Coração na Boca: os finais mais épicos da história da F1

Por a 2 Outubro 2024 11:47

Recorde os ‘Grand finale’ mais tensos da F1 que a todos fizeram roer as unhas.

Este ano temos um Mundial que deverá ser decidido por dois pilotos, mas em que quatro equipas e sete pilotos venceram corridas. Desde 2016 que não tínhamos um Mundial de Fórmula 1 tão disputado, e depois do que se viu nas primeiras corridas, ninguém diria. Por isso, vamos recordar os Mundiais de F1 mais disputados da história, resumindo os principais acontecimentos. Nos primeiros, através da corrida que tudo decidiu, nos dois últimos, um olhar sobre a temporada…

GP do Japão de 1976: O dilúvio

Este foi o ano do acidente que quase vitimou Niki Lauda, no GP da Alemanha. Nessa altura, tinha terminado no pódio todas as corridas em que chegara ao fim – entre elas, cinco no primeiro lugar. Era, portanto, com 61 pontos (mais 35 que James Hunt!), o líder incontestado do campeonato e o principal candidato ao título. A sua recuperação física foi incrível e, até ao Japão, conseguiu mais sete pontos – de um 3º e um 4º lugar. Na pista do Monte Fuji, bastava-lhe terminar na frente de Hunt, para revalidar o título. Ou, então, controlar o andamento do britânico que tinha 65 pontos – menos três – e era obrigado a vencer ou a terminar com Lauda pelo menos dois lugares atrás de si. Porém, o golpe de teatro estava para vir: debaixo de um dilúvio incrível, Lauda entrou nas boxes, logo na segunda volta, dizendo que as condições eram demasiado perigosas para correr e abandonado. Com isso, entregou o título a Hunt que o ganhou com um ponto de vantagem, depois de terminar a corrida em 3º lugar, atrás de Patrick Depailler (2º) e MarioAndretti.

GP da Austrália de 1986: Goodyear rebenta com campeonato

Na corrida decisiva para o título, o GP da Austrália em Adelaide, a Goodyear informou as equipas que ia disponibilizar um composto capaz de aguentar toda a corrida., após alguns problemas surgidos com os pneus do construtor americano no México. Dada a partida Senna assumiu a liderança, mas à 5ª volta já era Rosberg (McLaren/TAG) quem comandava. Mais tarde e contrariando as afirmações da Goodyear, Prost veio às boxes trocar os pneus do carro e quando regressou à pista era 4º, atrás de Rosberg, Piquet e Mansell que, com o 3º posto, tinha o título garantido. À 62ª volta Rosberg teve de parar com um pneu rebentado e, uma volta mais tarde o azar bateu à porta de Mansell quando o pneu traseiro esquerdo do Williams também rebentou, a mais de 300 km/h. O piloto conseguiu evitar o pior controlando magistralmente o carro, mas não conseguiu evitar bater nos rails. Piquet ficou na frente e podia ter vencido o Mundial, mas a Williams, por razões de segurança, chamou-o às boxes e, desta forma, Alain Prost era Campeão Mundial com mais dois pontos do que Mansell e três do que Piquet.

GP do Brasil de 1989: Suzuka, Acto I – A Injustiça

22 de Outubro de 1989, GP do Japão. Penúltima prova do Campeonato do Mundo, que é liderado por Prost, com 16 pontos de vantagem sobre Senna. Este fez a “pole”, mas foi lento na largada e deixou o francês ir para a frente da corrida, que chegou a liderar com mais de 5s de avanço até às trocas de pneus. Foi a partir daqui que Senna desferiu o seu ataque final. Pouco a pouco, a diferença entre ambos foi diminuindo e na 47ª volta, foi tempo do tudo ou nada: na travagem para a última chicane, os doisMcLaren tocaram-se e ficaram parados, lado a lado. Prost apressou-se a sair do “cockpit”, convencido de que Senna iria fazer o mesmo – isso dar-lhe-ia de imediato o título. Só que Senna conseguiu convencer os comissários a retirá-lo do local, o que aproveitou para voltar a colocar o motor em funcionamento, reentrando na corrida. Na volta seguinte foi às boxes, trocou o “nariz” do McLaren e regressou, a tempo de conseguir passar o líder, Alessandro Nannini e ganhar a corrida. Só que, pouco depois do final da prova, Ayrton Senna foi logo desclassificado deliberadamente elo Presidente da FIA Jean-Marie Balestre, a “pedido” do seu amigo Alain Prost – que, depois de sair do McLaren, se apressou a subir à torre de controlo, onde a sua presença (ou a de qualquer outro piloto) não era permitida – que, desta forma, garantiu o título mundial. Para Ayrton, foi a Injustiça.

GP do Japão de 1990: Suzuka, Acto II, A Vingança

21 de Outubro de 1990, GP do Japão. O mesmo ‘cenário’ de 1989, incluindo a “pole” de Senna. Mas existiam duas diferenças importantes: era Senna quem liderava o campeonato e Prost já não era o seu colega de equipa, pois tinha-se passado para a Ferrari. Na partida, o Ferrari, colocado na melhor parte da pista – a que não estava suja… – largou melhor e chegou à primeira travagem ligeiramente na frente, mas com Senna logo atrás. O brasileiro tentou passar pela direita, sem sequer se preocupar em travar. O embate foi inevitável e os dois carros saíram aos piões para a escapatória, onde ficaram imobilizados. Sem se olharem, os dois pilotos deixaram os respetivos “cockpits” e saltaram para o lado de lá dos “rails”. Para Ayrton foi a Vingança: era campeão da mesma forma que o seu rival tinha sido 364 dias antes.Um ano mais tarde, perante uma plateia de estupefatos jornalistas, no fim-de-semana do GP da Austrália que encerrava a temporada, Senna abriu toda a alma e admitiu que a manobra tinha sido deliberada. Curiosamente, alguns dos presentes mostraram-se desiludidos e chocados com a revelação…

GP da Austrália de 1994: Título por KO

O traçado urbano de Adelaide acolheu a última prova do ano e apenas um ponto separava Schumacher de Hill no Mundial. Mansell, que tinha regressado à Williams em Jerez, foi o autor da “pole”, mas foi batido no arranque por Schumacher e Hill. Pressionado pelo piloto da Williams, Schumacher teve uma saída de pista à 35ª volta, batendo no muro de protecção. Hill viu uma excelente oportunidade de passar, mas Schumacher regressou à pista e os carros tocaram-se. O Benetton acabou contra a barreira de pneus e Hill ficou com a suspensão do Williams danificada e desistiu nas boxes. Mansell venceu a corrida, mas Michael Schumacher alcançava o seu primeiro título mundial.

GP da Europa de 1997: Schumacher deita tudo a perder

Todos rimos a bom rir durante o GP do Luxemburgo de 1997 – realizado em Nurburgring – quando Frank Williams, questionado sobre o que faria a sua equipa se Jacques Villeneuve estivesse a apenas um ponto de Schumacher à entrada para a última corrida da temporada, respondeu assim: “apenas faremos uma coisa – reforçar os triângulos de suspensão do nosso carro.” Uma referência direta à forma como o piloto alemão tinha ganho o seu primeiro título em 1994 quando no GP da Austrália atirou com o seu carro contra o monolugar de Damon Hill, forçando ambos a desistirem e assegurando desta forma a vitória no campeonato.

Quatro semanas mais tarde já não existiram motivos para sorrir. Tendo liderado desde o início Schumacher conseguiu alcançar uma confortável distância sobre Villeneuve e Frentzen na primeira parte da corrida, mas após todos terem parado nas boxes o canadiano encetou um forte ataque e no início da volta 48, das 69 que constituíam o Grande Prémio, estava a menos de um segundo do seu rival. Sabendo que Schumacher iria ser tremendamente defensivo, Villeneuve optou por uma manobra de surpresa e mesmo sabendo que estava bastante atrás do alemão, à aproximação do gancho DrySackefectuou uma manobra arriscada mergulhando para o interior da curva e apanhando o piloto da Ferrari desprevenido.

Quando Schumacher viu o Williams por dentro atirou com o seu carro contra ele, mas os resultados não foram os que esperava. Enquanto que em Adelaide, três anos antes, tinha atingido o Williams de Hill na roda dianteira esquerda danificando a suspensão e a direção do carro britânico, em Jerez Schumacher só conseguiu atingir o carro de Villeneuve no pontão lateral o que não provocou danos de maior. Na verdade foi o Ferrari que saiu de pista e abandonou, entregando o título ao canadiano.

Após a corrida Schumacher tentou culpabilizar Villeneuve afirmando que ele o tinha atirado para fora de pista, mas a reação no paddock foi 99 por cento contra ele, já que mesmo os que tiveram dúvidas em relação aos acontecimentos de 1994 perceberam que Schumacher tinha tentado a mesma armadilha. A algazarra nos media foi tremenda e a FIA foi forçada a tomar decisões.

Como habitualmente, Mosley produziu muito ruído e fez muito pouco já que a última coisa que queria era uma penalização ao alemão que comprometesse as suas hipóteses de vencer o mundial de 1988. Desta forma Schumacher foi desqualificado do campeonato de 1997 – o que pouco ou nada significava para o piloto – mas manteve todas as vitórias alcançadas nessa época, permitindo, ainda, que iniciasse o campeonato seguinte com o cadastro limpo.

A partir deste acontecimento Schumacher tornou-se numa figura que dividiu o paddock e os adeptos, com parte a afirmar que ele era um grande campeão e que apenas cometeu um erro, enquanto outros não lhe perdoavam as suas acções e estavam sempre prontos para apontar a dedo qualquer sinal de comportamento anti-desportivo cometido pelo piloto alemão até ao seu abandono.

GP do Brasil de 2007: Raikkonen Campeão improvável

A Superioridade da Ferrari na pista de Interlagos ficou claramente à vista de todos. Com Massa na frente e Raikkonen a superar Hamilton na primeira curva, a equipa italiana estava a fazer o máximo que lhe era possível para dar o título ao piloto finlandês. Mas isso só não chegava e acabou por ser necessária a ajuda da sorte para que Raikkonen conquistasse o seu primeiro título mundial, com apenas um ponto de vantagem sobre Hamilton e Alonso, no final mais cerrado da história do Mundial de F1. Primeiro foi um erro de Hamilton, logo na primeira volta, que melhorou as perspetivas de Raikkonen, mas o momento decisivo da corrida e do Mundial acabou por acontecer na oitava volta, quando um problema eletrónico fez com que o comando da caixa de velocidades do McLaren do inglês deixasse de funcionar, atrasando-o de forma definitiva na classificação. Daí para a frente, com Alonso claramente incapaz de acompanhar os Ferrari, já se sabia que Massa teria de deixar Raikkonen passar para dar o título ao finlandês, mas o novo Campeão do Mundo não precisou da ajuda do seu companheiro de equipa. Parando três voltas mais tarde no derradeiro reabastecimento, Raikkonen fez o suficiente para regressar à pista na frente da corrida, ganhando com mérito tanto a corrida como o Campeonato.

GP do Brasil de 2008: Até à última curva

O GP do Brasil teve o final mais incrível da história. A três voltas do fim Hamilton tinha o título no bolso, mas um erro na 69ª volta fê-lo cair para a sexta posição, com Massa a passar para a frente do Mundial. Só que o aumento da chuva tramou Glock (o único piloto da frente que não trocou para pneus de chuva no final) e claro, Massa, pois Hamilton recuperou a quinta posição na última curva para se sagrar o mais jovem Campeão da história.

Que final emocionante! E que contraste de emoções para Felipe Massa. O brasileiro fez tudo o que tinha a fazer em Interlagos, dominando a corrida a partir da “pole”, sem nunca forçar o andamento, pois tinha claramente uma vantagem sobre todo o plantel. A prova disso mesmo foi que Vettel e Alonso andaram sempre relativamente perto de Massa, mas quando este teve de acelerar um pouco mais, antes do segundo reabastecimento, fê-lo de forma determinada, marcando a volta mais rápida da corrida para assegurar que Vettel não o passaria. Com o piloto alemão numa estratégia mais agressiva, Massa nem se preocupou com a recuperação do piloto da Toro Rosso mas não perdeu a liderança em nenhum momento, triunfando com autoridade.

Em Interlagos, como se esperava, a Ferrari teve o melhor carro do plantel e fez tudo bem – com Raikkonen de reserva à espera do que pudesse acontecer com Hamilton – mas não foi no Brasil que Massa perdeu o Mundial. Grande decepção Naturalmente decepcionado, o brasileiro explicou a mistura de emoções que viveu nos últimos momentos da corrida: «Sabia o que estava a passar-se atrás de mim e quando cruzei a meta disseram- me que o Lewis estava em sexto lugar. Estava á espera duma confirmação das boas notícias, mas quando cheguei ao final do Retão o meu engenheiro disse-me que o Glock tinha sido passado, o Hamilton recuperar o quinto lugar e nem tenho palavras para vos dizero turbilhão de emoções que senti naqueles momentos. Não temos nada que reprovar à forma como trabalhámos este fim-de-semana, pois fizemos tudo bem. A equipa esteve perfeita e fizemos tudo o que estava ao nosso alcance para chegar aos dois títulos. Infelizmente o de pilotos escapou-nos, mas Deus faz as coisas por alguma razão e só tenho de aceitar isto e aprender com tudo o que aconteceu. Dou os parabéns ao Lewis, pois ele também fez um excelente campeonato, merece ser Campeão. Sei ganhar e sei perder, e só posso estar satisfeito por ter ganhoaqui, agradecer o apoio do público que foi fantástico e tentar de novo em 2009.»

Lewis Hamilton tem de agradecer aos Deuses este seu primeiro título Mundial. A três curvas do final da corrida, o inglês estava em sexto lugar, depois da troca de pneus para intermédios não ter dado os resultados esperados, pois ficou ainda mais à mercê de Vettel que o passou quando o piloto da McLaren cometeu um erro, a apenas duas voltas do fim. Mas o aumento de intensidade da chuva fez com que os dois Toyota, os únicos que não tinham alinhado na paragem geral nas últimas sete voltas, tivessem mesmo de abrandar bastante. Trulli, que até estava perto do inglês, desapareceu dos seus retrovisores logo no início da volta, mas foi o abrandamento de Glock que acabou por lhe dar o ponto extra que lhe permitiu sagrar-se o mais jovem Campeão da história. O alemão estava 12,3s na frente de Vettel na entrada da última volta e 13s à frente de Hamilton, mas com o aumento da intensidade da chuva começou a perder terreno e no final do Retão já só estava 9,8s na frente do inglês. Com o miolo do circuito bastante encharcado, o alemão não teve a menor possibilidade de se defender dos seus opositores, perdendo para Vettel na saída da Junção, para ter de deixar passar Hamilton na última travagem da pista. Daí para a frente, com as duas curvas da subida a serem feitas a fundo, o inglês não teve mais nada a fazer senão manter o volante bem apontado e o pé no acelerador, para conquistar o título da forma mais incrível na história do Mundial. Nunca um título tinha sido decidido tão perto do final da última corrida, nunca ninguém tinha ganho o Mundial na última travagem e, por isso, este é um Grande Prémio que vai ficar na memória de todos.

GP de Abu Dhabi de 2010: Vettel, o mais jovem Campeão de sempre

Sebastian Vettel trocou as voltas aos seus rivais, dominou em Abu Dhabi num dia em que Alonso e Webber terminaram longe dos lugares a que nos habituaram, para se sagrar o mais jovem Campeão do Mundo da história da F1.

De reviravolta em reviravolta, o Campeonato do Mundo de F1 ficou na história deste desporto. Alonso, Button, Webber e Hamilton passaram pela liderança do campeonato nas primeiras 18 corridas do ano, com Vettel sempre na perseguição, mas sem nunca chegar à primeira posição da tabela pontual. Mas o jovem alemão guardou o melhor para o final e não poderia ter escolhido com mais acerto o dia em que passou pela primeira vez na sua carreira, para a frente do Campeonato do Mundo de Pilotos: o dia em que acabou o Mundial de 2010.

Muito criticada por não ter colocado todos os seus esforços por trás da candidatura de Mark Webber na fase final do Mundial, sobretudo depois de Vettel ter abandonado em Spa-Francorchamps por erro próprio, a Red Bull acabou por ser recompensada por ter decidido manter tudo em aberto. Foi por ter dois pilotos na luta pelo título, na última corrida, que a equipa de Mateschitz juntou o Mundial de Pilotos ao de Construtores, pois a Ferrari teve de escolher entre marcar Vettel ou Webber e acabou por seguir o caminho errado.

Se Vettel venceu e convenceu, Mark Webber foi durante todo o fim de semana de Abu Dhabi uma sombra do piloto que dominou em Espanha e no Mónaco, admitindo que, “vão ser necessárias algumas semanas para digerir este resultado. Hoje simplesmente não tivemos andamento, nunca estivemos na luta e o resultado final foi este. Parabéns ao Sebastian e à equipa, que ganhou os dois títulos e para o ano cá estarei para tentar de novo.”

Mas com Vettel na mó de cima, mais forte do que nunca por já ter um título no seu currículo, e sempre com parte importante da Red Bull Racing a seu lado, Webber deve ter uma tarefa ainda mais complicada em 2011, bem se podendo dizer que desperdiçou no último fim de semana a melhor hipótese da sua carreira de se sagrar Campeão do Mundo de F1.

GP do Brasil de 2012: terceiro seguido de Vettel

Para a história fica o terceiro título seguido de Vettel, e o essencial da história encontra-o nas linhas abaixo, mas o que provavelmente não sabe é que AdrianNewey só precisou de ver uma fotografia do Red Bull de Vettel, para ver quais eram os danos do acidente que sofreu, e demorou pouco mais de uns segundos para dizer a Christian Horner quantos décimos por volta perderia Vettel com ‘aquelas’ peças a menos no seu carro. O facto da corrida ter sido totalmente caótica, com a pista húmida ou muito molhada, ajudou, e no final o alemão assegurou o seu terceiro título. Numa qualquer outra equipa, provavelmente, todos tinham baixado os braços resignando-se à má sorte, mas só porque não tinham nas suas fileiras um génio como Newey…

Quando Sebastian Vettel e Fernando Alonso chegaram a Interlagos, separava-os apenas 13 pontos, com vantagem para o alemão. Logo, ao espanhol era necessário terminar pelo menos em terceiro, com o seu rival a não conseguir melhor que décimo, para poder aspirar ao seu terceiro título. Não eram famosas as hipóteses do espanhol, mas quando Vettel fez um pião na primeira volta, após o contacto de Bruno Senna, as suas hipóteses ao cetro caíram drasticamente, e não houve ninguém no universo Red Bull que não tenha apanhado um susto daqueles… Ainda por cima, Alonso já estava em terceiro no início da segunda volta. No entanto, Vettel não baixou os braços e impondo um ritmo infernal, foi ganhando posições. À nona volta era já sétimo. Não se podia pedir mais ao jovem alemão, que reagiu rapidamente às alterações das condições da pista, trocando sempre para pneus mais adequados para não correr riscos desnecessários. Ao todo, Vettel fez quatro paragens nas boxes – nas voltas 10, 19, 52 e 54 – contra três pitstops de Alonso, o que lhe permitiu rodar consistentemente com borracha ideal em cada momento. Houve momentos em que era notória a sua contenção para evitar excessos. No polo oposto, Alonso rodou sempre entre os quatro primeiros, vindo a beneficiar do acidente entre Hamilton e Hulkenberg para subir para segundo. Mas sem argumentos para atacar a liderança de Button na parte final, deixava nas mãos do acaso as suas hipóteses de chegar ao título, que não se veio a confirmar.

No final, Button terminou a temporada tal como começou, com uma vitória convincente, mas a verdadeira festa era de Vettel e da Red Bull. As coisas não começaram por correr bem ao piloto alemão, mas tudo se recompôs, e terminou em beleza. Para Alonso ficava a sensação do dever cumprido, e mais um campeonato perdido na última corrida.

GP Abu Dhabi 2016: ano dramático

Da decisão do título na última jornada à retirada do eventual campeão, 2016 foi um ano repleto de motivos de interesse no meio de novo domínio da Mercedes. Mas a luta entre Nico Rosberg e Lewis Hamilton valeu por tudo o resto…

Começou com um arranque fenomenal de Nico Rosberg. Teve a primeira polémica no GP de Espanha, ganho pelo surpreendente Max Verstappen, e a primeira reviravolta antes da pausa do verão, quando, após o GP da Alemanha,Lewis Hamilton recuperou de um défice de 43 pontos para assumir o comando do campeonato.A segunda surgiu logo a seguir, depois de Nico Rosberg encabeçar nova senda de triunfos nas visitas à Bélgica, Itália e Singapura.

Em Abu Dhabi, na última corrida, Nico Rosberg só precisava de um pódio para ser coroado Campeão do Mundo de F1e foi exatamente isso que conseguiu em Abu Dhabi, mantendo-se sempre calmo atrás do natural vencedor da corrida, Lewis Hamilton.

Lewis Hamilton é muitas vezes referido com um ‘Pop Star’, que também é Campeão do Mundo de Fórmula 1 e a música que o piloto inglês decidiu tocar na segunda metade doGP de Abu Dhabi, foi um ‘slow’ que pôs toda a gente atrás dele a dançar Kizomba.

A corrida que decidiu o título corria o sério risco de ser entediante, pois pelo que se viu nos treinos livres e qualificação do evento, ninguém parecia poder incomodar a supremacia dos Mercedes, mas Hamilton introduziu um dado que já tinha sido amplamente debatido nos dias anteriores e apesar de TotoWolff já ter dado um ligeiro sinal de aviso, ao falar de ‘desportivismo’, era lógico que Lewis Hamilton tudo iria fazer para tentar chegar ao objetivo de ser campeão e depois de ter arrancado na frente sem problemas, o mesmo sucedendo a Nico Rosberg, o inglês nunca fez o que os Mercedes tantas vezes fizeram nos últimos três anos, e manteve o pelotão sempre a uma margem minimamente compacta. Na volta 13, os cinco pilotos da frente estavam separados apenas por 4.540s, na 22ª, 11.634s, mas na 46ª, a margem já era novamente 6.568s. E foi Hamilton o ‘causador’ deste ‘ajuntamento’, pois com Vettel e Verstappen tão perto de Rosberg, este nunca poderia estar descansado, pois poderia cair para terceiro, mas perder mais uma posição significaria perder o título se Hamilton aguentasse a liderança. E foi neste contexto que decorreu quase toda a corrida.

Filme de Hitchcok

Desde início que a corrida sorriu a Rosberg, mas o alemão só pode provar o doce saber de ser Campeão do Mundo de F1 depois de passar por um último teste exigente, só acessível a quem tem ‘nervos de aço’. Mas já lá vamos.

No início da corrida, Max Verstappendeu um toque em Nico Hulkenberg e caiu para último, Raikkonenficou em terceiro mas sem nunca conseguir ‘atacar’ o Mercedes de Rosberg. Só quando os pilotos da frente efetuaram as suas primeiras paragens nas boxes é que a corrida ganhou alguma emoção, pois a Red Bull decidiu arriscar com Verstappen, fazendo o holandês manter-se em pista. Tudo numaaltura em que apenas cinco segundos separavam os seis primeiros.

Depois de nova passagem pelas boxes, Rosberg ficou ‘entalado’ atrás de ‘Mad Max’, que, como é costume, não facilitou em nada a ultrapassagem. Até que na volta 20, o alemão, com tudo a perder, decidiu forçar esse momento, perante os aplausos do seu engenheiro. Com isso ganhou uma vantagem suficiente para parar novamente nas boxes à 30ª volta, retornando ao Circuito de Yas Marina com 3,7s de vantagem sobre Verstappen, que apenas tinha parado uma vez.

Entretanto, Vettelapenas tinha parado uma vez e liderava a corrida. Nesta fase, Hamilton abrandou o ritmocom a equipa pedir-lhe para andar mais depressa.

Pouco depois, Vettel foi às boxes, Hamilton regressava ao comando e Rosberg era segundo. Mas Vetteltinha agora pneus ultra macios.

A equipa voltou a dizer a Hamilton para aumentar o ritmo, porque Vettel estava perto, mas era exatamente isso que Hamilton queria. As últimas cinco voltas foram de cortar a respiração. A Ferrari acertou na estratégia, mas faltava Vettel‘caçar’Verstappen. Numa ultrapassagem emocionante, o #5 conseguiu o que procurava. Agora tinha Rosberg à sua frente, que era novamente abrandado por Lewis Hamilton, apesar dos pedidos de PaddyLowe e da Mercedes para aumentar o ritmo e garantir a vitória. “Lewis, precisamos que andes mais depressa” “Agora não posso falar”, respondeu. A duas voltas do fim, “agora estou a perder o campeonato, deixem-me vencer a corrida”, voltou a dizer o inglês.

Apesar da pressão, tal não aconteceu, com Nico Rosberg a levar o carro até ao segundo posto e a festejar o primeiro título mundial da sua carreira. Foi um final de cortar a respiração, pois com os pilotos tão juntos, qualquer coisa poderia suceder, e foi assim até à meta.

Muitos questionam-se se foi justo o que fez Hamilton. Foi, lutou com as armas que teve. Não quebrou regras nem bateu em ninguém. E Rosberg, foi um Campeão justo? Totalmente, e para o provar, fez uma ultrapassagem fantástica a Verstappen, mostrando toda a sua fibra. Se não o tem feito, teria Vettel atrás com pneus mais ‘frescos’. E assim foi feita história, com Nico Rosberg a chegar ao título Mundial, 34 anos depois do seu pai Keke Rosberg fazer o mesmo. O Campeão de 1982 tem andado afastado das parangonas, por escolha própria, seguia a corrida no Dubai, logo ali ao lado de Abu Dhabi, mas foi a tempo de festejar com o filho.

GP de Abu Dhabi de 2021: A corrida mais polémica da história da F1

Max Verstappen não parecia ter a possibilidade de ficar à frente de Lewis Hamilton no Grande Prémio de Abu Dhabi, mas um excelente jogo de equipa na Red Bull e decisões e ataques oportunísticos permitiram ao neerlandês conquistar a vitória e o título num final emocionante.

Desde a primeira sessão de treinos-livres da derradeira prova do Campeonato do Mundo de Fórmula 1 deste ano que ficava no ar um ligeiro ascendente da Mercedes num circuito que, com as alterações realizadas, parecia encaixar melhor nas características do carro de Brackley que nas do de Milton Keynes, e num fim-de-semana em que tudo contava para definir o Campeão Mundial, isso poderia ser determinante para o desfecho da temporada.

No entanto, a qualificação dava uma esperança a Max Verstappen e à Red Bull.

O holandês produzia uma das voltas do ano, com a ajuda de Sérgio Pérez, que lhe deu um excelente cone de ar ao longo de o primeiro sector e parte do segundo, e conquistava uma pole-position que parecia ser improvável frente a um incrédulo Lewis Hamilton, que garantia não ter resposta para o seu adversário. No entanto, existiam preocupações de ambos os lados da barricada.

A Red Bull tinha a sua estratégia condicionada pela fragilidade dos pneus dos seus pilotos, mas tinha dois carros para poder obrigar a Mercedes a fazer coisas que não queria com Hamilton.

O arranque seria um dos primeiros grandes momentos da decisão, com Verstappen a ter necessariamente a obrigação de manter o comando para, de alguma forma, poder controlar a corrida e gerir os seus pneus macios a um ritmo que lhe permitisse estender o máximo possível o seu primeiro “stint”. No entanto, o holandês, apesar de ter pneus mais performantes que lhe poderiam dar vantagem nos primeiros metros, partiu muito mal e Hamilton rapidamente ascendeu à liderança.

O piloto da Red Bull sabia da importância que tinha para a sua corrida comandar e na travagem para a Curva 6 lançou um ataque fortíssimo ao primeiro lugar do seu rival.

Verstappen ficou à frente, mas para evitar o contacto, o inglês teve de recorrer à escapatória, mantendo a liderança sem que o incidente fosse investigado.

Verstappen sofria a primeira derrota do dia, teria de continuar em segundo de acordo com o ritmo imprimido pelo seu rival e com pneus mais frágeis no seu carro.

Mais Pérez, menos Bottas

No entanto, a Red Bull tinha ainda o luxo de ter Pérez no terceiro lugar, que se desenvencilhara rapidamente de Lando Norris, terceiro na qualificação, ao passo que Bottas ficava mais longe de poder influenciar a decisão do título, ao cair para oitavo, e isso teria consequências mais à frente. Era evidente que Verstappen, apesar de ter pneus macios contra médios de Hamilton, não conseguia acompanhar o piloto da Mercedes e na décima segunda volta tinha já uma desvantagem de 5,1s para o líder e com as borrachas marcadas a vermelho a perderem cada vez mais eficácia.

Contudo, o holandês não tinha ainda cavado uma vantagem que lhe permitisse passar pelas boxes e sair à frente do líder do segundo pelotão, comandado por Carlos Sainz.

A desvantagem para o líder era demasiado longa para fazer o “undercut” e continuar com aqueles pneus era a garantia de perder ainda mais tempo.

A Red Bull arriscou fazer a paragem nas boxes imediatamente, mesmo correndo o risco de cair no escape do Ferrari de Sainz e na décima terceira volta chamou Verstappen.

Sem nada a perder e com a garantia de que Hamilton sairia à frente do espanhol, a Mercedes reagiu na volta seguinte e, com a inesperada dificuldade de Verstappen em suplantar o carro número cinquenta e cinco, a vantagem do inglês cresceu para 8,2 segundos, deixando o heptacampeão ainda mais confortável à frente do seu rival.

No entanto, a Red Bull tinha ainda uma carta a jogar – Sergio Pérez.

O mexicano ainda não parara e tinha como objectivo atrasar o máximo possível Hamilton de modo a poder deixar Verstappen o mais próximo deste possível.

O mexicano foi irrepreensível e, muito embora tivesse pneus completamente gastos, defendeu-se o máximo que pôde do inglês, ripostando até a uma ultrapassagem do piloto da Mercedes. Quando Hamilton suplantara definitivamente Pérez, Verstappen estava a apenas 1,7s da liderança, o que foi significativo, dado que o holandês mantinha-se dentro da janela de Safety-Car do inglês. Ou seja, se houvesse uma situação de Safety-Car ou Safety-Car Virtual, o piloto da Mercedes não conseguiria ir às boxes sem perder uma posição para Verstappen, se este escolhesse ficar em pista e isso seria determinante para a decisão da corrida.

Isto dava uma flexibilidade estratégica à Red Bull a que a Mercedes nunca acedeu, dado que com Bottas longe, este não poderia impedir Verstappen de realizar uma paragem nas boxes sem perder uma posição em pista para o finlandês.

No entanto, mesmo com pneus duros nos carros dos dois contendores ao título, a vantagem continuava do lado de Hamilton que voltou a imprimir um ritmo inalcançável para Verstappen. Na 35ª volta, a diferença entre os dois primeiros cifrava-se em 5,7 segundos. Se adicionarmos este tempo, à vantagem que Hamilton detinha antes de encontrar Pérez no seu caminho, 8,2s, teríamos 13,9 segundos, em cima dos 14 que custava uma paragem nas boxes com situação de Safety-Car ou situação de Safety-Car Virtual, e isto seria determinante.

Na volta seguinte, 36ª, António Giovinazzi via a sua carreira na Alfa Romeo terminar com problemas de caixa de velocidades e, com o carro de Hinwil parado em pista, foi espoletada uma situação de Safety-Car Virtual.

A Mercedes estava amarrada estrategicamente, dado que se parasse com Hamilton, a Red Bull manteria Verstappen em pista e o inglês teria de ultrapassar o seu rival em pista, com todos os riscos que isso aquilatava, dado que se ambos abandonassem, o título ficaria nas mãos do holandês.

O inglês não parou, a Red Bull não precisou de pensar muito, chamou os seus dois pilotos às boxes.

Verstappen teria agora de dar o máximo para apanhar Hamilton e ultrapassá-lo em pista para vencer e se sagrar Campeão do Mundo, tendo saído a dezasseis segundos do líder.

O holandês era mais rápido, mas não o suficiente para ter um impacto na decisão da corrida e, por conseguinte, na do título.

O máximo que conseguiu foi estar a 11,0s de Hamilton e, se os pneus deste não se deteriorassem significativamente nas últimas voltas, nunca conseguiria almejar o seu objectivo.

Porém, os deuses das corridas estavam do lado de Verstappen.

Nicholas Latifi e Mick Schumacher envolveram-se numa luta intensa, estavam cumpridas cinquenta e duas voltas, a seis do final, e depois de estarem lado a lado, o canadiano não conseguiu garantir a ultrapassagem e, com os pneus sujos, o seu Williams fugiu-lhe ao seu controle na Curva 14, onde Kimi Raikkonen batera na segunda sessão de treinos-livres, e com o seu carro danificado e no meio da pista, o Safety-Car foi obrigado a entrar em pista.

O Safety Car da discórdia

Uma vez mais, Hamilton não tinha margem para fazer uma troca de pneus sem perder o comando para Verstappen e era obrigado a manter-se em pista, ao passo que os dois Red Bull, com Bottas longe, podiam parar para montar macios de forma a atacar a liderança do inglês. Porém, havia ainda questões em cima da mesa.

Seria possível limpar a pista antes do fim da corrida, evitando assim terminar a temporada de 2021 com o Safety-Car em pista? Seria possível aos retardatários desdobrarem-se ficando assim os dois primeiros juntos, dado que entre eles estavam cinco carros?

Rapidamente pareceu evidente que teríamos ainda uma volta de corrida, mas a questão era saber o que fazer quanto aos carros dobrados.

Depois de numa primeira fase ter passado a informação de que não haveria alterações de posições, posteriormente, Michael Masi deu ordem para que apenas Lando Norris, Fernando Alonso, Esteban Ocon, Charles Leclerc e Sebastian Vettel – os pilotos entre Hamilton e Verstappen – passassem o Safety-Car deixando os dois candidatos ao título juntos, para satisfação da Red Bull e para grande dessatisfação da Mercedes.

Depois de ter dominado completamente toda a corrida, o inglês via-se agora em desvantagem para uma última volta em que o título seria decidido.

Como é habitual, Verstappen não deixou fugir a oportunidade e logo na primeira possibilidade após o recomeço, lançou um feroz ataque à liderança na Curva 5 ao qual Hamilton não tinha como responder.

O piloto da Mercedes ainda tentou ripostar na Curva 9, mas o holandês foi autoritário e caminhou com certeza para o seu primeiro título mundial de Fórmula 1, tornando-se no trigésimo quarto piloto a ostentar o ceptro.

Terminava assim, em pista, a temporada de 2021, com dramatismo, sendo uma das mais impressionantes de sempre, com dois pilotos no máximo das suas capacidades, sendo qualquer um deles um justo vencedor. A sorte acabou por sorrir a Verstappen.

Sérgio Pérez, que foi instrumental na vitória do seu colega de equipa, acabaria por abandonar ainda durante a situação de Safety-Car. O carro do mexicano desenvolvera um problema técnico, havendo a possibilidade parar em pista, o que poderia alongar a situação de Safety-Car, e a Red Bull decidiu chamar o seu piloto às boxes para desistir e não correr o risco de não haver voltas de corrida para Verstappen suplantar Hamilton.

Bottas, que em parte foi responsável pela derrota do seu colega de equipa, terminou a sua passagem pela Mercedes com um dececionante sexto posto…

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