a ter um fim de semana muito bom, talvez o melhor deste ano. Rápido, confiante, foi constantemente o homem em destaque na Mercedes, com Lewis Hamilton a não chegar perto do seu colega de equipa e a qualificação foi a maior prova disso. Na corrida, Russell conseguiu colocar-se em posição para tentar a vitória e estava focado apenas nisso. Beneficiou da boa estratégia da Mercedes e lançou-se ao ataque nas últimas voltas. O cenário era prometedor. Os Mercedes estavam dois segundos por volta mais rápidos que Carlos Sainz e Lando Norris e tinham uma hipótese real de lutar pela vitória. Charles Leclerc foi despachado sem problemas, mas Norris revelou-se um osso mais duro de roer, com a brilhante ajuda de Carlos Sainz, que foi “alimentando” o DRS de Norris, garantido que mantinha o britânico entre si e a ameaça da Mercedes. Foi também nas últimas voltas que Russell tocou de forma ligeira num muro de proteção e com isso foi atirado para fora de pista. O mesmo erro que Lando Norris tinha cometido à sua frente, um segundo antes, sem as mesmas consequências. A desilusão de Russell era evidente.
No entanto, começaram a surgir comentários sobre a qualidade de Russell. Alguns fãs criticaram o piloto britânico e chegaram até a comparar o #63 com Lance Stroll e até Logan Sargeant. Outros começaram a duvidar que Russell pode ser mesmo o homem do futuro para a Mercedes. Será que essas dúvidas fazem sentido?
A performance de um piloto pode e deve ser sempre questionada. É talvez por isso que a F1 é um desporto tão duro e exigente. Um piloto pode passar de “bestial a besta” num par de corridas. Mas Russell, apesar da época menos conseguida, está longe de ter perdido a qualidade que todos lhe reconheceram não há muito tempo.
Russell teve uma carreira muito bem sucedida nos karts e nos automóveis, venceu na F4 britânica em 2014, no GP3 em 2017 e na F2 em 2018. Claro que uma boa carreira nas categorias de iniciação não implica uma carreia de sucesso na F1, Nico Hulkenberg que o diga. Mas mostra que há qualidade (Hulkenberg, apesar de nunca ter vencido na F1 sempre foi respeitado pelos seus pares).
Ora à qualidade que mostrou nas categorias de iniciação, somam-se três épocas na Williams onde conseguiu 19 pontos e um pódio inesperado (no infame GP da Bélgica 2021) e mais que isso mostrou uma postura a toda a prova, velocidade e talento. Pagou o preço de ter feito uma época 2019 na cauda do pelotão, sem lutas diretas, nem pressão de outros pilotos. Nas primeiras lutas que enfrentou em 2021, com uma Williams um pouco melhor, notou-se que não estava tão à vontade. Mas antes disso tinha feito um brilharete no GP de Sakhir, em que foi chamado à última hora para substituir Lewis Hamilton. Despachou Valtteri Bottas com classe e esteve na luta pela vitória até o pneu ceder perto do fim. Um azar, que não mancha em nada a brilhante prestação do piloto.
Na primeira época na Mercedes a tempo inteiro, foi melhor que Lewis Hamilton e terminou a época em quarto. Tem uma vitória em seu nome, dez pódios em 97 GP. Tem 25 anos.
Russel está de facto a ter uma má época. Junta-se a isso uma postura britânica algo “posh” e por vezes austera, muito afastada da postura mais bem disposta de outros pilotos. Russell nunca será um piloto com uma base de fãs muito grande. Mas dizer que não tem qualidade para a Mercedes parece-nos injusto, quando em 2020, a grande maioria dos fãs exigia Russell na Mercedes. O que mudou de lá para cá? Russell deixou de ser o “brinquedo novo”, já não é novidade, mostrou qualidade e competência e agora é alvo de ódios de estimação, como qualquer piloto de topo. É quase como o caso de Fernando Alonso: há quem adore, há quem odeie, mas ninguém se atreve a dizer que é mau piloto. Russell ainda não teve tempo para mostrar de forma indubitável todo o seu talento e potencial. Mas olhar para Russell e não ver nele o futuro da Mercedes é algo que parece rebuscado. Tem ainda arestas a limar, vai cometer mais erros ainda, como todos os grandes pilotos cometeram. Pode até acontecer que Russell acabe por não ter sucesso na Mercedes. Quantos pilotos talentosos ficaram aquém do que se esperava? Mas Russell já demonstrou que tem tudo para ser um futuro campeão.
Acho um exagero afirmar que ele já provou que tem o que é necessário para ser tido como um potencial campeão do mundo. Até acho bem o contrário, cada vez demonstra mais que não tem o que necessário.
Não tem calma, não tem controlo, não tem consistência e gere muito mal a pressão.
Não se pode dizer que mostrou muito, mas também não se pode dizer que não mostrou nada, na F1. É rápido, mas ainda não é consistente e eficiente. É inexperiente, sobretudo comparativamente a LH, que com o mesmo tempo de F1 era altamente eficiente e uma revelação. Posh, sim… um ‘beto highlife de primeira’, mas não se tem culpa de nascer em certos berços. Devia ser um pouco mais acessível e cool, mas passa uma imagem muito british e convencional, o que é pouco comum, neste meio. Pode ser que com um pouco mais de tempo e background (coaching LH)… Ler mais »