F1 com ‘baixas’ ao longo da sua história: Equipas ‘desaparecidas’ em combate

Por a 20 Junho 2024 10:51

Hoje, são apenas dez as equipas participantes no Campeonato do Mundo de F1, e na fila para entrar estão mais, a Audi, e outras que podem aumentar o atual número.

Há muito que a F1 deixou para trás a sangria de equipas, o seu ‘quorum’ já não é colocado em causa como no passado mais ou menos recente.

Na longa história da F1, que se iniciou oficialmente em 1950, já viu muitas e boas formações desaparecerem na voragem que são as exigências inerentes ao mundo da modalidade mais importante do desporto automóvel. E, também, pequenas equipas e outras que mais não foram que subterfúgios legais ou algo duvidosos de indivíduos com poucos escrúpulos.

Falar de todas elas, mereceria sem dúvida, um livro.

Nesta abordagem, falaremos somente das mais recentes e de algumas mais emblemáticas. E ver-se-á que duas foram as razões principais para o seu desaparecimento – económicas ou alterações regulamentares.

ALFA ROMEO

Começamos com a Alfa Romeo, mas sabemos que regressou. A “Anonima Lombarda Fabbrica Automobili” foi criada em 1909 pelo aristocrata Ugo Stella. Enzo Ferrari foi um dos pilotos da equipa e foi com carros da Alfa que ele começou a saga da “Scuderia”, no início dos anos 30. Farina ganhou o primeiro título de Pilotos, em 1950 e Fangio o seguinte. No final de 1951, a Alfa retirou-se da F1, regressando como fornecedora de motores da Brabham, em 1975. Em 1979 construiu o seu próprio chassis e correu em França e na Bélgica, com Bruno Giacomelli. A morte de Patrick Depailler, em Agosto de 1980, foi um duro revés para a Alfa Romeo, que nunca mais se recompôs, deixando a F1 em 1988, então de novo apenas como fornecedora de motores, para a Osella.

Como se sabe, a Alfa Romeo regressou à F1 em 2018 após 32 anos ausente, numa parceria com a Sauber, que vai terminar brevemente por troca com a Audi. A equipa terminou em 8º em 2018 e 2019, depois em 9º em 2020.

ARROWS GRAND PRIX

Em 1977, a Arrows chegou à F1, formada por um grupo de trânsfugas da Shadow, descontentes com a gestão de Don Nichols. ARROWS era a junção das iniciais dos principais mentores da nova equipa – Franco Ambrosio, o financiador (A), Alan Rees (R), Jackie Oliver (O), Dave Wass (W) e Tony Southgate (S) – às quais foi acrescentado um segundo “R”. O primeiro carro foi contruído em apenas 53 dias; o seu piloto foi Riccardo Patrese, também ele oriundo da Shadow. Na segunda corrida, em Kyalami, liderou até o motor explodir.

A Arrows manteve-se na F1 durante mais de duas décadas, com mais baixos que altos e sem nunca vencer uma prova. Em 1991, foi renomeada como Footwork, mas os problemas financeiros agravaram-se. A liquidação da Arrows aconteceu no final de 2002, ano em que deixou de aparecer nas provas a meio da temporada.

BRABHAM

A Brabham (Motor Racing Developments, Ltd.) começou em 1961, quando Jack Brabham, campeão mundial de F1 nos dois anos anteriores, se juntou ao engenheiro Ron Tauranac, começando a construir chassis de F. Junior numa garagem, em Esher. O primeiro F1 – o BT3 – foi terminado a meio de 1962, estreando-se em Nürburgring. Jack conquistou o seu terceiro título, em 1966, sendo o primeiro piloto a conseguir a façanha de vencer o campeonato mundial de F1 ao volante do seu próprio carro. No ano seguinte, Denny Hulme “roubou” o título ao seu patrão, que nunca lhe perdoou a afronta. Brabham retirou-se da pilotagem em 1970 e a equipa foi comprada dois anos depois por Bernie Ecclestone. Voltou aos títulos com Nelson Piquet em 1981 e 1983. A partir daí entrou em curva descendente e grandes problemas monetários levaram ao seu encerramento em 1992.

COLONI

Depois de uma bem sucedida carreira na F3 como piloto, e depois como construtor, Enzo “Il Lupo” Coloni decidiu-se por um passo maior – a F1, modalidade que enfrentou a partir de 1987. Raramente os carros amarelo-limão conseguiam ser vistos nas grelhas de partida e, nos três anos seguintes, Coloni fez de tudo para se manter à tona. Inclusivé, conseguiu vender a equipa à Subaru, no final de 1988, correndo no ano seguinte com motores daquela marca. Com diversas vendas, saídas e entradas do próprio Enzo para a equipa, tudo acabou com o português Pedro Chaves, em 1991. Nunca conseguiu sequer qualificar-se para a… qualificação, batendo com a porta depois da prova portuguesa. Nova venda da equipa e adeus à F1 para Coloni, antes do fim dessa temporada.

ENSIGN

Falar do Team Ensign é falar de Morris Nunn. Mais conhecido por “Mo”, este vendedor de automóveis chegou à competição por acidente em 1962, quando adquiriu um velho chassis Cooper-Climax. Em 1972 contratou o nobre austríaco Rikky von Opel que, em 1973, patrocinou Mo Nunn na sua estreia na F1, com um carro concebido por Dave Baldwin. Von Opel afastou-se das pistas no final de 1974, deixando a Ensign em maus lençóis, de onde foi afastada por outro milionário, Teddy Yip. Até ao final da Ensign, em 1982, Yip esteve sempre presente na equipa de Mo Nunn, financiando pilotos e carros e, antes do derradeiro estertor, adquirindo mesmos os restos da equipa, no final daquela temporada.

FITTIPALDI/COPERSUCAR

Os irmãos Fittipaldi começaram a pensar em fazer uma equipa em 1973. Então, um jovem engenheiro chamado Ricardo Divila, que trabalhava há longos anos com a família, começou a desenhar o Copersucar F1. O carro tinha este nome devido ao principal patrocinador da equipa, e foi construído com a ajuda dos técnicos da Embraer, que construía no Brasil aviões com o mesmo nome. A apresentação do Copersucar FD01 foi em outubro de 1974. No final de 1975, Emerson tomou a surpreendente decisão de deixar a bem sucedida McLaren, enfrentando o desafio de levar ao título mundial a sua pequena equipa. “Emmo” terminou o ano com escassos três sextos lugares. Os resultados nunca foram brilhantes, e o bi-campeão do Mundo só de vez em quando conseguiu dar um ar da sua graça. O melhor resultado foi o 2º lugar no Brasil, em 1978. Com grandes problemas financeiros e sem apoios e crédito, o brasileiro abandonou a pilotagem em 1981 e, no ano seguinte, o sonho verde-amarelo terminou sem glória.

HESKETH RACING

A história da Hesketh é uma história de rebeldia. Lord Thomas Alexander Fermor-Hesketh nasceu em 1950, fugiu da rígida vida escolar que as raízes nobiliárquicas exigiam e, aos 21 anos, herdou toda a fortuna familiar, bem como as extensas propriedades de Easton Neston. Um ano mais tarde, decidiu fundar uma equipa de competição automóvel, contratando o irreverente James Hunt, em 1973 e utilizando um chassis March. O primeiro Hesketh nasceu em 1974, mas o lorde acabou por ficar sem dinheiro em 1976 e, dois anos depois, desapareceu do cenário da F1.

LARROUSSE

Esta equipa francesa nasceu em 1987, quando o antigo piloto e director da Renault Sports, Gerard Larrousse, se uniu a Didier Calmels. O primeiro piloto foi Philippe Alliot. No início de 1989, Calmels foi preso e condenado, por ter morto a tiro a mulher. O seu nome foi afastado do logotipo da equipa, que recuperou muito bem, ao ponto de, em 1990, ter conseguido mesmo um pódio, por intermédio de Aguri Suzuki. Porém, problemas com a FIA e financeiros tornaram dramática a vida da pequena equipa, que teve um fim piedoso, a meio de 1995, quando a Larrousse abriu falência; os carros para esse ano nem sequer tinham sido começados…

LIGIER

A Equipe Ligier é muitas vezes conotada como sendo a “Equipe de France”. Nasceu depois da morte de Jo Schlesser, em 1968. Era amigo de Guy Ligier, que abandonou as pistas nessa altura. Todos os carros com a sua chancela ostentavam a sigla JS como homenagem. Depois dos primeiros anos nos carros de “sport”, a F1 chegou em 1975. A Ligier conheceu algum sucesso na década de 70, tendo mesmo ganho diversas provas, com Didier Pironi, Jacques Laffite e Patrick Depailler. Contudo, a partir dos anos 80, Ligier começou a encontrar problemas monetários, que se foram agravando apesar de todos os esforços levados a cabo pelo ex-piloto e tudo terminou em 1997, quando a estrutura foi vendida a Alain Prost.

LOTUS

Outra das equipas que desapareceu e… reapareceu na F1, até desaparecer outra vez! Um dos nomes míticos da F1, a Lotus Engineering foi fundada por Colin Chapman em 1952. Depois de uma passagem por fórmulas menores, o homem do boné negro decidiu-se pela F1 nos finais da década de 50. Com sucesso – a primeira vitória de um Lotus sucedeu no Mónaco, em 1960, por intermédio de Stirling Moss. Mas a primeira vitória do Team Lotus aconteceu apenas um ano mais tarde, com Innes Ireland. Era o começo: até desaparecer de forma desagradável mas prevista, em 1995, a Lotus venceu seis Campeonatos do Mundo de Pilotos e sete de Construtores. E, também, 79 GP. Pedro Lamy foi um dos seus últimos pilotos, tendo sido ao volante de um Lotus que se acidentou em Silverstone, em 1994. A lenda continua – Chapman morreu em 1982, mas há quem diga que isso é mentira e se refugiou no Brasil, já então para fugir às dívidas.

A Lotus voltou à F1 em 2010 após 16 anos ausente, com financiamento malaio. Ganhou duas corridas na sua primeira temporada com Kimi Räikkönen e terminou em quarto lugar no campeonato dos construtores em 2012, mas os problemas financeiros levaram (novamente) ao seu desaparecimento após 2015.

MARCH

A March Engineering estabeleceu-se em 1969, fundada por Max Mosley (M), Alan Rees (AR), Graham Coaker (C) e Robin Herd (H). A equipa entrou para a F1 um ano mais tarde e, em 1971, perdeu o “C”, quando Coaker se matou com um dos seus carros. O seu primeiro grande piloto na F1 foi Ronnie Peterson, vice-campeão em 1971. Até ao final, a March venceu por três vezes. Contudo, nunca atingiu a prosperidade e o sucesso alcançado na F2 e, de desaire em desaire, cada vez mais endividada, de união falhada em união falhada, encerrou as portas em 1999, depois de mais um plano ineficaz de Herd para salvar a equipa.

OSELLA SQUADRA CORSE

A equipa começou nos anos 60 como Abarth-Osella. Em 1974, Vincenzo “Enzo” Osella estreou-se nos monolugares, mas foi apenas em 1980 que planeou conceber a sua equipa de F1. Tinha o apoio da Denim e Eddie Cheever coomo piloto; o primeiro chassis foi o FA1A. No ano seguinte, perdeu o patrocínio da Denim e, a partir de então, passou a utilizar quase sempre pilotos pagantes. Riccardo Paletti trouxe a Pioneer, em 1982 – mas o jovem italiano morreu no arranque para o GP do Canadá, e Osella voltou a ficar em maus lençóis. Esteve também ligado à Alfa Romeo, que lhe forneceu os motores a partir de 1983. Contudo, em 1989, as novas regras da F1 significaram o fim da equipa.

PROST

A Prost Grand Prix foi fundada por Alain Prost em 1997, depois de ter adquirido a Flavio Briatore a equipa Ligier. No dia seguinte, assinou com a Peugeot um acordo de três anos, para fornecimento de motores. Em 1998, surgiu o primeiro chassis Prost, o AP01, com motor Peugeot e desenhado por Loic Bigois. Olivier Panis e Jarno Trulli eram a dupla de pilotos. O carro revelou-se pouco fiável e, para 1999, Prost garantiu os serviços de John Barnard. O AP02, era bem nascido, mas não teve a ajuda dos motores Peugeot, grandes e pesados. Tudo piorou em 2000, apesar da contratação de Joan Villadelprat como director e Henri Durand como director técnico, e da venda de metade da equipa à família de Pedro Diniz, seu ex-piloto. Mas uma gestão cada vez mais desastrosa levou à falência em 2002, deixando o francês com dívidas superiores a 30 milhões de dólares.

SURTEES

John Surtees foi o primeiro piloto Campeão do Mundo em motociclismo e na F1. Foi um dos raros casos de sucessos tanto nas duas como nas quatro rodas. Quando se sagrou Campeão do Mundo de F1, em 1964, já tinha consigo 7 títulos no motociclismo, 3 em 350cc e 4 em 500cc. Sem mais nada a provar, em 1966 decidiu formar uma equipa, para correr na CanAm. A F1 chegou em 1970, ano em que abandonou as competições como piloto. Infelizmente, nunca conseguiu obter nesta vertente as mesmas alegrias que por trás do volante e o melhor resultado foi o 5° lugar entre os Construtores, em 1972, contando especialmente com o talento de outro ex-motociclista, Mike Hailwood. A Surtees foi mais uma das equipas que não conseguiram sobreviver e o fim impiedoso surgiu no finalda temporada de 1978.

TOLEMAN

A Toleman envolveu-se na década de 70 no desporto automóvel, sob diversas formas.

A entrada na F1 surgiu em 1980, sendo o primeiro chassis desenhado por Rory Byrne e pilotado, em 1981, por Brian Henton e Derek Warwick. A Toleman seria mais uma das muitas equipas que passaram pela F1 se não tivesse ficado ligada ao início da carreira de Ayrton Senna – que, no Mónaco, em 1984, quase causou ‘escândalo’ debaixo do dilúvio.

E se, no final do ano seguinte, não tivesse sido comprada por uma empresa de confecções e ‘fashion’, chamada Benetton Group.

TYRRELL

Ken Tyrrell foi lenhador na sua juventude, realizando fortuna e correndo aqui e ali em provas de F. Júnior e F3 locais. Um dia, resolveu constituir uma equipa, correndo com vários pilotos na F3 e em provas de clubes. Um deles chamava-se Jackie Stewart e foi ele que escolheu para estrear o primeiro chassis de F1 que inscreveu. Era um Matra, foi em 1968 e, três anos depois, estreou-se como construtor e com uma dupla notável: Stewart e a jovem estrela François Cévert. Nesse ano, o britânico sagrou-se pela segunda vez Campeão do Mundo e Tyrrell venceu entre os Construtores. Foi o seu momento de glória, único até ao final da equipa. De percalço em percalço, nas décadas seguintes foi-se afundando e, apesar de alguns bons momentos pontuais, nas décadas de 80 e 90, acabou na falência, em 1997.

O seu remanescente deu origem à BAR, e depois tornou-se Honda Racing F1 durante duas épocas (2006-2007), que deu lugar à Brawn GP durante uma época (2009), equipa que ganhou tanto o campeonato de pilotos como o de construtores. Em 2010, a equipa foi assumida pela Mercedes e tornou-se a equipa Mercedes GP, que mais tarde evoluiu para a equipa Mercedes-AMG Petronas F1 Team, uma das atuais melhores da F1.

WOLF

O nome da equipa era Walter Wolf Racing e foi fundada pelo magnata da venda de equipamentos de prospecção de petróleo nascido no Canadá, mas com ascendência austríaca, com o mesmo nome. Tudo começou com uma ligação a Frank Williams, durante a temporada de 1975. O primeiro Wolf surgiu em 1977, chamava-se WR1 e venceu a sua primeira prova, com Jody Scheckter, na Argentina, para surpresa de toda a gente. Frank Williams deixou então a Wolf, para formar a sua própria equipa. Em 1978, porém, as regras do efeito-solo não resultaram tão favoráveis para a equipa. Desiludido, Walter Wolf vendeu a equipa a Emerson Fittipaldi, no Inverno de 1979.

ZAKSPEED

Erich Zakowski era desde o final dos anos 60 um dos grandes nomes da preparação de carros para competição, na Alemanha, quando decidiu, em 1984, entrar na F1. O carro foi designado 841, tinha um motor turbo feito na Zakspeed, o nome da casa fundada por Zakowski – e, por acréscimo, da equipa de F1. Os primeiros pontos foram conseguidos com o 871, em 1987, através de Martin Brundle, 5º em San Marino. As restrições técnicas ao uso dos turbos tornaram os carros menos fiáveis e competitivos e a Zakspeed foi mais uma das vítimas das alterações dos regulamentos. E nem o regresso dos motores normalmente aspirados, em 1989, ou a contratação de Gustav Brunner, tornaram os Zakspeed mais eficientes.

Outras:

AGS; ATS; Andrea Moda; Forti; Haas/FORCE; Leyton-House; Life; Merzario; Modena; Onyx; Pacific; Penske RAM; Rial; Scuderia Italia; Shadow; Simtek; Spirit; Theodore

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paulo jorge.matos lopes
paulo jorge.matos lopes
1 ano atrás

Se não estou em erro, na foto da Lotus está o Minardi do Pedro Lamy.

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