Fernando Alonso é um dos melhores pilotos da história da Fórmula 1, e daqueles que os números que ostenta dizem muito pouco sobre o seu percurso. Foi Campeão duas vezes, ganhou as 24 Horas de Le Mans, e no seu ano de estreia, Luís Vasconcelos escreveu assim sobre o espanhol: “Para quem não marcou qualquer ponto e só por uma vez terminou nos dez primeiros, um lugar neste Top 10 pode parecer excessivo, mas ou muito nos enganamos, ou Alonso vai ser uma presença permanente neste top 10 quando passar a dispor dum carro minimamente competitivo.
Ao longo do ano, Alonso carregou aos ombros uma equipa Minardi que procurava encontrar-se, depois de ter mudado de proprietário e estrutura, mas que sofreu um rude golpe com a perda de Gustav Brunner muito cedo.
Se para o telespectador Alonso foi um piloto que só apareceu quando era dobrado pelos primeiros, quem pôde observar na pista o seu andamento só tem os maiores elogios para o jovem espanhol, verdadeiramente espantoso no controlo que tem sobre o seu carro. Mesmo com um chassis que deixou de evoluir muito cedo e dispondo do pior motor do plantel, Alonso conseguiu performances assinaláveis, como em Indianapolis quando se qualificou à frente de Villeneuve. Nas corridas Alonso foi evoluindo ao longo do ano, acabando por conseguir efetuar os 300 quilómetros dum Grande Prémio sempre a fundo e sem cometer erros, coisa que só está ao alcance dos pilotos que são, de facto, especiais. Será uma pena que Alonso pare de correr em 2002, mas espera-se que quando voltar aos Grande Prémios o espanhol tenha carro para andar nos lugares da frente, porque o talento e a maturidade estão lá”, escreveu.
A primeira entrevista:
Com apenas 20 anos de idade e uma subida quase meteórica até à Fórmula 1, Fernando Alonso não teve muito tempo para reter tudo aquilo que pode e deve aprender no desporto automóvel. No entanto, na primeira e única temporada que conheceu nesta disciplina ao volante do pouco competitivo Minardi, o ex-campeão do Mundo de Karting e ex-vencedor da Fórmula Nissan, não deixou de impressionar pela sua capacidade de adaptação, rapidez e consistência. Factores que não passaram despercebidos aos homens fortes da Renault que o contrataram como piloto de testes para os próximos cinco anos.
No Autódromo do Estoril, Alonso deu os primeiros passos com a nova equipa conduzindo para já um dos Benetton-Renault utilizado este ano por Jenson Button e Giancarlo Fisichella. Foram os primeiros quilómetros de muitos, mas mesmo muitos, que irá fazer em 2002… “enquanto este ano, com a Minardi, fiz quatro ou cinco mil quilómetros entre testes e corridas, para o ano está previsto fazer 15 ou 20 mil! Só por aqui se pode ver a diferença de estar numa equipa pequena como era a Minardi, ou numa grande como é a Renault.” O trabalho que Alonso tem pela frente já está definido. “Há um programa de desenvolvimento muito intensivo já delineado para os motores, chassis e pneus, pelo que não me vão faltar experiências novas e um acumular de conhecimentos que só me poderão beneficiar nesta altura da minha carreira.” E para quem possa pensar que este é um passo atrás, Alonso responde: “Eu sei que há quem pense assim, especialmente os jornalistas espanhóis, mas eu não. As opções que tinha para o futuro eram muito reduzidas, ou continuava por mais um ano com a Minardi ou assinava este contrato com a Renault por cinco anos. Preferi esta segunda situação por considerar que será a melhor para mim. A Renault vai ter muito que fazer para recuperar o tempo que esteve ausente e eu vou estar no meio deste processo, pelo que quando se tem apenas 20 anos como eu, ainda há um mundo de coisas para aprender. Este ano, com a Minardi, ‘descobri’ os circuitos, vi como são as coisas e agora vou ter tempo de aprender calmamente tudo o resto.”
Falar em algo mais para além da posição de piloto de testes é entrar no campo das suposições e como é fácil perceber, Alonso prefere ter os pés bem assentes na terra ao invés de “construir castelos no ar” mas não deixa de olhar para o que se passa à sua volta com alguma lucidez.
“Para já apenas me quero preocupar em fazer o meu trabalho o melhor possível, na certeza de que em função disso se poderá definir o meu futuro. No entanto, não deixo de pensar que talvez possa ter uma boa oportunidade de regressar a tempo inteiro aos Grandes Prémios se virmos que o contrato do Button termina no final de 2002 o que, em teoria, deixará um lugar livre na equipa Renault. Ora, sendo eu um piloto da casa, quem sabe…”
“Fórmula 1 é muito fechada”
Para um jovem como Alonso que fez toda a sua carreira nos monolugares, “descobrir” a Fórmula 1 é o concretizar de um sonho, mas também o enfrentar de uma realidade cujos contornos podem ser surpreendentes… “como por exemplo o ambiente do ‘paddock’ que é muito fechado. Quase ninguém pode lá entrar e é muito difícil circularmos à vontade falando e conversando com quem nos apetece. Está tudo mais ou menos escondido e são todos demasiado sérios. De resto, em termos de competição automóvel a Fórmula 1 é uma disciplina como outra qualquer a partir do momento em que entras dentro do carro. Este é, apenas, mais rápido do que todos os outros em que andei antes, com um comportamento dinâmico irrepreensível e uns travões fantásticos. Depois, por detrás deles, encontras uma equipa super profissional e muito bem organizada.”
Apesar de, do lado de dentro, se tratar de apenas mais uma corrida de automóveis, Alonso não esconde que aquelas que fez este ano na Fórmula 1 se dividiam em duas partes…
“É verdade! Do momento da partida até, sensivelmente, à primeira paragem nas boxes parecia que estava realmente numa corrida de automóveis porque sempre conseguia andar relativamente perto senão mesmo à frente de alguns adversários, mas depois de pararmos nas boxes tudo mudava de figura e parecia que estava noutra corrida, andando sozinho e só com um único objetivo: tentar fazer a minha prova.” E que prazer se pode ter nisso?… “Bem, sempre acabamos por nos comparar com o nosso colega de equipa ou com a formação que está mais próxima de nós.”