F1: Como a Red Bull levou Verstappen à vitória em Silverstone

Por a 12 Agosto 2020 17:09

A hegemonia da Mercedes em 2020 foi abalada pela vitória de Max Verstappen no GP comemorativo dos 70 anos da F1 e para isso bastou uma bela combinação de astúcia e… estratégia.

Se há coisa de que não nos podemos queixar é de falta de entusiasmo nos dois últimos GP realizados em Silverstone. Basta pensarmos nas derradeiras voltas da corrida no GP da Grã-Bretanha, em que os líderes Mercedes sofreram furos que custaram a segunda posição a Valtteri Bottas e quase roubaram a vitória a Lewis Hamilton, e na surpreendente e brilhante vitória de Max Verstappen no GP comemorativo dos 70 anos da F1. Finalmente conseguimos ver uma batalha bem mais perto com os Mercedes conquistadores e os lugares cimeiros da tabela baralharam-se, estando agora Verstappen no segundo lugar do campeonato mundial.

Mas nem tudo se baseia na tremenda corrida que o holandês teve no domingo passado, e se houvessem vénias a ser distribuídas, certamente que o estrategista da Red Bull merecia uma bem grande. Uma junção de estratégia e compostura levaram a que Verstappen conseguisse enfrentar os ‘Silver Arrows’, agora ‘Black Arrows’, fazendo antever uma série de corridas entusiasmantes daqui para a frente.

Na verdade, a vitória no GP comemorativo dos 70 anos da F1 começou a ser construída no sábado, mais especificamente durante a segunda ronda de qualificação, em que Max Verstappen saiu com pneus duros, enquanto que nenhum outro piloto teve a audácia do fazer. Foi, claro está, uma jogada bastante arriscada que quase viu o holandês a não avançar para a terceira ronda de qualificação. Mas a sorte, ou a sua qualidade, permitiram que avançasse para a última ronda de qualificação, onde eventualmente se qualificou na quarta posição na grelha de partida.

Verstappen podia agora começar a corrida de domingo com o composto de pneus mais duro entre os disponíveis e, em teoria, conseguiria um primeiro ‘stint’ mais longo do que os restantes pilotos que haviam partido em médios. E conseguiu. Um primeiro ‘stint’ de 26 voltas nos pneus duros valeu a Max Verstappen uma vantagem considerável sobre os Mercedes que pararam cedo para trocar os pneus médios à 13ª e 14ª voltas.

Daqui para a frente, a Red Bull teve a possibilidade de fazer a primeira paragem para ‘calçar’ pneus médios sem perder a liderança, ainda que Verstappen a tenha perdido por alguns segundos – e ainda fazer novamente a troca para pneus duros no momento em que Valtteri Bottas parava para trocar para o seu segundo set de borracha do mesmo composto. Lewis Hamilton conseguiu cuidar melhor dos seus pneus e estendeu o seu segundo ‘stint’ em 9 voltas a mais do que o seu colega de equipa até ter, inevitavelmente, de parar.

Claro que muito da vitória de Verstappen se deve às qualidades do holandês que, segundo o mesmo, se sentiu incrivelmente confortável com o carro, conseguindo, pela primeira vez esta temporada, rodar bem perto dos Mercedes, levando inclusive a corrida de vencida. Mas a estratégia da Red Bull teve um papel fundamental, numa corrida que parece ter sido analisada até ao mais ínfimo pormenor e tendo tirado todos os apontamentos necessários sobre a corrida anterior, especialmente em relação ao comportamento dos pneus.

Aqui há que considerar que, por ideia da organização da F1, e para tornar as coisas um pouco diferentes de um fim de semana para o outro, os pneus ficariam um nível mais macios. Assim, os pneus duros passariam a ser os médios e os médios passariam a ser os macios, tornando os macios numa espécie de super-macios, algo que vimos em 2018. Foi aqui que a jogada da Red Bull valeu mais pontos, ao começar a corrida naqueles que se anteviam ser os pneus com maior durabilidade (o composto mais duro), mas também aqueles com que Verstappen se havia sentido mais confortável no fim de semana anterior (pneus médios).

Em resposta aos problemas causados pelos pneus no GP da Grã-Bretanha, a Pirelli decidiu aumentar a pressão dos pneus em 1 PSI na traseira e 2 PSI na frente. Isto, embora tenha tornado os pneus menos suscetíveis a rebentamentos, tornou-os mais “bolbosos”, reduzindo a área de contacto entre o pneu e o asfalto. Isto, por sua vez, faz com que uma área mais reduzida da borracha aqueça muito mais rapidamente, cause bolhas e acabe por se desgastar mais depressa, exatamente aquilo que aconteceu com os pneus de ambos os Mercedes.

Claro é que a Red Bull tinha disponíveis os mesmo compostos de pneus que estariam pressurizados da mesma forma que os da Mercedes, mas, de acordo com Andrew Shovlin, Chefe de Engenharia de Pista da Mercedes, o problema de sobreaquecimento dos pneus não era uma novidade mas sim que a Mercedes estaria na pior extremidade desse problema e a Red Bull aparenta estar na melhor extremidade desse espectro.

Será agora bastante interessante perceber como irão os Mercedes reagir em Barcelona, onde se esperam temperaturas superiores a Silverstone, em que, geralmente, a vida útil dos pneus se torna mais reduzida.

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