Acidente pavoroso assustou Fórmula 1
O GP do Bahrein ficou marcado por um pavoroso acidente de Romain Grosjean na primeira volta da corrida, com o Haas a bater nos rails a 220 Km/h. O monolugar partiu-se em dois, o combustível incendiou-se e o francês viveu 28 segundos de puro terror até conseguir sair dos escombros…
Foi um autêntico milagre o que se passou na sequência do acidente de Romain Grosjean na primeira volta do GP do Bahrein. O piloto francês saiu quase ileso do carro, com ferimentos menores, queimaduras nas duas mãos, mas as coisas poderiam ter sido trágicas. Bastava o piloto ter ficado inconsciente, algo perfeitamente plausível quando se bate a 220 Km/h para que pudéssemos estar aqui e agora a lamentar uma enorme tragédia.
Felizmente, quis o destino que não fosse assim, e ver o francês a saltar os rails, ajudado pelo médico, é uma imagem que ficará para sempre na memória coletiva da F1, tal como ficaram os acidentes de Imola 1994, ou mais recentemente o acidente que viria a tirar a vida a Jules Bianchi.
Há muito que o fogo não assustava a Fórmula 1, recordamos-nos por exemplo do incidente nas boxes no Benetton de Jos Verstappen em 1994, ou o incêndio nas boxes da Williams depois do triunfo de Pastor Maldonado no GP de Espanha de 2012. Isto para não falar da tragédia com Roger Williamson em Zandvoort 1973 e muitas outras que existiram na F1, por exemplo o acidente de Niki Lauda no Nordschleife.
Desta feita, a sorte esteve com a Fórmula 1 e particularmente com o piloto, que apesar de ter ido parar ao hospital, escapou praticamente ileso.
Mas vamos à história.
Logo na primeira volta do GP do Bahrein, o Haas de Grosjean fez uma trajetória estranha, desviando-se ‘para cima’ do Alpha Tauri de Daniil Kvyat. O toque dos pneus, causado por Grosjean, redundou no despiste do Haas, que foi bater a 220 Km/h nos rails colocados a um ângulo de 30 graus face à pista, dado a zona tratar-se duma entrada de socorro em pista.
O Haas bateu violentamente contra o rail de proteção, o monolugar partiu-se em dois e incendiou-se de imediato. Grosjean ficou na célula de sobrevivência do cockpit, que absorveu bem todo o impacto, com o Halo a salvar a vida do piloto ao não permitir que o rail ceifasse a vida do francês. Mas a sua sobrevivência ainda esteve em causa durante 28 longos segundos tantos quanto Grosjean esteve no carro a arder violentamente com dois Comissários a tentarem, em vão, apagar as enormes chamas que deflagraram. Início de corrida, depósito cheio. Era impossível com aqueles meios apagar o fogo a tempo de salvar o piloto se este não tivesse conseguido sair.
Felizmente, este encontrava-se consciente, e o seu instinto de sobrevivência fê-lo sair do carro no meio de um fogo horrível, agarrar-se e saltar o rail, com a ajuda de um dos médicos de FIA, o Dr. Ian Roberts. Percebeu-se aí que, saltando daquela forma, Grosjean não poderia ter grandes lesões físicas, exceção feita a queimaduras, que felizmente se confirmaram não ser muitas, nem demasiado graves.
Passado o susto inicial, e olhando para os escombros, ficou claro para todos que o Halo salvou o piloto ao não permitir que o rail o afetasse. Todo o incidente e a sua dinâmica que permitiu que Grosjean saísse dali vivo, foi um milagre.
No meio do azar, muita sorte
A célula de sobrevivência do cockpit do Haas fez bem o seu trabalho, tal como o Halo. Grosjean não só sobreviveu, como saiu do carro e saltou os rails, no meio do fogo que tudo consumia. A dinâmica do acidente resultou no facto que depois do toque de Grosjean em Kvyat, à velocidade que os carros rodavam, não houve muito tempo para desacelerar. O impacto deu-se mais ou menos a 220 Km/h, apesar de Grosjean ainda ter tentado travar, e o primeiro perigo adveio do facto daquele não ser um ponto provável de incidente. Por isso os rails estavam ‘despidos’ das barreiras TecPro, que protegem nos locais prováveis de haver acidentes.
A velocidade e o ângulo do embate não permitiram que o rail fizesse o seu ‘trabalho’, e este cedeu. Agora, a FIA vai ter que investigar o porquê da barreira ter sido penetrada. Isso é que não devia ter acontecido. Provavelmente pelo ângulo, pois aquela era uma zona com abertura de entrada em pista. Depois disto, certamente muito mais zonas vão sofrer intervenção para as corridas de F1. Pelo que se viu ali, qualquer local é passível de um acidente deste tipo.
O Haas penetrou os rails e a energia do impacto levou a zona da célula de sobrevivência, separar-se da parte do motor. O único ponto do chassis em que o carro é ligado. Com a monocoque que leva o piloto intacta, a traseira do chassis soltou-se. O que era preciso ficar intacto para proteger o piloto, a célula de sobrevivência, cumpriu totalmente o seu ‘trabalho’. Este impacto poderá ser medido, provavelmente muito perto da centena de forças G. Um choque brutal.
A forma como o fogo se despoletou comprova a brutalidade do embate. O tanque de combustível é feito de Kevlar, borracha e nem uma bala, até determinado calibre, o perfura. Mas tudo tem limites. Claro que há ligações, tubagens, entre o depósito e o motor e terá sido por aí que o fogo foi despoletado. Felizmente, foi possível ultrapassar o fogo, Grosjean conseguiu sair e o seu fato, capacete e luvas fizeram, na medida do possível, o seu trabalho. O que há a reter neste acidente é uma coisa muito simples. Imagine-se que tinha acontecido sem o Halo…
Assim que se deu o acidente, os comissários correram para o local, e o carro médico, que segue os F1 na volta inicial, parou pouco depois. Era enorme a bola de fogo, Grosjean estava dentro da metade da frente do carro, a traseira tinha ficado para cá do rail. O Delegado Médico da FIA, o Dr. Ian Roberts, ajudou um comissário com o extintor, mas dirigiu-se quase de imediato para o rail, no meio duma enorme bola de fogo. Era impossível lá entrar, mas 28 longos segundos depois do acidente, Grosjean conseguiu sair do carro e ajudado por Roberts, saltou o rail. Percebeu-se que teria queimaduras – como não ter – pois o seu abanar de mãos dizia tudo. Segundo Ian Roberts: “O visor do capacete derreteu”. Não trazia uma das botas. Quase por milagre, queimou-se um pouco nas mãos. Há largos anos que o combustível de um F1 não ardia na sequência de um acidente. Contudo, há um dado importante. Os monolugares naquela altura da corrida transportam 100 Kg de combustível e pouco menos haveria no depósito, na altura do acidente. Se todo o combustível tivesse saído, o fogo teria sido imensamente maior do que o que vimos.
Halo salvador
Romain Grosjean foi transportado para o hospital, muito abalado, mas vivo. Nem foi preciso ambulância, saiu do local do acidente sentado no carro médico. O seu semblante era de alívio. Já no hospital, fez um vídeo. Onde já conseguia sorrir. O caso não era para menos.
A primeira coisa que destacou “O Halo foi fundamental. Não estaria aqui sem ele”. É uma mensagem forte, que calará de uma vez por todas toda e qualquer crítica ao Halo. A mãe de Jules Bianchi mandou uma mensagem comovente a um jornalista francês, Julien Febrau: “Eles introduziram o Halo depois do acidente do meu filho, e o Halo salvou a vida do Romain hoje. Isto é fantástico. Estou contente que ele esteja bem”. É assim que o mundo pula e avança. Uns perdem a vida e outros têm a sua salva porque se aprendeu com os erros do passado.
No hospital, Romain Grosjean estava surpreendentemente bem disposto logo no domingo à noite, onde filmou um vídeo na sua cama de hospital no Bahrein. Aí admitiu ter mudado a sua visão do Halo, ao dizer que fora “a melhor coisa que trouxemos para a Fórmula 1”, já que o Halo o protegeu no seu dramático acidente em Sakhir. No hospital, as radiografias revelaram que não tinha sofrido quaisquer fratura: “Olá a todos, só quero dizer que estou bem…bem, mais ou menos bem”, disse Grosjean, mostrando as ligaduras que cobriam as suas mãos queimadas. “Muito obrigado por todas as mensagens. Não gostava do Halo, mas agora penso que fizemos muito bem trazê-lo para a Fórmula 1. Sem ele não poderia estar aqui a falar convosco hoje. Dou graças a todo o pessoal médico no circuito, no hospital, e espero poder em breve escrever-vos algumas mensagens e dizer-vos como está a correr” disse Grosjean, que recebeu a visita do presidente da FIA, Jean Todt. O francês deverá permanecer algum tempo no hospital, mas as suas lesões não o devem manter por lá muitas horas.
Tudo está bem quando acaba bem, mas foi uma sorte imensa as coisas não terem corrido pior. É um facto que os socorristas tiveram apenas uma pequena janela de oportunidade para ajudar Romain Grosjean a escapar milagrosamente. Ian Roberts, coordenador de salvamento médico de F1 da FIA, e o seu condutor, o também médico Alan van der Merwe, e os bombeiros foram os primeiros a chegar ao local e são os heróis deste ‘filme’. Um dos bombeiros que acedeu rapidamente ao local, ’empurrou’ as chamas para trás o suficiente para que Grosjean tivesse um caminho: “tivemos uma janela muito pequena porque assim que o pó do extintor atuava as chamas voltavam pouco depois”, disse Ian Roberts, , que confessou algo que todos percebemos: “não teria sido capaz de libertar o Grosjean do fogo se ele não tivesse sido fosse capaz de se libertar dos destroços do carro”, disse Roberts, que ficou ‘bronzeado’, mas não ferido.
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Excelente artigo!
Não concordo totalmente nessa de a FIA fazer muito pela segurança naquele sítio era um locar de serviço devia de lá estar um carro dos Bombeiros aliás devia de estar em todas estas zonas e devia de existir um carro rápido que acompanhasse o carro médico equipado com 4 ou 6 extintores de grande capacidade para ir a traz na primeira volta e depois estar de prevenção. É talvez ter um Heli também equipado todos estes meios deviam de ser operados por uma equipa fixa para todos os GP tal como acontece com o Safeti Car gente profissional precisa-se