F1: A pior altura para ser jovem talento

Por a 14 Setembro 2021 20:00

Se há coisa que os fãs não se podem queixar neste momento é da falta de talento na grelha de F1. Sempre houve talento na categoria máxima do desporto motorizado, mas vimos alturas em que alguns pilotos entravam sem ter capacidade para singrar neste exigente mundo. Hoje em dia o cenário é diferente, o que não deixa de ser negativo para quem quer chegar à F1.

Se olharmos para a grelha atual, temos uma “colheita” de excelência, com muitos e bons pilotos. Praticamente todas as equipas têm pelo menos um piloto que indiscutivelmente tem lugar na F1 (e com isto, queremos dizer que tem o talento para ser bem sucedido) e olhando para a grelha do próximo ano o cenário é igual. 

Olhando para a grelha de 2022, podemos ver que nas dez equipas, a Alfa Romeo tem o único lugar vago, que pode ser preenchido com Nyck de Vries ou Antonio Giovinazzi (segundo os rumores que correm). Assim, na grelha de 2022 teremos apenas três pilotos que são considerados pagantes: Nikita Mazepin, Lance Stroll e Nicholas Latifi. Ou seja, temos 19 pilotos que chegaram à F1 por mérito (sabemos que há sempre dinheiro e até outros fatores envolvidos, mas no geral apresentam argumentos válidos para serem bem sucedidos na F1). Como tal, são apenas três pilotos que a maioria trocaria por outros (apesar de Stroll começar a ser visto como uma opção válida por muitos), o que é um número muito reduzido. Os critérios mudam e cada um terá a sua visão desta grelha, mas não será difícil chegar ao consenso que temos uma excelente grelha de pilotos. Mais ainda, a maioria dos pilotos são ainda jovens, a começar as carreiras na F1.

E do lote de pilotos para 2022, apenas três estão perto da reforma, mas com pouca vontade de o fazer (Lewis Hamilton, Sebastian Vettel e Fernando Alonso). Chega-se assim facilmente à conclusão que a grelha de F1 está bem preenchida e que não se antecipam mudanças profundas nos próximos dois ou três anos.

Mas olhando para os jovens talentos que correm na F2 e F3, o cenário não é positivo. Uma grelha tão bem composta significa que não surgirão oportunidades em tempo útil. Na F2 temos nomes como Robert Shwartzman, Oscar Piastri, Liam Lawson, Théo Pourchaire e poderemos incluir Guanyu Zhou e Juri Vips como potenciais candidatos a um lugar na F1, que dificilmente terão lugar nos próximos anos. Se acrescentarmos alguns nomes sonantes da F3 como Dennis Hauger, Frederik Vesti, Jack Doohan e Olli Caldwell depressa chegamos à conclusão que há talento a mais, para lugares a menos. Mesmo se da lista apresentada, fizermos uma triagem mais apertada, conseguimos cinco ou seis nomes que mostram potencial para brilhar na F1, que neste momento não tem lugares e as próximas vagas só deverão surgir dentro de dois ou três anos. E nesta lista há jovens que não podem esperar mais três anos por uma oportunidade.

É um privilégio ver uma grelha de F1 com tantos jovens valores, que marcarão o desporto nos próximos dez ou quinze anos. Mas é também verdade que outros jovens talentos que agora começam a despontar não terão oportunidade de chegar à F1 porque simplesmente não há vagas. Este é um cenário que se repete invariavelmente dirão alguns, mas não estaremos muito longe da verdade se dissermos que nunca houve tanto talento jovem à disposição das equipas. É um sinal claro que a preparação dos jovens é cada vez melhor e que quem chega agora à F1 está incomparavelmente melhor preparado do que víamos há dez anos, por exemplo. Mas não deixa de ser uma pena vermos alguns jovens sem oportunidade de mostrar o que poderiam fazer. Terão certamente lugar noutras competições e o WEC afigura-se como uma excelente opção. Mas a F1 é a F1.

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6 Comentários
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Daniel Sousa
Daniel Sousa
3 anos atrás

Gostei muito do artigo. Os jovens da F2 e F3 não ficarão tapados. Terão que esperar. Como vemos, atualmente, fisica e mentalmente um piloto de 40 anos está preparado. Contudo, o pelotão não se vai manter igual por 15 anos ou mais. Vão haver sempre mudanças e esses jovens podem subir a qualquer momento. A F1 deve arranjar estratégias para não ser exigido às equipas ter pilotos pagantes. Haver mais carros por equipa é uma opção, embora gostasse de ver mais equipas diferentes. Porém, a meu ver, a injustiça não está em serem poucos lugares para muito talento. A injustiça… Ler mais »

Frenando_Afondo™
Frenando_Afondo™
3 anos atrás

Pois se querem mais talento na F1, parem de aceitar pilotos pagantes e sem talento acima da média. Agora não podem chorar que os jovens estão tapados, começar a pensar em ter três carros por equipa e a consequência que isso tem no orçamento limitado das equipas, porque vai acabar por ter o mesmo resultado: equipas pequenas começam a ter problemas em conseguir manter três monolugares e têm de recorrer a pilotos pagantes.

Se querem três carros por equipa para permitir mais talento da F2 e F3, então pensem em como sustentar melhor as equipas pequenas ou voltamos ao mesmo.

sr-dr-hhister
sr-dr-hhister
3 anos atrás

Off topic;
Mais uma sóbria análise do acidente por parte de Jolyon Palmer;
https://youtu.be/C_J-sfngex4

Pitão
Pitão
3 anos atrás

Com o atual formato de F1, F2 e F3, poderia fazer tipo campeonato, a e tendo em conta que quem é campeão na F2 não pode continuar na F2, acho, por exemplo, os 4 pilotos “não rookies” pior classificados na F1, deviam ser obrigados a ceder lugar aos 4 pilotos melhor classificados de F2, sendo que poderiam ter a opção (os da F1) de trocar de equipa, desde que fosse para uma equipa que se tenha classificado entre as 6 primeiras, por exemplo, Nikita Mazepin e Mick Shumacher são rookies, podem continuar, Latifi, Russel, Giovinazzi e Raikonen, tinham que, ou… Ler mais »

Last edited 3 anos atrás by Carlos Soares
Cágado1
3 anos atrás

Esta situação pode levar ao ridículo de o Piastri, líder da F2, evitar ser campeão, para poder voltar a correr na F2 no ano que vem. Estou fartinho de dizer qual é o principal problema, é só uma questão de ouvirem e tentarem arranjar soluções. Com a quase inexistência de testes, torna-se muito mais valioso para as equipas de F1 a experiência. A aposta em pilotos experientes é cada vez maior, pelo risco da inexperiência. Dantes carreiras de 10 anos na F1 eram uma raridade, agora é o mais comum. Mesmo os jovens talentos que são apontados na F1 actual… Ler mais »

Homem_do_Leme
Homem_do_Leme
3 anos atrás

Infelizmente é bem verdade, com apenas 20 lugares na formula 1 e com vários pilotos “seniores” a estenderem a sua permanência na F1 (até porque continuam a ser muito competitivos), os jovens (alguns muito talentosos) das formulas inferiores arriscam-se na sua grande maioria a marcar passo e a verem a F1 apenas como um sonho!
Como já aqui muita gente escreveu a solução passava por haver mais equipas, mas infelizmente a FIA não parece para aí virada, o que é pena…

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