O dia 8 de março de 1988 ficou cravado a ferro e fogo na longa lista de inimizades cultivadas por Ayrton Senna. E esta foi de luxo: nada mais que Nelson Piquet, com quem já vinha a ter arrufos desde há algum tempo. Nesse dia, em Jacarepaguá, Piquet foi confrontado com os cabeçalhos de jornais, aos quais Senna teria dito que se tinha afastado “para dar aos outros a chance de aparecerem.” De imediato os jornalistas definiram esses ‘outros’ por Piquet, o que deixou enfurecido o piloto da Lotus. Na realidade, Senna nunca falou do nome do seu ‘inimigo’ de estimação e garante que simplesmente se referiu à sua necessidade de ir uns tempos de férias para o seu refúgio em Angra dos Reis por se sentir cansado e precisar de recarregar as baterias.
Mas, bem no seu estilo de partir a loiça toda, Piquet não quis saber de nada disso. Pegando num jornalista que passeava pelo paddock da pista, botou a boca no trombone, dizendo para quem o queira ouvir que “ele [Senna] foi embora para não explicar porque não gosta de mulher.”
Surpreendido, o jornalista [Eloir Maciel, do JB] ainda tentou fugir ao assunto: “Nelson, isso é sério. Se você disser, eu publico!”
Piquet, cada vez mais raivoso, explodiu: “Pode publicar. Não vou dizer que ele é veado porque não tenho como provar. Mas posso dizer que ele não gosta de mulher.” E, chamando a sua companheira de então, Katerine Valentim, exigiu-lhe: “Diz aí quantas vezes você quis sair com o Ayrton e ele não quis.” A modelo, que até tinha sido em tempos namorada de Senna, embatucou e saiu de fininho.
A ‘notícia’ foi publicada em grandes parangonas no dia seguinte e o sangue que fez entre aqueles dois brasileiros foi tal que nunca mais se falaram. Inclusive, Senna nunca mais se referiu a Nelson Piquet pelo nome e chegou a sair de restaurantes em que tinha mesa marcada para jantar, ao ver do outro lado da sala o ‘indivíduo’, como ele passou a chamar Piquet.
Hélio Rodrigues, In Memoriam