Campeões do Mundo de F1: o 21º foi Alain Prost
Alain Prost, quatro títulos de Campeão do Mundo, apenas foi suplantado por Fangio e Schumacher. Carismático e polémico, roçando por vezes a ousadia mais imprópria, o seu lugar na história da F1 nunca pode ser colocado em causa. Ele foi um dos maiores pilotos de F1 de todos os tempos. Ponto final
Alain Prost nasceu numa pequena aldeia próximo de Saint-Chamond, no Loire. O seu pai chamava-se André e fabricava utensílios para cozinhas. Nada existia na família que levasse o pequeno Alain– pequeno, na aceção mais literal da palavra, por causa da sua estatura quase minimalista – a enveredar pelas corridas de automóveis.
Pequeno e franzino, a energia de Alain Prost era quase na proporção oposta e nunca foi colocada em causa. Na verdade, ele era hiperativo e, por isso, desde cedo se revelou um desportista de eleição. Incapaz de estar quieto e extremamente competitivo, logo nos seus tempos de estudante ele fez valer uma destreza física que por vezes raiava a inconsciência. Desde lutador de wrestling (!) a praticante de skate, foi no futebol que deu nas vistas e obteve os primeiros sucessos. O seu vigor e empenho era tal que, não raras vezes, teve que diminuir o andamento por causas de ossos quebrados.
Atlético, apesar da sua pequena envergadura física – 1,67 m e pouco mais de 55 kg de peso – estava a hesitar entre tornar-se professor num ginásio ou profissional de futebol, quando, numas férias da família, o pai o levou a ver uma corrida de karting. Tinha 14 anos – e foi amor à primeira vista! E aquilo que começou por uma brincadeira depressa se tornou numa verdadeira obsessão. Antes de deixar a escola para se tornar piloto profissional, aos 19 anos, Prost venceu vários títulos locais e regionais. Em 1974, começou a correr por sua própria conta, pagando do seu bolso os motores que eram precisos e trabalhando como distribuidor de peças e de karts. No ano seguinte, garantiu o principal título no karting francês e o prémio foi uma temporada na Fórmula Renault, onde ganhou dois títulos, antes de passar para a F3. A sua ambição era, então, mais que evidente: chegar à F1. Campeão de França e da Europa na F3, em 1979 o seu nome passou a constar na lista de compras das equipas de F1. A estreia aconteceu em 1980: após estudar várias propostas, assinou com a McLaren, para o lugar de terceiro piloto. A partir daí, a ambição tornou-se outra: ser o primeiro francês a sagrar-se Campeão do Mundo de F1.
Da McLaren… à McLaren
Piloto sereno e relaxado por trás de um volante, o seu estilo era pouco efusivo e nada espetacular – mas tremendamente eficaz. Isso viu-se logo na sua primeira temporada: na prova de estreia, conquistou os seus primeiros pontos e, em 1981, já como piloto oficial da Renault, venceu a sua primeira corrida de F1 – e logo em França, com uma equipa francesa: nada poderia ter sido mais entusiasmante para um jovem de 26 anos, com uma ambição maior que o mundo inteiro.
De personalidade abrasiva e conflituosa, precisamente o oposto da sua pilotagem, ficaram na lenda os seus conflitos com pilotos como Ayrton Senna, Nelson Piquet ou Nigel Mansell, que marcaram toda a sua carreira na F1. Aliás, a sua saída da McLaren, logo no final a sua primeira temporada,em 1980, foi tudo menos pacífica: apesar de não ser um piloto agressivo e de saber poupar a mecânica, teve vários acidentes ao longo desse ano, fraturando um pulso numa vez e sofrendo uma concussão noutra, o que o levou a faltar a várias corridas. No final, bateu com a porta, acusando a McLaren de construir carros frágeis, pois todos esses acidentes teriam sido provocados por falha mecânica e não por erro seu.
Na Renault, esteve apenas três anos, decidido a tornar-se campeão francês numa equipa francesa. Porém, apesar de ter ganho nove GP, depressa percebeu que isso seria tarefa impossível: então, cumpriu escrupulosamente o contrato, antes de regressar à McLaren, nessa altura com uma gestão diferente e um projeto mais credível. E, também, com dois pesos-pesados: primeiro, Niki Lauda, para quem perdeu a sua primeira hipótese real de ser campeão, por meio ponto, no Estoril; e, mal Lauda saiu, nos finais de 1984, o seu ‘génio do mal’ passou a ser Ayrton Senna, jovem e desbragado brasileiro, com um talento e uma acrimónia em tudo semelhante às que ele mesmo se arrogava a ter. E, tal como ele, Alain Prost, com uma personalidade férrea, exímio nos jogos políticos e mentais – estava aberta uma das épocas mais apaixonantes da história da F1.
Prost contra Senna
De facto, o duelo travado, por mais de dez anos, entre Senna e Prost foi dos acontecimentos mais complexos e apaixonantes da história da F1. Ao longo de uma década, ambos os pilotos se digladiaram, com todas as armas ao seu dispor – e não foram poucas, dentro e fora da pista.
Para tornar o assunto ainda mais suculento, tiveram o escrutínio íntimo e escaldante de dois outsiders de luxo: Nelson Piquet e Nigel Mansell. Personalidades verruminosas, estes dois de vez em quando foram colocando achas na fogueira, provocando ora um oura outro – e divertindo-se que nem uns nababos, olhando tudo com uma atenção minuciosa, como se não fossem eles, tantas vezes, a espevitar as chamas da paixão que, prova a prova, título a título, ia envenenando aqueles dois, Prost e Senna.
Entre 1985 e 1993, Prost e Senna ganharam um total de sete campeonatos, com a vantagem a cair para o lado do francês. O primeiro campeonato de Prost aconteceu em 1985, tornando-se finalmente, com 30 anos, o primeiro piloto francês Campeão do Mundo de F1. No ano seguinte, revalidou o título – que, em 1987 e 1988, caiu nas mãos de Piquet e de Senna, então já seus inimigos de estimação. O terceiro título aconteceu somente em 1989 e, como não podia deixar de ser, surgiu em circunstâncias controversas – a famosa cena em Suzuka, durante o GP do Japão e em que o outro interveniente, também como não podia deixar de ser, foi Senna. No final esse ano, Prost bateu com a porta da McLaren, garantindo que o fazia triste e amargurado, por a equipa ter estado mais do lado de Senna e nunca o ter apoiado.
Piloto de ‘camiões’
Da McLaren, Alain Prost passou para a Ferrari. Porém, as temporadas de 1990 e 1991 não foram das melhores da Scuderia e a personalidade conflituosa de Prost não ajudou em nada a melhorar a situação.
Por um lado, Prost foi para a Ferrari para substituir Gerhard Berger, que era bem mais consensual e cordial; por outro, achou-se frente a frente com um dos seus arqui-inimigos, Nigel Mansell, seu colega de equipa. Nada a que não estivesse já habituado, pois acabava de sair de um combate de boxe real e constante com Senna.
Apesar disso, no seu primeiro ano na Ferrari eclipsou o seu colega de equipa, venceu cinco GP e discutiu o título taco a taco e até ao fim com Senna, perdendo na penúltima prova, precisamente em Suzuka, numa vingança servida bem gelada pelo piloto brasileiro, que se sagrou campeão do Mundo pela segunda vez.
Em 1991, apesar de ter subido por cinco vezes ao pódio, nunca conseguiu vencer e, outra vez no Japão, bateu com a porta da equipa – e da F1 – anunciando de forma estentórea que o Ferrari que tinha pilotado ao longo de toda a temporada era “pior que um camião”.
Alain Prost cumpriu um ano sabático em 1992, durante o qual viu Nigel Mansell dominar a F1 com um carro perfeitamente imbatível. Entusiasmado, assinou com a Williams um contrato de ferro, em que uma das cláusulas era a impossibilidade de a equipa poder contratar Ayrton Senna para seu colega. Esta figura foi então assumida por Damon Hill, piloto pouco mais que mediano e que era, até então, o responsável pelos testes da Williams e que foi escolhido para substituir Riccardo Patrese, que passou para a Benetton. O curioso da história é que, mal soube que Prost tinha assinado com a Williams, Nigel Mansell abandonou a equipa e a F1, trocando-a por uma temporada na Indycar, do outro lado do Atlântico. Prost ficou, assim, com o caminho aberto para mais um título, o seu quarto e último. Na última prova da temporada, em Portugal, Prost largou uma bomba inesperada, ao anunciar que não iria defender o seu título em 1994, pois não pretendia cumprir o contrato com a Williams até ao fim, deixando assim a porta aberta a Ayrton Senna.
Afastado da pilotagem, Prost manteve-se ligado à F1, como comentador televisivo e responsável pelas relações públicas da equipa Renault, antes de se tornar consultor técnico da McLaren. A 13 de Fevereiro de 1997, Prost comprou a equipa Ligier, transformando-a em Prost Grand Prix. Sem sucesso e cada vez com mais dívidas, a equipa fecharia as portas no início da temporada de 2002, deixando Prost a dever mais de 30 milhões de dólares a dezenas de credores.
Então, com 47 anos, Alain Prost tornou-se um bom pai de família e dedicou-se por inteiro a uma das suas outras paixões: ociclismo. Posteriormente, decidiu correr no Troféu Andros, de corridas em pistas geladas, vencendo esta competição por três vezes, a última delas na temporada passada.