F1: FIA enfrenta ameaça legal no que toca às regras para 2023?

Por a 23 Julho 2022 11:50

As novas diretivas técnicas propostas pela FIA para 2023 dividiram as equipas um pouco por todo o paddock. A Federação Internacional do Automóvel alega que as novas regras são necessárias no próximo ano por “razões de segurança”, porém estas podem enfrentar um sério escrutínio.

O órgão governativo delineou quatro mudanças específicas para banir os ‘truques’ dos fundos dos carros e a combater o fenómeno das oscilações. Comparando com o plano atual, os fundos serão levantados 25mm relativamente ao solo, o difusor será levantado, existirão testes de flexão lateral mais rigorosos e um sensor mais preciso para ajudar a quantificar a oscilação aerodinâmica. A FIA receia que o fenómeno das oscilações piore no próximo ano se não for retificado.

Existe uma medida de curto prazo que chega já no Grande Prémio da Bélgica, após as férias de Verão, sob a forma de uma diretiva técnica que incluirá novas medições mais precisas das oscilações verticais a que um piloto pode ser sujeito, mas que não vai ao encontro da causa raiz.

É para esse mesmo combate à raiz do problema que as alterações das regras propostas para 2023 foram concebidas e, dado que já estamos em julho, seria exigida uma ‘supermaioria’ de oito equipas a favor, juntamente com a F1 e a FIA. No entanto, a FIA pode forçar as alterações se estas estiverem relacionadas com problemas de segurança. Isto tem irritado mais a Red Bull, embora outras equipas, incluindo a Ferrari, sejam conhecidas por estarem descontentes com a rara utilização deste poder por parte do órgão governativo.

A FIA apoiou-se fortemente nas potenciais preocupações de segurança associadas com as oscilações (efeitos porpoising e bottoming), após os pilotos terem sofrido com imensas dores no Grande Prémio do Azerbaijão. Disse mesmo às equipas que os carros que demonstram “oscilações excessivas ou níveis demasiado baixos relativamente ao solo (efeito grounding) podem ser considerados de “construção perigosa”, o que seria motivo de desqualificação.

Mas isto não é algo que tenha sido facilmente aceite. Um chefe de equipa disse ao The Race que a FIA terá de se render e não avançar com algumas das novas regras propostas ou as equipas mais descontentes “vão revoltar-se”.

Até mesmo a Mercedes, sem dúvida a mais afetada pelo porpoising nesta época, tem conseguido lidar com o problema à medida que a época avança, equipas como a Red Bull argumentam que não é claramente uma preocupação universal, quanto mais um grave problema de segurança.

“Há muita pressão para alterar os regulamentos para o próximo ano”, disse o chefe de equipa da Red Bull, Christian Horner, à Sky Sports F1, em França. “Assim, uma certa equipa pode fazer descer o seu carro e beneficiar desse conceito. É um ponto muito tardio no ano para estar a fazer isto”, reitera Horner. “Esperemos que seja encontrada uma solução sensata, porque é demasiado tarde para mudanças fundamentais no regulamento. Não tivemos um problema durante todo o ano, só há uma equipa que teve um grande problema. Temos alguns dos engenheiros mais talentosos do mundo neste desporto, posso quase garantir que se voltássemos no próximo ano, não haveria provavelmente carros com problemas”, disse o chefe de equipa da Red Bull, atirando indiretamente à Mercedes.

“Penso que o que não se pode fazer é ter uma reação pensada de cabeça-quente e exagerada, que pode ter impactos fundamentais nos carros do próximo ano”.

Várias fontes do The Race sugeriram que estas novas regras poderiam levar a uma contestação formal relativamente à posição de segurança da FIA. O sistema de governação permite que as alterações das regras da presente época ou da próxima sejam bloqueadas se as propostas não atingirem uma ‘supermaioria’ de 28/30 votos entre as 10 equipas, a FIA e a F1. Mas a decisão da FIA de impor alterações por razões de segurança significa que estas alterações não estão a ser postas em escrutínio porque não têm de o ser. Estas questões de segurança também significam que o veto da Ferrari às alterações das regras propostas não é aplicável.

Segundo a mesma publicação, isso significa que a única medida concebível seria drástica: a ação legal. “Uma equipa poderia tentar contestar a interpretação da FIA sobre o que constitui uma questão de segurança suficientemente legítima para justificar estas propostas.”

Segundo as mais recentes informações prestadas, “as equipas não têm fundamentos para uma contestação legal, uma vez que o controlo que a FIA tem sobre questões de segurança está consagrado nos regulamentos.”

De acordo com os regulamentos do desporto, “quaisquer alterações feitas pela FIA por razões de segurança podem entrar em vigor sem aviso prévio ou atraso”, enquanto “os competidores devem assegurar que os seus carros cumprem as condições de elegibilidade e segurança durante cada sessão de treinos, sessão de sprint e corrida”.

Não há qualquer referência para o que são realmente as “razões de segurança” nem existe qualquer exigência nos regulamentos para que a FIA justifique a sua decisão.

Em circunstâncias normais, tais como as reuniões do Comité Técnico Consultivo em que a FIA esboçou estas propostas para começar, a FIA continuaria a trabalhar em colaboração com as equipas, mas a questão é que parece ter total autonomia.

Segundo o The Race, “o presidente da FIA Mohammed Ben Sulayem, que deu o pontapé de saída ao exigir uma intervenção depois do Azerbaijão, está determinado a ver algo ser feito relativamente às oscilações”.

As novas regras foram encorajadas pela opinião do departamento técnico da FIA de que os ganhos projetados do efeito solo em 2023 irão exacerbar o problema, e uma conclusão da equipa médica da FIA de que a nova geração de automóveis poderia realmente ter consequências graves para os pilotos, a longo prazo.

A McLaren é uma das poucas equipas a favor das mudanças pelos motivos enunciados.

“Ficámos satisfeitos com as decisões do lado da FIA, ou com a liderança do lado da FIA relativamente a este tópico. Quando tudo isto começou, a FIA deixou claro que se baseia na segurança e é por isso que penso que agora também é muito importante seguir em frente e não ceder em nenhuma direção”, disse o chefe de equipa da McLaren, Andreas Seidl.

E, de facto, é pouco provável que a FIA ceda por agora. Vejamos como evoluiu o caso no futuro…

Por Eduardo Moreira

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