Carlos Sainz: Do oito ao oitenta
A história recente de Carlos Sainz na F1 é de uma ascenção meteórica e algo inesperada. O novo contrato com a Ferrari seria impensável há pouco mais de um ano.
Carlos Sainz será piloto da Ferrari a partir de 2021, mas o seu trajeto até ao lugar de sonho de muitos pilotos não foi o mais fácil, nem deixava antever que essa possibilidade se tornasse em realidade. Quer pelo seu currículo, quer pela normal postura da Ferrari.
O caminho até Maranello
Sainz cedo mostrou que não queria seguir os passos do pai nos ralis, mostrando paixão pela velocidade e vontade de imitar o seu ídolo, Fernando Alonso. Sainz começou a dar nas vistas nos karts, mas apenas conseguiu vencer no CIK-FIA Asia-Pacific em KF3 e na Kart Cup CIK-FIA do Mónaco em KF3, no ano 2008. Foi vice-campeão em Espanha e vice-campeão europeu.
No seu segundo ano no monolugares venceu foi campeão na Formula Renault 2.0 NEC e vice-campeão na Eurocup Formula Renault 2.0. No primeiro (2010) ano impressionou na Fórmula BMW com um quarto lugar no final da época, que lhe valeu um lugar na Red Bull Junior Team. O sucesso voltou a surgir em 2014, quando venceu a Fórmula Renault 3.5, o que lhe abriu as portas da F1, entrando na Toro Rosso ao mesmo tempo que Max Verstappen.
O hype que o jovem holandês provocou deixou o espanhol “na sombra” e as suas prestações foram algo menosprezadas, tendo feito uma boa época para um rookie. Em 2016 viu Verstappen ser promovido logo no início da época para a Red Bull, ficando com Danill Kvyat como colega de equipa que também não durou até ao fim da época. Sainz fez o seu trabalho e mostrou sinais de evolução. No entanto cedo percebeu que a nova estrela era Verstappen e que o seu caminho até ao top da F1 seria mais difícil com a Red Bull.
Forçou a saída para a Renault a meio da época 2017 onde esperava poder brilhar mais, mas tal não aconteceu. Sainz teve dificuldades em adaptar-se ao carro, e as suas prestações deixaram a desejar, mais ainda quando teve como colega de equipa Nico Hulkenberg. No final de 2018 a contratação de Daniel Ricciardo deixava o espanhol sem lugar na Renault e na F1.
Até então a carreira de Sainz na F1 era algo insípida, com sinais positivos, mas nada que entusiasmasse sobremaneira. Mas então veio a hipótese McLaren e tudo mudou. Entrou para o lugar deixado vago pelo seu idolo Alonso e encontrou em Woking o ambiente perfeito para relançar a sua carreira. Fez um excelente campeonato em 2019, e foi um dos mais fortes dessa época. No final de 2019 dizia-se que poderia ser hipótese para a Ferrari, um rumor que foi ganhando cada vez mais força até se concretizar.
A (meia) surpresa
A ida de Sainz para a Ferrari não é uma surpresa pois era mais ou menos anunciada, mas não deixa de ser surpreendente por vários motivos:
Em cinco épocas na F1, Sainz fez apenas uma época verdadeiramente positiva e foi em 2019. O piloto tem apenas um pódio no seu CV e olhando para o seu talento, é certamente um piloto com qualidade e capacidade, mas Daniel Ricciardo, que era também pretendente ao lugar da Ferrari, tem argumentos superiores. A somar a estes dados, Sainz é ainda um jovem (25 anos) e embora já com experiência na F1, não tem o perfil que a Ferrari costuma apostar (pilotos experientes e com títulos).
A Ferrari parece dar um sinal claro que procurava um bom nº2 para Charles Leclerc. Um piloto com qualidade, que garanta pontos e que tenha margem de progressão, mas que não tenha ainda mostrado o suficiente para exigir ser ele o foco das atenções da equipa, deixado o protagonismo para Charles Leclerc. Sainz encaixa nessa descrição.
Oportunidade para brilhar
O espanhol tem agora uma oportunidade de ouro nas suas mãos. Em pouco mais de 12 meses passou de um bom piloto que quase ficou sem opções na F1, para piloto da mítica Scuderia Ferrari. Não será um desafio fácil, pois Leclerc conseguiu “despachar” Sebastian Vettel e mais facilmente poderá controlar Sainz, mas o espanhol pode voltar a surpreender e mostrar que pode ser mais do que um simples nº2.
Sainz sabe bem que arriscou, deixando a McLaren, onde era o nº1, para tentar a sorte na Ferrari, de onde pode sair como um eterno segundo piloto. Mas nas sua posição qualquer um teria assinado contrato com a Ferrari. Resta saber agora se tem o que é preciso para surpreender, se tem capacidade para lidar com a pressão constante da Ferrari (um ambiente muito difernte do que viveu na McLaren) e se conseguirá bater o pé a Leclerc.
Na F1 tudo é rápido, mas a progressão de Sainz foi das mais rápidas dos últimos tempos. O espanhol segue as pisadas do seu ídolo e vai da McLaren para a Ferrari. O futuro dirá se Carlos Sainz conseguirá surpreender mais uma vez.