F1: Equipas no fio da navalha

Por a 6 Abril 2020 17:45

O aviso deixado por Zak Brown deve ser ouvido com atenção. A F1 está frágil e neste momento todos os cuidados são poucos.

A crise económica que irá inevitavelmente afetar o mundo todo terá consequências tremendas para o desporto motorizado que apenas há alguns anos se livrou do fantasma da crise de 2008. Espera-se um cenário bem mais negro e complicado nos próximos meses e anos.

A F1 tem de se unir como nunca, para fazer frente a uma situação nunca antes vista. Há equipas que vão precisar de tomar medidas drásticas e que correm o risco de fechar caso não sejam acautelados os interesses de todos.

A perda de qualquer equipa nesta fase pode ser irremediável. Serão muito poucos os interessados em investir na F1 nesta fase, olhando às perdas que este ano implica, à chegada de novos regulamentos o que traz também um novo paradigma competitivo, sem esquecer o interesse cada vez maior nos eléctricos. Em tempos ouviram-se rumores da entrada de uma nova equipa, a Panthera Team Asia F1, mas esses rumores não se materializaram. Recentemente apenas Lawrence Stroll investiu forte na F1 com a compra da Racing Point e agora da Aston Martin, um projeto que começa numa fase complicada. Os investimentos na F1 têm sido poucos e desde 2014 e apenas a entrada da Haas e o investimento da Renault contrariou a saída da Catheram e da Marussia, numa fase em que se esperavam mais interessados (rumores da entrada da Audi e da Porsche nunca passaram disso mesmo).

Equipa Valor Receita (milhões dólares) Lucro (milhões de dólares)
1 Ferrari 1,35 426 -12
2 Mercedes 1,015 451 22
3 Red Bull Racing 640 327 1
4 McLaren 620 165 -137
5 Renault 430 195 -7
6 Williams 400 176 6
7 Toro Rosso 200 172 6
8 Racing Point 130 104 -17
9 Haas F1 115 95 -28
10 Alfa Romeo 105 84 -18

Os valores apresentados referem-se ao exercício de 2018.

A Mercedes tem sido a campeã dos lucros, mas não podemos deixar de olhar para o passado. O lucro deve-se ao sucesso nas pistas, mas este chegou a um preço: em 2014, ano do primeiro título, a equipa alemã gastou 380 milhões, mais 26% que em 2013 e mais 58% que em 2012. Isso significou uma perda de 150 milhões em 2014. O sucesso compensou e a equipa tem agora um valor muito aproximado do da Ferrari que compete na F1 desde 1950 e que conta com a herança da marca na valorização da equipa. Estas duas equipas pelo valor que apresentam, pelo sucesso e pelo apoio de fortes grupos do setor automóvel não deverão ter problemas em sobreviver à crise. Mas estes números são pouco convidativos para quem quer entrar na F1. Se para vencer é preciso gastar tanto, estruturas privadas dificilmente se interessarão e as grandes marcas conseguem ter exposição mediática com menos investimento. E se esse interesse era reduzido numa fase de crescimetno da F1, imagine-se em cenário de crise.

Segue-se a Red Bull que apresentou em 2018 um lucro de 1 milhão, mas que recebeu 92 milhões em patrocínio da… Red Bull. Significa isto que a marca de bebidas energéticas continua a colocar dinheiro na sua equipa, que gasta menos que as duas equipas de topo é certo, mas tem um forte investimento feito. Também aqui não se vê motivos para temer o pior, mas isso deve-se à muleta Red Bull.

Os problemas começam a partir daqui. A McLaren apresentou perdas significativas em 2018 e vem de uma fase negra. Apenas em 2019 se viram sinais de recuperação, mas para chegar ao topo a Mclaren começou a investir num novo túnel de vento e num novo simulador. A equipa de Woking está inserida num grupo, sólido mas pode ter sido apanhada contra a corrente e talvez por isso tenha sido a primeira a colocar grande parte do staff em licença. Não é expectável, do que é sabido publicamente, que a equipa tenha dificuldades em sobreviver, mas pode passar por momentos delicados. A Renault tem o apoio da marca do losango, mas o grupo tem passado por alguma instabilidade, com a aliança Renault- Nissan em risco, algo que poderá ser refletido na equipa de competição, que demora a mostrar os resultados desejados.

A Racing Point tem agora Lawrence Stroll e o projeto Aston Martin ao virar da esquina não estará na lista negra das possíveis vítimas.

Williams, Toro Rosso, Haas e Alfa Romeo, parecem ser as equipas mais frágeis. A Williams tem sido das equipas que mais tem sofrido a nível competitivo e pode ter dificuldades em passar pela tempestade, tal como a Alfa Romeo. No entanto a Williams tem a seu favor o peso do nome e a Williams Advanced Engineering que poderão ajudar a superar as dificuldades, apesar de ser a equipa que mais abertamente tem admitido problemas financeiros. A Sauber, estrutura por trás da operação da marca italiana Alfa Romeo deverá ficar sem o nome da marca e sem o respetivo apoio, o que pode colocar a equipa em maus lençóis. Os rumores da saída da Alfa da F1 chegaram numa fase em que as vendas da marca estavam em queda e esta crise pode precipitar o cenário da separação. A Haas depende da vontade de Gene Haas, que não parece ter vontade de investir sem retorno e os resultados de 2019 deixaram o americano de pé atrás. A Toro Rosso depende da Red Bull, e não é um cenário descabido o investimento diminuir ou até terminar, caso a situação fique mais difícil.

A F1 deve tomar medidas para garantir a sobrevivência das equipas e a sua própria sobrevivência. A receita vai cair muito este ano, com o cancelamento de provas, que implica quebra na entrada de dinheiro e compensações. A vontade da F1 fazer 15 a 18 corridas deve-se aos contratos as televisões que são uma grande fatia da receita, mas para isso tem de haver um mínimo de 15 corridas, caso contrário os valores a serem pagos podem ser substancialmente menores. Assim, todas as medidas que possam ajudar à diminuição de custos terão de ser aplicadas, a bem do desporto. Uma F1 com 8 equipas (16 carros) tem muito menos valor aos olhos de quem quer fazer publicidade. Manter as 10 equipas deve ser a prioridade da F1, para manter o seu valor e o interesse desportivo algo que nesta fase parece ser um desafio delicado.

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