Eddie Irvine: Um VELHO ‘playboy’ Da F1
De língua afiada e politicamente pouco correto, Eddie Irvine marcou a diferença numa F1 insossa e sem brilho. Os seus óculos escuros escondiam uns olhos gozões e, por baixo das suas melenas encaracoladas de ‘puto’ de bem com a vida, escondia-se um talento que, mesmo sem ser inaudito, era explosivo o suficiente para lhe permitir ter sido um segundo piloto acima da média. Há precisamente 20 anos, quase foi Campeão do Mundo de Fórmula 1…
Filho de um antigo piloto amador, Edmund, Eddie – que tem o mesmo nome do pai – teve o seu primeiro cheiro a gasolina queimada nas pistas quando um dia foi de férias com a família até Silverstone, onde se corria o GP da Grã-Bretanha. Estreou-se com 18 anos, com um Fórmula Ford e a sua própria equipa.
De progressos algo lentos, os seus melhores resultados surgiram quando, em 1987, foi convidado para piloto oficial da Van Diemen. Nesse ano, venceu os campeonatos ESSO e RAC de FF 1600, os dois mais importantes da modalidade, além dos FF Festival, em Brands Hatch, então uma espécie de campeonato do Mundo dessa competição. Nesse ano, sempre com a Van Diemen, foi vice-campeão no BBC FF 2000, Estes resultados levaram-no, no ano seguinte até à F3,
com a West Surrey Racing, terminando o campeonato britânico em 5º lugar para, em 1989 se estrear na F3000, com a Pacific Racing.
Competição onde fez um segundo ano em 1990, já com a Jordan (foi 3º). E foi a Jordan que o levou à F1 em 1993, depois de três anos na F3000 japonesa, com a Cerumo, onde conquistou três triunfos – um por época, sendo Vice-Campeão em 1993. Na F1, a sua melhor temporada foi a de 1999 – o único ano na Ferrari em que foi um verdadeiro primeiro piloto e não teve que trabalhar para Michael Schumacher que, para escândalo de uns tantos, algumas vezes ‘humilhou’, como por exemplo na primeira prova desse ano, na Austrália, que venceu; ou no início da temporada de 1997, em que chegou a ter mais pontos que o alemão.
Claro que isso – ser primeiro piloto – só sucedeu depois do acidente de Schumacher, mas então a equipa apostou em força nele acreditando que tinha talento suficiente para dar e vencer o título. Mesmo com o seu amigo Mika Salo – que substituiu Schumacher – a ajudá-lo, a certa altura a Ferrari percebeu que não iria conseguir bater Mika Hakkinen, pois o irlandês não mostrava capacidades para evoluir o F399.
E, quando David Coulthard e Heinz-Harald Frentzen se juntaram a Hakkinen na corrida ao título, a Ferrari teve que chamar de volta um Schumacher ainda sem estar a 100%. Salo saiu, Schumacher assumiu com galhardia o papel de escudeiro (segundo piloto) de Irvine. A sua ajuda permitiu ao irlandês chegar á sua pista favorita, Suzuka, onde se jogava o título, na frente da classificação. Mas isso foi insuficiente.
Depois, quando perdeu o título e percebeu que nunca mas iria voltar a ser primeiro piloto, tendo que, em 2000, continuar a trabalhar para ‘Schumi’, Irvine bateu com a porta e entrou na neófita Jaguar. Mais maduro, teve em 2001 um gesto que quase o conciliou com os seus inúmeros detratores, que o desprezavam pelo seu mau feitio: em Spa, saiu do seu Jaguar e correu para o Prost de Luciano Burti, quando este se despistou com violência, ajudando-o a sair dos destroços e, quiçá, salvando-o de males maiores. Na verdade o único local onde era quase idolatrado era em Itália, onde viveu vários anos e cuja língua dominava. Rico e ‘bon vivant’, em 1988 conheceu no GP de Macau aquela que durante anos viria a ser a sua namorada, Maria Drummond e de quem teve a sua única filha, Zoe. O nascimento desta foi, segundo Eddie Irvine, o “melhor momento da sua vida”, apesar de assumidamente não gostar muito de crianças. Eddie Irvine, que nunca se considerou um playboy, afirmando que o trabalho sempre foi 90% da sua vida, saltitou de coração em coração, depois de deixar Maria Drummond. Entre os seus muitos casos, o mais mediático foi o que teve com Pamela Anderson.
Em 2006 foi considerado como a quinta pessoa mais rica na Irlanda. Verdadeiro show man, foi autor e apresentador de alguns programas na rádio e TV, tipo celebrity show, como um no Sky One, em que duas equipas de pilotos célebres competiam uma contra a outra. Uma dessas equipas era capitaneada por David Coulhard. O último desses programas foi em 2010, um talk show de meia hora na TalkSport Radio, chamado LG Grand Prix Show, lado a lado com o apresentador Andy Goldstein.
Vice de Mika Hakkinen em 1999: A oportunidade perdida
O ano de 1999 foi, para Eddie Irvine, o da oportunidade perdida. Oportunidade de ser Campeão do Mundo, no que seria o regresso da Ferrari aos títulos mundiais de Pilotos, 20 anos depois do último, em 1979, com Jody Scheckter.
Nesse ano, Irvine teve tudo do seu lado – até um fortuito acidente de Michael Schumacher em Silverstone, em que o alemão quebrou uma perna, ficando afastado das pistas durante seis corridas e eventualmente do seu terceiro título de Campeão do Mundo e primeiro com a marca de Maranello. Todas as portas foram então abertas para que Irvine sucedesse ao seu colega de equipa. Só que nem sequer a ajuda que este lhe deu ao regressar a Malásia, declaradamente para o proteger no seu caminho para o título, foi suficiente. Afinal, nem todos os pilotos, mesmo com as melhores armas a seu dispor, têm estofo de campeões: Irvine, declaradamente, não tinha!
Vencedor nas duas provas seguintes ao acidente de Schumacher – em que ele mesmo foi 2º- os GP da Áustria e da Alemanha, Irvine foi depois 3º na Hungria e 4º na Bélgica, assumindo a liderança do campeonato e tornando-se um improvável e inesperado candidato ao título. O seu principal rival era Mika Hakkinen.
Em Monza, recolheu apenas um ponto mas o finlandês desistiu e, no Nürburgring, onde teve lugar o GP da Europa, ficou em 7º, não pontuando. Com Hakkinen que foi 5º, perigosamente perto, passou a precisar de ajuda para garantir o eventual título de Campeão. Foi então que entrou em cena Michael Schumacher, embora ainda não totalmente recuperado da fratura na perna sofrida em Silverstone. Mesmo assim, na Malásia, Schumacher conseguiu guardar as costas de Irvine, que ganhou, roubando preciosos pontos com o seu 2º lugar pois Hakkinen ficou mesmo atrás. À chegada a Suzuka, tudo parecia bem encaminhado para Irvine, que tinha 70 pontos, mais quatro que Hakkinen – bastava apenas que este não conseguisse ganhar e, para isso, lá estava Schumacher.
Só que na pista nipónica as coisas não correram nada bem. Logo nos treinos, Irvine sofreu um violento acidente e não conseguiu melhor que o 5º lugar na grelha, onde Schumacher estava na pole position, ao lado de Hakkinen. Mas, na corrida, este assumiu o comando logo no arranque, nunca mas daí saindo. E, mesmo sendo 2º, Irvine já não conseguiria ser campeão, pois o desempate por triunfos seria sempre favorável ao finlandês da McLaren. Só que Irvine nem isso conseguiu ser – terminou no lugar mais baixo do pódio, atrás de Schumacher. E adeus título! Até nunca! Despedido da Ferrari, entrou então para a Jaguar, saindo da F1 pela porta pequena, três temporadas mas tarde. Para se dedicar aos negócios e tratar de enriquecer. Sem nunca deixar de ser aquilo que sempre foi: um playboy irritante, para muitos um émulo de James Hunt. Mas sem a mesma classe…
Ataques de mau feitio
Eddie Irvine foi em 2013 condenado a seis meses de prisão efetiva, por distúrbios e agressões perpetradas num clube noturno em Milão, em 2008. A cena aconteceu quando terá enviado um piropo à namorada de Gabriele Moretti, um rico socialite local, filho de uma antiga presidente da Câmara da cidade, quando conversava com ela sentado um sofá e ambos beberricando ‘vodka-orange’. O VIP não terá gostado do atrevimento do ex-ferrarista e ambos se envolveram numa cena de pugilato, que terá incluído agressões mútuas com copos de vidro partidos. O caso chegou a tribunal, que decidiu de forma salomónica, condenando ambos os intervenientes a penas idênticas.
Esta não foi a primeira vez que ‘Fast Eddie’, como era conhecido enquanto pilotava F 1, se meteu em trabalhos. Hoje multimilionário, depois de bem-sucedidos investimentos imobiliários e em construção naval, a sua fortuna foi estimada em mais de 90 milhões de euros, embora outras fontes garantam que ultrapassa os 200 milhões. Irvine tem uma mansão em Milão, bem como propriedades em Dublin, Miami e New York. Solteiro, mas pai de um filho, Irvine foi preso em Londres, em 2006, depois de ter sido apanhado a ‘pilotar’ em pleno Hyde Park, a velocidades proibitivas, uma… scooter, sem ter consigo licença de condução ou sequer documentos ou seguro do veículo.
Curiosamente, tornou-se uma espécie de herói nacional em Itália, depois da cena no nightclub milanês. Desde então, nenhum restaurante lhe cobrou qualquer fatura pelas refeições, pois declararam o irlandês como digno de comer em Itália… à borla e para sempre!
Bilhete de Identidade
EDDIE IRVINE (Newtownards, County
Down, Northern Ireland, 10 de Novembro
de 1965)
Nome: Edmund “Eddie” Irvine Jr.
Nascimento: 10 de Novembro de 1965
Atividade na F1: 24/10/1993 – 13/10/2002
Primeiro GP F1: GP Japão 1993
Último GP F1: GP Japão 2002
GP disputados: 148 (147 largadas)
Vitórias: 4
1ª Vitória: GP Austrália 1999
Última vitória: GP Malásia 1999
Pole positions: –
Melhores voltas em corrida: 1
Pódios: 26
Pontos: 191
Melhor resultado CM F1: 2º, em 1999 (74
pontos)
Marcas/Equipas: Jordan (1993-95); Ferrari
(1996-99); Jaguar (2000-2002)
PALMARÉS (F1)
1993 – Jordan: 2 GP; 22º CM, 1 ponto
1994 – Jordan: 13 GP; 16º CM, 6 pontos
1995 – Jordan: 17 GP; 12º CM, 10 pontos
1996 – Ferrari: 16 GP; 10º CM, 11 pontos
1997 – Ferrari: 17 GP; 7º CM, 24 pontos
1998 – Ferrari: 16 GP; 4º CM, 47 pontos
1999 – Ferrari: 16 GP; 4 vitórias; 2º CM, 74
pontos
2000 – Jaguar: 16 GP; 13º CM, 4 pontos
2001 – Jaguar: 17 GP; 12º CM, 6 pontos
2002 – Jaguar: 17 GP, 9º CM, 9 pontos