F1: É uma linha muito ténue que separa o sucesso e o insucesso
O mais que aparente domínio da Red Bull na Fórmula 1 vem no seguimento de outras equipas, não sendo um fenómeno recente, tanto ao nível de construtores como até de pilotos, é algo que os detentores dos direitos comerciais e a FIA querem que não aconteça. Mas até que ponto é que o atual sucesso da Red Bull é, na mesma medida, resultado do menos bem conseguido trabalho dos adversários?
Não querendo tirar o mérito à Red Bull, que realmente tem um monolugar que tem tudo para vencer todas as corridas da atual temporada. É um bom chassis, com pontos muito fortes em termos aerodinâmicos, uma boa unidade motriz, fiável e potente (parece que a parceria entre equipa e Honda está no pico das suas capacidades) e conduzido por pilotos de valor, especialmente Max Verstappen. No entanto, assistimos à repentina passagem da Aston Martin do sétimo posto da classificação do mundial de construtores para a luta pelo segundo posto esta temporada, com 5 pódio já conquistados, enquanto Mercedes e Ferrari continuam em dificuldades.
Os relatos recentes de alguns responsáveis das duas equipas dão pistas para o que pode ter acontecido. Ambas entraram com o pé esquerdo em 2022, na temporada da alteração profunda do regulamento técnico e estão ainda a pagar por esses erros.
A Mercedes tentou ir numa direção e falhou por completo no conceito do seu monolugar de 2022. Foi um ano de aprendizagem, sempre disseram os responsáveis, mas só com o desenvolvimento desta temporada, depois de manterem a filosofia do carro, e riscar de vez com a teimosia do ‘zeropod’ – o carro sem flancos – é que perceberam os ganhos que podem ter com a alteração da geometria da suspensão, por exemplo. Ou seja, na mesma altura em que decidiram caminhar noutra direção, conseguem já pensar no desenvolvimento de outros componentes de forma a melhorar o desempenho do seu carro. Obviamente, noutras eras da Fórmula 1 isso aconteceria a um ritmo muito mais alto, mas com os constrangimentos financeiros do limite orçamental, assim como o número máximo de sessões de simulação, tudo é mais teórico e acontece a um ritmo muito mais lento. Podem existir melhorias, mas as outras equipas também o fazem e apesar de poderem falhar, o desenvolvimento acontece quase com a mesma velocidade.
A Ferrari, apesar de Frédéric Vasseur explicar que o conceito do carro não está em causa, debate-se com aquilo que chama de consistência. Conseguem ser rápidos em qualificação e sofrem em corrida. Os rumores que surgiram mais recentemente, dizem que o CEO da Ferrari, Benedetto Vigna, exigiu à equipa de Fórmula 1 que, por uma questão de imagem, o seu carro não podia ser mais lento em reta do que o Red Bull, passando a equipa a ter dificuldades em corrida. Parece algo rebuscado, mas…
O que se vai percebendo é que a Ferrari apresenta problemas, nem sempre os mesmos, em corrida. Em Barcelona Charles Leclerc queixou-se de algumas questões com o carro e a equipa alterou toda a traseira, incluindo a caixa de velocidades, e mesmo assim o piloto monegasco não teve o desempenho que se esperava. Ainda pior é a equipa italiana afirmar que não compreende o que aconteceu.
Desde 2022 que a equipa continua a apontar para a falta de consistência do seu monolugar, levantando-se todo um coro de críticas sobre a direção da Scuderia e até ao desempenho dos pilotos. Na prática, e segundo o que Vasseur explicou, o comportamento do carro deverá mudar com as atualizações durante a temporada, não sendo preciso uma ‘versão B’ como no caso da Mercedes. Ainda assim, e mesmo com muitas áreas por onde podem melhorar o carro, o limite orçamental terá o seu peso no desenvolvimento deste ano e na preparação do próximo.
Concluindo, a Mercedes e a Ferrari têm a sua dose de culpa na diferença para a Red Bull. E à semelhança do que pensa Stefano Domenicali, não será justo para a equipa de Milton Keynes que se alterem as regras só porque os adversários não conseguiram chegar ao mesmo nível.
Seria interessante um dia fazer o trabalho estatistico de comparação entre o numero de artigos sobre o dominio da Mercedes no começo da época hibrida e o actual da RB. Apostaria que ao fim de 8 anos de absoluto dominio da Mercedes tinha menos artigos a queixarem-se dessa vantagem que a RB em 2 anos.
Claramente mais vale cair em graça do que ser engraçado.