Baby boom: Esta Fórmula 1 já é para meninos…
Hoje, um ‘puto’ de 17 anos está ‘maduro’ para correr na F1. Culpa das PlayStation? Talvez… Mas vamos a uma viagem no tempo, quando eram raros na F1 os pilotos com menos… de 25 anos.
E claro está, quando ter menos de 20 anos era um verdadeiro fenómeno. Na verdade, foi preciso esperar por 1951, no segundo Campeonato do Mundo de F1, para encontrar um piloto com menos de 25 anos – Stirling Moss, nascido em 17 de setembro de 1929 e que à data da sua estreia em GP (Suíça, a 27 de maio) tinha 21 anos e 252 dias. Havia apenas outro nessas condições, o suíço Jacques Swaters, nascido a 30 de outubro de 1926 e que quando se estreou, na Alemanha, a 29 de julho, tinha 24 anos e 272 dias.
Hoje, olhando para o plantel da F1, a maioria dos pilotos tem menos de 30 anos – 12 em 20, e dois deles têm 20 ou 21 anos:
Até 20:
Lando Norris 20 anos. (11/13/1999).
Lance Stroll 21 anos. (10/29/1998).
Até 24:
George Russell 22 anos. (02/15/1998).
Charles Leclerc 22 anos. (10/16/1997).
Max Verstappen 22 anos. (09/30/1997).
Alexander Albon 24 anos. (03/23/1996).
Pierre Gasly 23 anos. (02/07/1996).
Esteban Ocon 23 anos (17(09/1996).
Até 29:
Carlos Sainz Jr. 26 anos. (09/1/1994).
Daniil Kvyat 26 anos. (04/26/1994).
Antonio Giovinazzi 26 anos. (12/15/1993).
Kevin Magnussen 28 anos. (10/5/1992).
Mais de 30:
Sergio Perez 30 anos. (01/26/1990).
Valtteri Bottas 30 anos. (08/28/1989).
Daniel Ricciardo 31 anos. (07/1/1989).
Sebastian Vettel 33 anos. (07/03/1987).
Romain Grosjean 35 anos. (04/17/1986).
Lewis Hamilton 35 anos. (01/07/1985).
Robert Kubica 36 anos. (12/07/1984)
Kimi Räikkönen 40 anos. (10/17/1979).
Na realidade, com mais que trinta somente veteranos como o mais velho de todos, Kimi Raikkonen, com 40 anos – a mesma idade que Alberto Ascari era quando venceu o seu primeiro título, em 1952, sendo então um jovem para essa época – um título mundial (2007) e 20 GP ganhos. E até Sebastian Vettel – que figura em oitavo lugar na lista dos dez mais jovens – hoje, aos 33 anos, com quatro títulos seguidos no bolso, bem como uma impressionante série de recordes de juventude na F1, é… um velho. E se ter quatro títulos de campeão aos 27 anos pode ser considerado hoje como ‘normal’, se recuarmos até aos primórdios da F1, o primeiro campeão do Mundo com menos de 30 foi Mike Hawthorn, em 1958, com 29 anos e seis meses. E foi preciso esperar até 1963 ara surgir outro campeão do Mundo ‘imberbe’ – Jim Clark, então com 27 anos e nove meses.
O primeiro campeão do Mundo com menos de 25 anos foi Fernando Alonso, em 2005, então com 24 anos e pouco mais de dois meses. Agora, depois de Daniil Kvyat, que se estreou, com 19 anos, e de Max Verstappen, que se estreou aos 17 anos e cinco meses, tudo é possível. Porque não um campeão mundial os 20 anos – o oposto de Juan Manuel Fangio, que conquistou o seu quinto e último título com 46 anos, em 1957?
Para isso suceder este ano, só se Lando Norris (19 anos) ou Lance Stroll (20 anos) fossem Campeões. Max Verstappen (21 anos), já não vai a tempo…
O ‘estranho’ caso dos Hermanos Rodríguez
Um caso estranho, o dos irmãos Pedro e Ricardo Rodríguez de la Vega. Estranho – porque ambos, desde tenra idade, demonstraram uma singular… e estranha apetência para andar depressa. E, claro está, um talento improvável, em jovens de 14 e 15 anos, para fazer corridas de automóveis (ou motos) – e vencê-las. Com menos de dois anos a separá-los – Pedro, o mais velho, nasceu a 18 de janeiro de 1940 e Ricardo, a 14 de fevereiro de 1942, ambos na capital mexicana – o mais precoce foi o mais novo. Estreou-se internacionalmente aos 15 anos, em Riverside, com um Porsche RS, vencendo na classe até 1,5 litros, façanha que repetiu logo de seguida no GP de Nassau, nas Bahamas. Isso valeu-lhe um contrato com a Ferrari (!) – e foi com esta equipa que tentou inscrever-se nas 24 Horas de Le Mans de 1958, fazendo equipa com o seu irmão Pedro. Mas não conseguiu, por não ter ainda a idade permitida pelo regulamento, e Pedro fez equipa com José Behra, num Ferrari 500 TR, abandonando.
Ricardo voltou a Le Mans em 1959, finalmente correndo com o seu irmão, num OSCA 750, desistindo. Em 1960, foi segundo nesta prova, com André Pilette e subiu ao pódio também nas 12 Horas de Sebring, 1000 km de Nürburgring e 24 Horas de Daytona, antes de vencer, em 1962, a Targa Florio, com um Ferrari Dino 246 SP, que partilhou com Olivier Gendebien e Willy Mairesse. A coroa de glória surgiu em 1961, quando – com a equipa oficial da Ferrari – se estreou no GP de Itália. Era o dia 10 de setembro, o mesmo em que morreram Wolfgang von Trips e 15 espetadores – e Ricardo tinha apenas 19 anos e 182 dias, tornando-se o mais jovem piloto a correr um GP de F1, ‘título’ que manteve até ao GP do Canadá de 1980. Mas a carreira – e a vida – de Ricardo Rodríguez não foram longas: a 1 de novembro de 1962, um acidente na Peraltada, durante os treinos para o GP do México de F1, que ainda não pontuava para o Mundial, foi-lhe fatal.
Tinha 20 anos, estava ao volante de um Lotus 24/Climax da equipa de Rob Walker, pois a Ferrari não quis fazer a viagem até ao outro lado do Atlântico e, antes de fechar os olhos, pediu, em lágrimas: ‘Ajudem-me. Não quero morrer!’ Pedro, o seu irmão, ficou tão chocado com a sua morte que equacionou abandonar as competições. Felizmente não o fez e estreou-se na F1 em 6 de outubro de 1963, no GP dos Estados Unidos. Tinha 23 anos e 261 dias e, na F1, venceu duas provas: o GP África do Sul de 1967 e o da Bélgica de 1970. O seu fim foi também trágico, morrendo num acidente em Norisring, Nuremberga, com um Ferrari 512M, numa prova do campeonato local de sport, que se chamava Interserie, a 11 de julho de 1971.
Rodríguez estava no comando, bateu num carro mas lento e o Ferrari explodiu contra o muro, mesmo em frente ao sítio onde Adolf Hitler fazia as suas arengas aos nazis, durante a II Grande Guerra. Tinha 31 anos.
Mike Thackwell: o pouco ilustre desconhecido
Neozelandês, Mike Thackwell foi um desconhecido piloto que, durante quase três décadas, deteve o recorde de ter sido o mais jovem de sempre a correr um GP ao volante de um F1. Fê-lo no GP do Canadá de 1980, ao volante de Tyrrell 010/Ford Cosworth DFV. Corria o dia 28 de setembro e Thackwell tinha então 19 anos, cinco meses e 29 dias. Só 29 anos mais tarde, um tal Jaime Alguersuari lhe retirou o recorde – no GP da Austrália de 2009. Mas quem foi Mike Thackwell? Nascido na obscura vila de Papakura, na periferia de Auckland, Nova Zelândia, rapidamente foi chamado de ‘sensação’, ‘maverick’ ou, mais drasticamente ainda, uma espécie de ‘herói de culto’. Tudo, na verdade, algo precipitado – apesar de ser ganho corridas na F3, F2 e F3000, ‘apenas’ se sagrou campeão na F2, em 1984, depois de ter sido terceiro na F3 em 1979.
Porém, a sua estrela empalideceu mal chegou à F1. Com um Arrows A3/Ford Cosworth, não conseguiu a qualificação para o GP da Holanda, a 31 de agosto de 1980 e, depois da estreia no Canadá, voltou a ficar-se pelos treinos uma semana mais tarde, no GP dos Estados Unidos, outra vez com um Tyrrell. Curiosamente, a FIA não o reconhece com tendo participado no GP do Canadá – tudo porque, na primeira partida, esteve envolvido numa carambola e acabou por não estar presente na segunda, aquela que lançou de facto a prova.
Seja como for, depois destas primeiras tentativas algo frustrantes par quem estava habituado a ganhar e era apontado como uma estrela do futuro em ascensão, Thackwell manteve-se na F2, sendo precisos quatro temporadas antes de se sagrar campeão, exatamente no último ano daquela competição, 1984, com sete vitórias.
Neste ano, tentou de novo a F1. E, de novo, sem sucesso: conseguiu alinhar no GP do Canadá, com um medíocre RAM 02/Hart turbo e voltou a falhar numa qualificação, agora para o GP da Alemanha, com um Tyrrell 012/ Cosworth V8. Aos 23 anos e depois de tantas esperanças, para Thackwell foi o fim da linha na F1. Isto, apesar de, em 1985, ter lutado (e perdido) pelo título no primeiro Campeonato Internacional de F3000, com Christian Danner. Regressou à sua terra natal, onde se sagrou, em 1987, campeão de Fórmula Pacific e ainda hoje é considerado um dos grandes talentos perdidos na F1.
A F1 em 1950: Um clube para velhos
O primeiro Campeonato do Mundo de F1 teve lugar em 1950. Nos seis GP europeus que compuseram o calendário participaram 60 pilotos. A única prova que teve lugar fora da Europa foi a Indy 500, cuja grelha de 33 pilotos era totalmente composta por nativos. Nessa altura, a maioria dos participantes eram gentleman drivers, endinheirados, que compravam os seus próprios carros – ou, bastas vezes, até equipas. De fábrica, existiam então a Alfa Romeo SPA, a Automobiles Talbot-Darracq, a Officine Alfieri Maserati e, claro, a Scuderia Ferrari. O resto do plantel era composto por aquele tipo de pilotos, muitos deles com mais de 45 anos e com bastante experiência, em especial nas décadas de 20 e 30.
Portanto, ali não havia lugar aos novos.
Para que conste, o mas jovem dos pilotos que correu em 1950 foi José Froilán González, proveniente da Argentina – onde era mais conhecido pelo ‘Touro das Pampas’ – e que, no GP do Mónaco (21 de maio), em que se estreou com um Maserati 4CLT/48 da Scuderia Achille Varzi, tinha já 27 anos e 228 dias. Um velho, portanto, para os cânones atuais!
Até porque, nesse primeiro ano do Mundial de F1, correram quatro pilotos nascidos… no século XIX: Philippe Étancelin (28 de dezembro de 1896); Luigi Fagioli (9 de junho de 1898); Clemente Biondetti (18 de agosto de 1898); e Louis Chiron (3 de agosto de 1899). Ah! E o campeão do Mundo, Giuseppe ‘Nino’ Farina, estava a menos de dois meses de fazer 44 anos – mais ou menos a idade com que Michael Schumacher deixou de correr, com a Mercedes, na F1!
Para finalizar, no polo oposto, estava a Indy 500, a estranha prova dos ‘States’ que pontuou durante uma década para o Mundial de F1 e onde juventude era coisa que não faltava. Por exemplo, nesse ano de 1950, o piloto mais jovem presente na prova foi Troy Ruttmann, com 20 anos e exatamente dois meses (nasceu a 11 de março de 1930).
Pedro Lamy estreou-se aos 21 anos e 176 dias: O prodígio nacional
Pedro Lamy estreou-se na F1 – GP de Itália, a 12 de setembro de 1993 – quando tinha apenas 21 anos e 176 dias. Um recorde que atesta bem as suas
capacidades enquanto piloto. Ele que, quando chegou à F1, com a Lotus, estava ainda a discutir o título na F3000 com Olivier Panis e que acabou por perder… por um ponto. Na F1, participou em 32 GP, até o GP ao Japão de 1996, a 13 de outubro, então com a Minardi e conquistou 1 ponto, correspondente ao sexto lugar no GP da Austrália de 1995. Depois de sair da F1,apenas com 23 anos e onde teve um acidente, em maio de 1994, que quase lhe custou a vida, tornou-se num dos mais respeitados pilotos mundiais, colecionando títulos um pouco por todo o lado, em especial mas corridas de GT e de resistência, tendo já sido piloto oficial da Chrysler, da Aston Martin, da Peugeot, da AMG Mercedes e da BMW.