Chase Carey: “Vencer na F1 tem que ser quem gasta melhor e não quem gasta mais”
É oficial. A Fórmula 1 vai arrancar no fim de semana de 3 a 5 de julho na Áustria, com dois Grandes Prémios em fins de semana consecutivos. Chase Carey, Diretor-Executivo da Fórmula 1, pode respirar e alívio…
Chase Carey faz-nos recordar nomes como Chester W. Nimitz ou William Halsey, Jr., almirantes da Marinha Norte-Americana durante a Segunda Guerra Mundial, que com os seus feitos heróicos se imortalizaram. Salvaguardadas as dividas distâncias da relevância histórica,Chase Carey é um CEO de um porta-aviões chamado F1, que tem vindo nos últimos meses a passar por uma enorme ‘Tempestade Perfeita’, e que pelos vistos vai ultrapassá-la, também, pelo seu bom trabalho.
Formado em Harvard, lançou a Fox Sports, Fox News, e depois da do conglomerado norte-americano, Liberty Media ter adquirido a Fórmula 1, Chase Carey, tem sido o homem do Leme. E neste momento pode começar a respirar de alívio, “sem ventilador”, pois a F1 já começa a navegar em mar menos turbulento, e pode dizer que tem “terra à vista”. A F1 já confirmou o arranque para o fim de semana de 3 a 5 de julho e agora o ‘diabo está nos detalhes’. O desporto global está a regressar aos poucos, mas a F1 é um dos desportos mais desafiantes para regressar, devido à logística e ao grande número de pessoas envolvidas, e esta tem sido a principal razão pela qual as partes têm demorado o seu tempo a criar planos e processos: “Parece-me que existe um grande desejo de grande parte do mundo, de querer voltar à vida como a conhecíamos mas todos querem fazê-lo em segurança e da forma correta. Outros desportos começam a competir, outras sociedades começam a abrir-se, grande parte do mundo está a avançar e penso que é importante compreender que o encerramento tem consequências para a saúde, para a sociedade e economia, que são reais, a médio/longo prazo. Por isso, temos de gerir inteligentemente os riscos desta doença e fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para a eliminar e proporcionar segurança às pessoas, mas não o fazer duma forma que não reconheça que existem consequências reais, riscos. Seja como for, existe um desejo real do conseguirmos fazer da forma correta para avançar” começou por dizer Chase Carey: “Estamos interessados em ter adeptos nos eventos, mas eles só o podem fazer quando for seguro. Temos que dar passos cuidadosos e ponderados, com proteção e procedimentos adequados à sua volta para começar a avançar no mundo que conhecemos”, disse Carey, que se referiu depois ao que pensa serem os efeitos do novo teto orçamental na F1.
Mais equidade
Esta tem sido uma batalha de longa data para a Liberty Media, e dentro do problema que tem sido esta pandemia de coronavírus, esse foi um fator que acelerou decisões e tirou o tapete a quem estava contra. Como se percebe, o limite de custos faz parte de um plano de médio prazo para encurtamento das diferenças entre as 10 equipas do plantel da F1, mas embora se saiba que isso nunca irá acontecer a 100%, pelo menos será bastante mais equitativo.
Inicialmente, o limite de custos foi fixado em 175 milhões de dólares por equipa a partir de 2021, mas este valor foi reduzido para 145 milhões de dólares na sequência do acordo de todas as equipas. Baixará para 140 milhões de dólares em 2022 e 135 milhões de dólares no ano seguinte.
Ao fazê-lo, reduzirá significativamente a diferença de gastos entre as equipas e Chase Carey explica porque isso é vital: “É extremamente importante para o desporto ter realmente competitividade e a ação na pista que queremos. Não é por acaso que as três equipas que ganharam todas as corridas e colocaram os seus pilotos em quase todos os pódios nos últimos cinco anos sejam as três equipas que gastaram significativamente mais do que qualquer outra.
Por isso, queremos garantir que a F1 continue a ser o auge do automobilismo. Penso que as equipas de F1 gastam 10 vezes mais do que as equipas em qualquer outra competição do desporto motorizado, por isso não se trata de falta de recursos.
Gostaríamos de fazer com que fosse muito mais sobre a forma como se gasta o dinheiro, e não sobre quanto se gasta e, vencer na F1 tem que ser quem gasta melhor e não quem gasta mais. Na verdade, pensamos que, embora compreendamos certamente que há desafios em conseguir esse limite de custos para algumas destas equipas, que isso tornará o desporto um negócio mais saudável a longo prazo, algo e que é extremamente importante para que o desporto tenha um futuro saudável. Não creio que se possa ter um desporto que a longo prazo possa ter três, em dez equipas que estão realmente a competir por vitórias ou pelo campeonato. Não estamos a falar de um ‘terreno de jogo’ que vá ficar completamente nivelado, mas vai certamente ser mais um ‘terreno de jogo’ onde os mais desfavorecidos têm uma hipótese de vencer”.
F1 ‘esquece’ grelha inversa
A F1 não vai avançar com o seu plano inicial de fazer corridas de qualificação com a grelha invertida, que resultaria na grelha de partida para a corrida principal, revelou Chase Carey. Mas alerta que novas ideias serão para discutir. Tendo em conta que a temporada já está em curso, quaisquer alterações aos regulamentos para 2020 requerem a aprovação unânime. Há anos que se discutem mudanças, mas a ideia não irá avante: “Tivemos uma ideia sobre uma grelha invertida (ndr, corrida com grelha invertida no sábado para determinar a grelha para domingo) com a qual nem todas as equipas se sentiram confortáveis. Contudo, queremos continuar a olhar para novas ideias.
Queremos ter a certeza de que não fazemos coisas mal pensadas. A F1 é uma grande disciplina, com grande história, grandes heróis, grandes estrelas, pilotos incrivelmente talentosos e não só, por isso queremos respeitar tudo, mas até certo ponto, pois isso não significa que não pretendamos olhar para maneiras de fazer algumas mudanças. Não o faríamos, se não pensássemos que era uma boa possibilidade de acrescentar algo às corridas. Acho que sempre queremos nos desafiar e ver se há outras coisas que podemos fazer para melhorar a F1″.
Um infetado já não cancela corridas
Ao contrário do que sucedeu na Austrália, novo teste positivo na F1 não vai impedir uma corrida de seguir em frente. Na Austrália, a McLaren retirou a sua equipa depois de um dos seus funcionários ter testado positivo para coronavírus. O fim-de-semana da corrida foi subsequentemente cancelado. Agora, Chase Carey diz que a disciplina está muito melhor preparada para lidar com um eventual cenário repetido: “Um indivíduo que seja detetado com Covid-19 não levará ao cancelamento de uma corrida. Nós encorajamos as equipas a ter procedimentos em vigor, pelo que se um indivíduo tiver que ser colocado em quarentena, temos essa capacidade e a de substituir essa pessoa. Mas ainda há coisas que teríamos que conversar e trabalhar nelas. A variedade de “e se” é muito ampla para resolver cada uma delas, mas uma equipa que não pudesse correr, não cancelaria a corrida. Teremos procedimentos a ser seguidos para que encontrar uma infeção não leve a um cancelamento. Se um piloto tem uma infeção, [as equipas têm] pilotos de reserva disponíveis. Não avançaríamos se não estivéssemos altamente confiantes de que temos os procedimentos, a experiência e as capacidades necessárias para proporcionar um ambiente seguro e gerir quaisquer problemas que surjam”, disse Carey.
Acordo da Concórdia deixou de ser prioridade
Antes de ‘rebentar’ a pandemia de coronavírus, as negociações do Acordo da Concórdia (ndr, ou Pacto de Concórdia é o acordo que rege as relações entre as 10 equipas de Fórmula 1, a FOM e a FIA para viabilizar a categoria a todos os níveis. No passado, foi criado depois duma ameaça de haver cisão de grupos de equipas, e nascesse uma categoria que rivalizasse com a F1, como sucedeu nos EUA entre a Fórmula Indy e a ChampCar. O Pacto envolve aspetos desportivos e comerciais. Dá as bases do regulamento da F1, ou como deve ser formulado o regulamento, estipula exigências de presença das equipas em todas as corridas, número de corridas por ano, número mínimo de carros, etc. Fixa ainda as regras para divisão dos dinheiros da categoria. O Pacto da Concórdia foi assinado pela primeira vez em 1981 depois de uma crise que quase dividiu a F1. Daí para cá foi sempre renovado. O atual acordo termina no final de 2020. Normalmente é feito por um período de cinco anos) deixaram de ter a mesma importância.
Antes de a pandemia de coronavírus se ter ‘apoderado’ do mundo, estavam a ser feitos progressos no que respeita aos acordos entre as equipas e o titular dos direitos comerciais, a F1, uma vez que o atual acordo expira no final do ano: “Estávamos no caminho certo, provavelmente na fase final do apresentarmos na nossa perspetiva, finalizando-o mesmo antes de o coronavírus ter explodido sobre nós. Considerámos que havia prioridades com as quais devíamos lidar antes disso. Os desafios do calendário, as questões de pôr em prática as alterações regulamentares, a solidez financeira, desportiva e técnica do desporto a longo prazo tornaram-se prioridades. A curto prazo, voltaremos provavelmente a essa questão. Quando fizermos progressos no calendário e nas questões financeiras que temos de resolver, porque todos terão dificuldades financeiras ao longo deste ano, então, em muito pouco tempo, vamos poder finalizar o Acordo da Concórdia”