F1: E se Daniel Ricciardo “fugiu” a tempo?
O anúncio de um corte de 2 mil milhões de euros na Renault pode ser um mau sinal para a equipa de F1 e talvez Daniel Ricciardo tenha jogado em antecipação, trocando a equipa francesa pela McLaren.
A situação da Renault já não era a mais confortável antes da crise da Covid-19, com a instabilidade a instalar-se no grupo, que começou com a novela que envolveu Carlos Ghosn e que levou a perdas e que já na altura começavam a levantar interrogações sobre o projeto F1.
Agora a marca francesa anunciou um corte radical de 2 mil milhões de euros, optando por medidas drásticas, como cortar alguns modelos mais icónicos da marca (como o Megane ou o Espace) e apostar apenas nos produtos que mais vendem, que na atualidade são os SUV. Projetos como o Alpine A110 correm também sérios riscos e a palavra de ordem é cortar no supérfluo ou no que vende pouco, para sobreviver.
É lógico questionar se a F1 pode ser considerada supérflua nesta fase. Sabe-se que a F1, além de um laboratório para novas soluções para os automóveis do futuro, é também uma poderosa máquina de marketing, onde as marcas investem para ter visibilidade numa plataforma privilegiada. É uma forma de publicidade mais perigosa pois não é apenas um outdoor ou 30 minutos de imagens de carros a desfilar em paisagem paradisíacas ou em ambientes urbanos (os clichés mais usados). A F1 mexe com emoção e paixão de forma intensa e isso depende também de resultados. E a Renault não tem feito um bom trabalho nesse aspeto.
Não começou bem na era híbrida, com um motor que estava abaixo do que seria desejável e uma evolução que demorou muito tempo e que levou ao divórcio com a Red Bull, numa relação que azedou a um ritmo alucinante e que prejudicou a imagem da marca. A entrada na F1 foi uma espécie de ponto de honra para mostrar os pergaminhos da Renault na competição, onde já teve muito sucesso. Sabia-se que seria um percurso longo e difícil, mas era preciso ver passos seguros, rumo a um futuro risonho. Infelizmente, a Renault tem dado passos titubeantes, sem um rumo claro. Foram várias as promessas feitas que não foram cumpridas e a tão falada aproximação top 3 ainda está por fazer.
A entrada de Daniel Ricciardo foi arriscada e foi uma espécie de “All-In” para a equipa. Trazer uma estrela como o australiano, além de custar caro, iria expor as fragilidades do projeto, pois a qualidade do piloto estava acima de qualquer suspeita. O proprio Cyril Abiteboul admitiu isso. O resultado foi uma época para esquecer, com Ricciardo longe do que nos habituou e, para piorar, as equipas adversárias apareceram mais forte e a Renault ficou mal na fotografia.
Ricciardo chegou a 2020 com uma proposta da McLaren, mais pujante e com um projeto que agora parecia seguir o caminho certo, numa equipa bem estabelecida, com projetos na F1 e na Indycar e com uma liderança forte. Teve de optar entre isso e uma Renault que não lhe deu o que foi prometido, que mostrou alguma instabilidade e que já estava sujeita a alguns rumores de cortes, com a casa mãe a enfrentar quebras nos lucros.
A crise económica que está a chegar irá afetar todas as marcas e já vimos várias vezes saídas da competição que ditaram o fim de projetos e que deixaram pilotos em situações complicadas. E talvez tenha sido isso que motivou também Ricciardo a sair. Talvez não só a parte desportiva, mas também a conjuntura atual que poderia ditar um fim abrupto do projeto F1 da Renault.
O corte de dois mil milhões é gigantesco e não seria surpreendente que a equipa de F1 fosse atefada. Será preciso um trabalho muito bem feito por parte dos responsáveis do projeto para convencer as chefias que vale a pena investir milhões numa equipa que ainda não deu o que se pretendia.
Talvez por não sentir essa confiança Ricciardo saiu, para se proteger, deixando o projeto ainda mais fragilizado. A próxima cartada por parte de Cyril Abiteboul é importantíssima.
Tendo uma proposta de um team em ascendência fez bem em saltar fora de uma em descendência.