Eric Boullier: “Amanhã é a última hipótese de garantirmos um acordo para a F1”
Após o primeiro dia dos testes de pré-temporada da Fórmula 1, Eric Boullier, diretor de corridas da McLaren-Honda, esteve à conversa com o AutoSport. Aqui fica:
AutoSport – Ecclestone?
Eric Boullier – Primeiro fiquei entusiasmado. Eu entendo a frustração dele, mas temos de viver com o que temos agora e amanhã haverá um importante encontro, em Genebra, do Grupo de Estratégia da Fórmula 1 e da Comissão da Fórmula 1, por isso, vamos ver como é que podemos aliviar a frustração e melhorar o desporto, pois é o que todos queremos.
AS – Qual é a frustração?
EB – Ele é o líder comercial deste desporto, portanto preocupa-se com a perda de espetadores. Porém, isso não são preocupações nossas, já que a nossa função é garantir os carros em pista seguindo as regras.
AS – O que pode mudar?
EB – Cada um tem a sua opinião. Nós pensamos que o importante é criar carros mais estimulantes e rápidos. Os pilotos, obviamente, iriam gostar de ter nas mãos um carro rápido – ou melhor, carros mais difíceis de pilotar – por isso têm havido discussões, desde há seis meses, para se tentar criar carros mais rápidos e também para se alterar ligeiramente a sua forma. Sei que já há concordância nos diferentes grupos de trabalho, cabe agora aos dirigentes máximos da Fórmula 1 a decisão final sobre este assunto.
AS – Do que viu até agora, a Mclaren tem a confiança restaurada no seu regresso à pista?
EB – Sim.
AS – O que é que lhe dá essa confiança?
EB – Todos os dados que obtivemos anteriormente estão de acordo com os resultados esperados, e se o trabalho de inverno foi baseado em expectativas e simulações, isso é um bom sinal e mostra que tudo está a funcionar em pleno, o que significa que o carro está melhor do que no ano passado, por isso vamos ver.
AS – O que disse o Button até ao momento?
EB – O mesmo de sempre. Falou da sobreviragem e da subviragem…mas é isso mesmo que é bom. Isto é, se se começa a queixar de algo, é porque se está no bom caminho.
AS – Quão melhor em relação ao ano passado?
EB – Melhor, é melhor. Não vou quantificar, para evitar que se criem expectativas erradas, fora da nossa esfera. Nem mesmo nós sabemos o que as outras equipas fizeram durante o Inverno, nem temos certezas quanto à fiabilidade.
AS – Vão ganhar uma corrida este ano?
EB – Não posso responder a isso.
AS – Que expectativas têm?
Bem…sobre isso também não posso dizer nada! Poderia estar errado, dá-me mais alguns dias.
AS – A Mclaren não vai estar presente senão para ganhar, não é?
EB – Claro, mas vai ser preciso que tudo esteja a funcionar bem. Quanto a mim, sou o responsável pela parte de chassis e pilotos, entre outros aspetos. Nesse campo estamos a tentar que tudo esteja a funcionar e a tempo, porém, quanto ao motor, isso depende da Honda. Ganharemos quando tivermos o melhor piloto, o melhor chassis, a melhor equipa, o melhor carro e o melhor motor.
AS – Impressões do motor?
EB – Penso que há algumas melhorias ao nível do motor. Eles estão claramente no bom caminho. Têm solucionado algumas das questões que nos causaram problemas no ano anterior, portanto está-se a melhorar.
AS – Novidades de Alonso? De bom humor?
EB – Ele parece-me bem. Está feliz e, claro, está curioso sobre o que irá acontecer em pista. Ele esteve na fábrica, na semana passada, e ficou satisfeito com o que viu do carro. O nível de confiança aumentou, portanto estamos confiantes com os resultados.
AS – A mentalidade teve de mudar na equipa. Quão perto estão, neste momento, da forma ideal?
EB – Estamos definitivamente melhor e , logicamente, mais perto daquilo que seriam as condições ideais. No entanto, devo confessar que numa corrida nunca estamos 100% felizes. Temos de estar sempre a melhorar e , quando pensas que atingiste o limite, descobres que há sempre algo mais onde evoluir. Mas, em geral, estamos bem.
AS – Quão aliviados estão pelo facto de estarem aqui, sem falarem no que correu menos bem?
EB – O passado foi o que foi. Havia algo de errado que tivemos de corrigir e para além disso ainda houve o acidente do Fernando Alonso. Eu só posso falar do carro, da sua performance e deste primeiro dia.
AS -Um sinal de alívio?
EB – Todos os anos é a mesma coisa. Quando trabalhas ao longo do inverno com base em números obtidos em simulações é obviamente um alívio verificar se correspondem ou não correspondem à realidade, e sobretudo se funcionam ou não. No nosso caso tivemos um ano muito difícil o ano passado, mas apesar dele tu não consegues controlar tudo, portanto estávamos apenas à espera que tudo corresse bem e de poder rodar o carro em pista o mais possível.
AS – Há um apetite por uma revolução na Fórmula 1?
EB – Não acredito que seja uma revolução ou onde tu desenhas um limite nessa revolução. O desenho do carro tem muito mais downforce, os pneus são maiores. Isso é uma revolução para ti? É sim senhor.
AS – As equipas poderão chegar a acordo numa direção mais positiva amanhã?EB – Não sei se iremos chegar a acordo, mas se não o conseguirmos então teremos alguns problemas porque o limite para essa mudança de uma maioria para unanimidade é o dia 1 de março. Portanto, amanhã é a última hipótese de garantirmos um acordo.
AS – Qual o motivo para a quebra das audiências televisivas?
EB – A minha opinião é que, por razões óbvias, fomos numa direção de televisão por cabo e esta tem um número reduzido de espetadores em comparação com os canais abertos, o que é senso comum. Não estou a dizer que está errado ou que é mau.
AS – Os números baixaram porque os direitos passaram para a Sky?
EB – Eu não disse que era mau ou que era bom. Apenas expressei uma opinião.
AS – Acredita que a Fórmula 1 está de boa saúde?
EB – Não estou igualmente a dizer isso.
AS – Mas está ou não está?
EB – Penso que essa é uma discussão diferente e não tenho a certeza se este é o local certo para tê-la. Como disse anteriormente, tudo pode ser melhorado, portanto podemos sempre melhorar alguma coisa. Depende do que queres atingir quanto a patrocinadores, do ponto de vista comercial, e do ponto de vista da notoriedade da Fórmula 1. Não vou entrar em detalhes nessa matéria.
AS – O que ainda precisa mudar na McLaren?
EB – Penso que agora temos uma boa base. É tempo de reconstruir. Mas se olhares para os outros carros, como a Red Bull, Mercedes e a Ferrari, o atual regulamento com todas as suas restrições força-nos a desenvolver um conceito de correto, válido, para dois ou três anos, portanto necessitamos primeiro de tempo. Decidimos ir numa direção radicalmente distinta e de certo modo essa decisão compensou porque em termos de performance apanhámos algumas grandes equipas o ano passado e agora temos de esperar para ver onde estamos em 2016. A base é boa e a confiança existe. Todos estão a trabalhar no duro e em conjunto, o que é importante.
AS – O fim dos ‘tokens’ no próximo ano dá-vos esperança?
EB – Sim, mas será o mesmo para todas as equipas. Penso que é assim que as coisas devem ser e que o fabricante de motores deve ter menos restrições, em particular quando é visível que estão a ter dificuldades em dominar esta tecnologia muito complicada. Enquanto puderem suportar os custos não há problema, e enquanto não voltarmos ao preço de uma equipa privada e tudo mais.
AS – Pode haver a necessidade de prolongar a introdução das regras de 2017 por mais um ano?
EB – Penso que isso seria um falhanço, para ser honesto. Estamos a discutir este assunto há algum tempo, portanto se não conseguirmos chegar a acordo será um falhanço.
AS – Falar sobre a McLaren tomar conta do chassis e a Honda do motor deixa entender que existe um afastamento da ideia de ‘uma única equipa’ proferida o ano passado?
EB – Não. Continuamos a ser uma única equipa. Não tentes encontrar histórias onde elas não existem. Somos uma só equipa. Não te vou dizer como o motor é desenhado e desenvolvido porque não sei. No que à comunicação diz respeito é claro que o Arai irá explicar-te tudo o que fizeram no motor e que eu irei explicar-te o que fizemos no chassis.
Luís Vasconcelos
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