F1, Ferrari: Diferenças entre pilotos abalam resultados da equipa

Por a 5 Agosto 2020 09:14

Uma relação quase inversamente paralela vê Sebastian Vettel desconfortável com o SF1000 na mesma altura em que Charles Leclerc mostra com quantos paus se faz uma canoa.

O GP da Grã-Bretanha viu Charles Leclerc conquistar o segundo pódio da temporada, tendo conseguido o terceiro lugar nos momentos derradeiros da corrida, quando Valtteri Bottas sofreu um furo que lhe custou a possibilidade de pontuar. Já Sebastian Vettel não passou da 10ª posição numa corrida muito atípica em que nunca conseguiu ter controlo total do seu monolugar, passando grande parte do tempo a lutar contra um setup de baixo arrasto. Sete lugares separaram os dois pilotos da Ferrari, num fim de semana que se previa ser de grandes dificuldades para as cores de Maranello, mas há algumas explicações para tão grandes diferenças entre Leclerc e Vettel.

À partida para a quarta ronda do campeonato mundial de pilotos, a Ferrari decidiu recorrer a um setup de baixo arrasto para colmatar o défice de potência da unidade motriz do SF1000, que tem sido bastante evidente ao longo da temporada. Silverstone é, acima de tudo, um traçado bastante dependente de potência, com cerca de 70% do tempo de pé a fundo e, em resposta a isso, a Ferrari fez uso de uma asa traseira de muito baixo perfil, do género das que pudemos ver em Monza ou Spa, em 2019, onde Leclerc venceu ambos os GP e Vettel deixou a desejar.

Graças a uma forte sessão de qualificação, Leclerc conseguiu subir à quarta posição na grelha de partida, enquanto Vettel não faria melhor que um décimo lugar, aparentando o monegasco estar muito mais confortável com as modificações aerodinâmicas do que o seu colega de equipa, algo que haveria de jogar ainda mais a seu favor na corrida de domingo.

Mas o uso de uma asa de baixo perfil provou ser um osso duro de roer, como mostra a telemetria, em que Leclerc teria de levantar o pé do acelerador, nomeadamente na curva Copse, onde todos os outros pilotos seguiam de ‘pé plantado’. Tornava-se também evidente que o SF1000 se apresentava muito mais nervoso e instável do que o resto dos monolugares da grelha, forçando o monegasco a ser mais agressivo na entrada para as curvas, para manter o fluxo de ar na asa traseira, conseguindo maior tração e uma melhor aproximação aos ‘apex’, o que lhe valeu preciosos segundos.

Chegado o dia de domingo e Leclerc, favorecido por uma boa posição na grelha, conseguiria sobreviver aos ataques iniciais do meio do pelotão terreno e depois do segundo Safety Car foi capaz de colocar alguma distância entre os monolugares da McLaren, auxiliado pela intromissão de Romain Grosjean nos lugares cimeiros da tabela, tendo depois tido uma corrida bastante descansada, conseguindo gerir bem os pneus e mantendo-os a uma temperatura ideal.

“Assim que os pneus passaram a estar à temperatura ideal, não foi tão complicado. Esperava pior. Acho que fizemos um bom trabalho com a configuração e com o equilíbrio do carro. Foi muito bom de conduzir.” – Charles Leclerc

Já Sebastian Vettel teve mais um daqueles fins de semana para esquecer, tendo lutado com o seu SF1000 durante grande parte do tempo, que lhe pregou partidas nos TL1, com um problema no intercooler, e nos TL2 e TL3, com dificuldades na estrutura dos pedais. Mas isto é apenas uma pequena parte da quase desastrosa prestação do germânico.

Começando em 10º na grelha de partida, Vettel viu-se forçado a usar pneus macios que o colocaram numa posição vulnerável, uma vez que não conseguiu em momento algum utilizar pneus médios durante a sessão de qualificação. Ainda assim, à 12ª volta da corrida, devido ao Safety Car por Kvyat, trocou para pneus duros, assim como a grande maioria dos pilotos. Esperava-se que pudesse ter feito mais, estando agora num ponto de igualdade com os rivais diretos, mas não. Vettel manteve-se fora dos pontos durante grande parte da corrida, e só mesmo os furos de Bottas e Sainz o fizeram voltar à 10ª posição, onde tinha partido: “Não tinha o ritmo necessário e, portanto, o meu nível de confiança está bastante baixo neste momento, porque estou com dificuldades em sentir o carro e, cada vez que tento puxar, perco o carro” – Sebastian Vettel

Vettel parece cada vez menos confortável ao volante do SF1000, enquanto que Leclerc tem tirado partido de uma configuração que aparenta ser mais a seu gosto, e que provou dar resultados para o monegasco. São já dois os GP este ano em que Vettel falha de forma estrondosa e em que Leclerc é capaz de subir ao pódio. E claro, podemos sempre dizer que o piloto preferido da Ferrari durante esta temporada será sempre Leclerc, já que o alemão vai deixar a equipa, mas os seus desempenhos tudo menos impressionantes não vão facilitar em nada potenciais oportunidades de um lugar na F1 em 2021.

Mas, cada vez mais, a questão surge. Será que o problema reside apenas na Ferrari, ou estaremos nós a ver o começo do declínio de um dos maiores talentos que passou pela F1 nos últimos anos? Claro está apenas que Leclerc se sente muito mais confortável com um setup de baixo arrasto do que Vettel, e dado o défice de potência do SF1000, é provável que a equipa de Maranello faça uso deste tipo de configuração mais frequentemente. Resta agora perceber se Vettel conseguirá dar a volta e domar o seu monolugar a tempo de remendar um início de temporada quase desastroso.

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Daniel Sousa
Daniel Sousa
4 anos atrás

O declínio do Vettel já começou há dois ou três anos

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