Como a Ferrari ‘enganou’ a Mercedes… outra vez!
por José Manuel Costa
Se na Austrália, a Ferrari ‘enganou’ a Mercedes com mestria tática e alguma sorte devido ao Virtual Safety Car e ao problema no programa de cálculo da Mercedes (provavelmente, depois da exibição de Hamilton na qualificação com o ‘Party Mode’ do motor da casa de Estugarda, pensou que eram favas contadas) as coisas foram bem diferentes no Bahrein, embora com o mesmo desfecho.
A casa de Maranello voltou a dar uma ensaboadela tática aos homens da Mercedes, mas Sebastien Vettel teve de sofrer muito para conseguir, pela primeira vez, vencer duas corridas consecutivas ao volante de um Ferrari.
A Mercedes acreditou que tinha a prova ganha quando Vettel parou para trocar os pneus supermacios pelas borrachas macias, ao passo que Valtteri Bottas e Lewis Hamilton passaram para os Pirelli P Zero médios. “Quando terminámos a paragem e saímos das boxes a uma distância que seria possível encurtar quando Vettel fizesse a segunda paragem ou ficasse sem pneus na parte final da corrida, pensei que tínhamos ganho” disse um desapontado Toto Wolff no final da corrida.
Contas feitas, a Mercedes tinha a corrida ganha à volta 21, mas 36 voltas depois viu o Ferrari de Sebastien Vettel cruzar a linha de meta no primeiro lugar com pouco mais de meio segundo de vantagem Valteri Bottas. O que diabo aconteceu?
Tudo começou quinze dias antes quando a Mercedes descobriu que o carro de Hamilton conheceu uma fuga hidráulica que obrigou à troca da caixa para o Bahrein. A penalização de cinco lugares era inevitável e a equipa trabalhou no Bahrein em cima dessa realidade.
Para piorar as coisas, o fim de semana nas arábias não correu de feição à Mercedes durante os treinos livres. As dificuldades em manter a temperatura nos pneus traseiros regressaram e os supermacios foram uma dor de cabeça para Hamilton e Bottas.
Perante este cenário, os estrategas da Mercedes fizeram o britânico trabalhar duro com os médios durante os treinos de sexta feira. E, como habitualmente, Hamilton revelou excelente ritmo de corrida com os pneus mais duros da Pirelli.
A qualificação mostrou como os Mercedes não estavam à vontade com os pneus mais macios e, contas feitas, Hamilton teve de largar de nono, enquanto o seu colega de equipa finlandês saía de terceiro.
O trabalho feito nos treinos livres e a utilização de pneus macios na Q2 para Hamilton deixou claro que a Mercedes tinha desenhado uma estratégia de uma paragem para os seus pilotos, com Bottas a ter de sofrer com os supermacios e Hamilton a ter de mimar os macios que foram montados no seu carro até á troca para os médios, mas com a vantagem de não tocar nos malditos supermacios.
O arranque foi determinante para as aspirações de Lewis Hamilton. Enquanto Valtteri Bottas colocava um grão de areia na tática da Ferrari ao ultrapassar um atrapalhado Kimi Raikkonen, a contas com a sujidade da pista no lado de onde saiu, o campeão do mundo em título saiu disparado e ganhou três lugares… que perdeu na travagem para a primeira curva chegando ao final da primeira volta em 10º.
Claro que Hamilton ainda deu um ar da sua graça – a ultrapassagem em plena reta da meta ao Renault de Niko Hulkenberg e ao Force India de Esteban Ocon, depois de superar o McLaren de Alonso, ficará na memória da corrida – e ainda tentou ser bravo ao parar imediatamente depois de ser ultrapassado por Vettel na luta pelo primeiro lugar. Mas finavam-se, aqui, as esperanças do campeão do mundo ir mais longe que o lugar mais baixo do pódio.
Com os Red Bull fora de luta, a Mercedes depositou todas as esperanças em Bottas. Mas o finlandês voltou a não mostrar aquele nervo que se exige de um piloto que está na corda bamba, e quase a cair borda fora da equipa dominadora da Fórmula 1.
O alemão da Ferrari foi o segundo a parar depois de Bottas, mas já bem depois da janela para duas paragens, questão de poder alterar a estratégia. Porém, com os pneus macios montados no SF71H, Vettel estava ‘condenado’ a duas paragens e com Bottas a menos de 10 segundos, a Ferrari enfrentava a derrota e parecia que a Mercedes tinha feito “set, game and match”.
Mas, perante o ritmo de Bottas e a diferença a não aumentar para lá dos 10 segundos, o alemão escutou a voz calma de Riccardo Adami dizer-lhe “Seb vais ter de levar até final esse jogo de pneus”. A Ferrari mudava de estratégia e ‘obrigava’ os pneus macios a durarem 39 voltas.
Pelo caminho, novo grão na engrenagem da estratégia da Ferrari. Para perceber se o alemão tinha alguma possibilidade de parar segunda vez e recuperar o comando, mandaram parar Raikkonen para trocar os pneus macios pelos supermacios.
Infelizmente, o finlandês atropelou um mecânico e Vettel ficou sem respostas e a Mercedes mais tranquila pois não teve um Ferrari velocíssimo a pressioná-la. E pronto, estava dada nova cambalhota na corrida com a Ferrari, agora, a fazer xeque mate à Mercedes! Mas…
A dez voltas do final, Vettel mentiu à equipa ao dizer que tinha tudo controlado, mas percebeu-se rapidamente que os Pirelli P Zero macios já tinham acabado há algum tempo e o alemão limitava-se a sobreviver ao forte ataque que Bottas lançou nos últimos 50 km da corrida, depois de ter desperdiçado o golpe de misericórdia na Ferrari um par de voltas antes. Tarde demais.
Segunda vitória da Ferrari, desta feita com menos sorte e mais suor, igual jogo de cintura da Ferrari com alguma passividade de Bottas, a saída de cena dos velozes RedBull e o atraso de Hamilton, a pintarem o cenário para a segunda derrota da Mercedes face à Ferrari.
José Manuel Costa
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