A segunda despedida de Michael Schumacher

Por a 20 Novembro 2012 13:40

O Grande Prémio do Brasil de 2012 ficará também marcado pela segunda despedida de Michael Schumacher, seis anos depois de o ter feito pela primeira vez. Depois duma bem sucedida passagem pela Ferrari, que acrescentou cinco títulos aos dois já trazidos da Benetton, na sua segunda vida na F1, com a Mercedes, apenas alcançou mais um pódio para o seu currículo. O seu jovem companheiro de equipa, Nico Rosberg, bateu-o quase sempre, e o veterano alemão sai da F1 quase pelo fim da tabela, como sucedeu em Austin, nos EUA, onde foi 16º a uma volta do vencedor: “Não esperava estes resultados nesta segunda fase da minha carreira. Quando voltei, em 2010, pensei que mas bastariam dois anos com a Mercedes para chegar ao título, mas a verdade é que como equipa nunca estivemos em posição de lutar pelos lugares da frente ao longo destas três temporadas. Pessoalmente, saio convencido que ainda posso lutar ao mais alto nível, como demonstrei em diversas ocasiões, sobretudo nos últimos dois anos. Mas como equipa faltou-nos muita coisa, mais a nível técnico do que de gestão, e os resultados não apareceram. Não era isto que tinha planeado, mas a vida é assim e tenho de aceitar que este é o momento de parar, sem mais vitórias para acrescentar às que já tinha.”

Super-Campeão

Michael Schumacher nasceu a 3 de janeiro de 1969 em Hürth, uma vila perto da fronteira com a Bélgica e a não muito grande distância de dois dos templos do automobilismo mundial: Nurburgring, na Alemanha, e Spa-Francorchamps, na Bélgica

Filho de Rolf, um pedreiro, e de Elisabeth, as origens de Michael Schumacher são do mais vulgar que imaginar se possa mas, quando Michael tinha quatro anos, o seu pai modificou um kart a pedais, adicionando-lhe um pequeno motor de uma moto. A experiência não podia ter corrido pior ao jovem Michael, pois acertou em cheio num poste de iluminação, numa rua de Kerpen. Assustado, o seu pai decidiu de imediato que era tempo de acabar com este tipo de brincadeiras perigosas e inscreveu o rebento na pista de karting que existia a localidade vizinha de Kerpen-Horren – e Michael tornou-se o mais jovem membro do clube local.

O caminho para a F1

Insatisfeito com os progressos do pequeno, o pai Rolf construiu-lhe um kart mais competitivo, feito com peças avulso e, aos seis anos, Schumacher ganhou o seu primeiro campeonato de clube. Para apoiar o jovem prodígio, Rolf arranjou um segundo trabalho, ajudando a reparar e a alugar karts, enquanto a sua mulher começou a trabalhar na cantina do kartódromo. Contudo, quando Michael precisou de um motor mais competitivo, este ficava em 800 marcos – sem dinheiro para isso, a solução foi encontrar o apoio dos comerciantes locais, que passaram a suportar a carreira do jovem.

Na Alemanha, apenas aos 14 aos é possível a um jovem conseguir licença desportiva para pilotar karts. Decidido a contornar a lei, o pai Rolf atravessou a fronteira próxima com o Luxemburgo e, aos 12 aos, Michael já tinha uma licença oficial de piloto.

Em 1983, obteve licença alemã e, no ano seguinte, ganhou o Campeonato Júnior de Karting. Daí em diante, Michael Schumacher venceu diversos campeonatos nacionais e europeus, entrando para a equipa Eurokart, de Adolf Neubert, em 1985. Quando, dois anos mais tarde, venceu os títulos alemão e europeu de Karting, Schumacher deixou a escola e começou a trabalhar como mecânico.

1988 foi o ano em que subiu o degrau para os monolugares, participando nos campeonatos de Fórmula Ford e de Fórmula Koenig, ganhado o último, após uma primeira polémica, quando colocou fora de pista, na derradeira corrida no Nürburgring, o seu mais perigoso adversário.

Em 1989, Michael Schumacher assinou com Willi Weber, dono da equipa WTS, que corria no Campeonato Alemão de F3. A partir daí, e durante décadas, os dois homens selaram uma longa relação – foi com a ajuda de Weber que Schumacher competiu (e ganhou) no campeonato alemão, vencendo ainda o GP de Macau, no final desse ano.

Até começar, em 1991, sem aviso prévio, uma carreira na F1 que se revelaria a mais magnífica e acima de qualquer façanha assinada por qualquer outro mortal, Michael Schumacher fez parte, com os seus rivais na F3, Heinz-Harald Frentzen e Karl Wendlinger, do programa de desenvolvimento de jovens pilotos da Mercedes, correndo no Campeonato do Mundo de Sport-Protótipos. Uma escolha pouco vulgar para quem queria atingir a F1 – mas que Weber lhe garantiu ser a melhor forma de começar a lidar com a pressão. Além disso, pilotar carros tão potentes como o Sauber C11/Mercedes apenas seria benéfico para a sua carreira – e, por isso, Schumacher não fez o percurso normal nessa época, que era chegar à F1 através da F3000.

No final de 1990, Schumacher ganhou a última corrida da temporada, no Autódromo Hermanos Rodríguez, no México, acabando o campeonato no quinto lugar, apesar de ter feito apenas três das nove corridas do calendário.

Michael Schumacher continuou com o Junior Team da Mercedes no ano seguinte, voltando a vencer a última corrida, na pista japonesa de Autopolis e terminado em nono o campeonato. Fez também as 24 Horas de Le Mans, classificando-se em quinto lugar e partilhando o carro com Wendlinger e Fritz Kreutzpointner. Foi também neste ano que fez a sua única corrida de F3000, no campeonato do Japão – acabou-a em segundo lugar. Mas, principalmente, 1991 ficou como o ano em que se estreou na F1.

Títulos e polémicas… mas na F1

Sucedeu a 25 de Agosto, na pista de Spa-Francorchamps, palco do GP da Bélgica, a 11ª corrida desse ano: depois de um impressionante primeiro teste em Silverstone, na semana anterior, Michael Schumacher, então com 22 anos, pilotou o Jordan/Ford com o nº 32, em substituição de Bertrand Gachot, que tinha sido preso em Londres, por agredir um taxista com gás-pimenta numa rixa de rua. Piloto ainda sob contrato com a Mercedes, Schumacher teve ainda que esperar que a Mercedes pagasse a Eddie Jordan 150 mil dólares. Schumacher apenas tinha ido a Spa como espetador, nunca ali tendo corrido. Mas, mal ali chegou, recusou a ajuda do seu colega de equipa, Andrea de Cesaris, que se ofereceu para lhe mostrar o traçado e, montando-se numa bicicleta que trazia sempre consigo, percorreu Spa cuidadosamente. E parece que isso deu resultado – nos treinos, qualificou-se em sétimo lugar, oferecendo à equipa a melhor posição numa grelha de partida nesse ano e, mais que isso, humilhando o veterano De Cesaris, que ficou 11 posições atrás de si. Infelizmente, na corrida, Schumacher abandonou logo na primeira volta, com problemas de embraiagem – mas deixou todos de boca aberta; o conceituado jornalista Joe Saward garantiu mesmo que ele era o melhor talento alemão desde Stefan Bellof, que tinha morrido ali mesmo, em 1985.

Depois desta estreia tonitruante e apesar de ter chegado a um acordo de princípio com a Jordan para o resto da temporada, Michael Schumacher assinou com a Benetton para pilotar a corrida seguinte. Jordan levou o caso aos tribunais britânicos, mas perdeu, pois não tinham ainda assinado nenhum contrato. Schumacher fez o resto da temporada na Benetton e conquistou quatro pontos em seis corridas, tendo a sua melhor classificação acontecido logo na sua segunda corrida, em Monza, onde foi quinto, na frente do seu conceituado colega de equipa, o tricamepão do Mundo Nelson Piquet.

Primeira época – e incompleta! – e primeira polémica. Seria assim a sua carreira na F1, onde obteve um total de sete títulos. Dois foram logo com a Benetton, em 1994 e 1995, ficando o primeiro assinalado por ter sido no ano da morte de Ayrton Senna, o rival com quem nunca teve a oportunidade de lutar com armas iguais. Ficará, para sempre, a dúvida sobre quem seria o melhor piloto – assim como a arrogância que o fez dizer que, a ele, nunca teria sucedido o que sucedeu a Senna, em Imola. Além disso, Schumacher garantiu o título depois de, na última corrida, na Austrália, onde chegou com uma vantagem de um ponto, ter atirado o seu carro contra o do seu principal rival, Damon Hill, depois de se ter despistado e acertado nos rails, na volta 36.

O seu segundo título foi menos controverso, apesar de ter voltado a ver-se envolvido em colisões com Damon Hill por duas vezes. Schumacher venceu nove das 17 corridas da temporada, terminando no pódio por 11 vezes. Porém, ainda hoje se fala à boca cheia de que os Benetton estavam algo afastados da letra do regulamento… coisa que nunca se provou por nunca ninguém ter apresentado um protesto real…

Em 1996, Michael Schumacher assinou contrato com a Ferrari por dois anos e por um valor de 60 milhões de dólares. A sua missão era fazer regressar a marca italiana à ribalta e voltar a conquistar títulos mundiais, de que andava afastada desde 1979, quando Jody Scheckter garantiu o de Pilotos e desde 1983, ano em que ganhou entre os Construtores, com René Arnoux e Patrick Tambay. Schumacher deixou a Benetton a um ano do final do seu contrato, em litígio com a equipa de Flavio Briatore – e levou consigo Rory Byrne e Ross Brawn, formando com este uma dupla que viria a revelar-se imbatível entre 2000 e 2004, período durante o qual Michael Schumacher cimentou uma carreira recheada de recordes, vencendo de rajada cinco títulos mundiais, tantos quantos tinha feito Juan Manuel Fangio quase cinco décadas antes – e batendo o seu recorde, ao juntar-lhes os dois que tinha conquistado com a Benetton.

Em 2006, Michael Schumacher deixou a F1, mas ficou como consultor da Ferrari, sendo por isso regiamente pago. Em 2009, ficou em stand by para substituir o lesionado Felipe Massa, mas problemas físicos relacionados com mais uma das suas várias quedas que sofreu em corridas de motos (uma sua outra paixão, a que se dedicou após deixar a F1, por uma questão de… manter a adrenalina sempre em cima!) inviabilizaram o seu regresso. Fê-lo, contudo, em 2010, mas com a Mercedes, juntando-se à marca de Estugarda naquele que foi o regresso mais badalado dos últimos anos. E logo duplo: do melhor piloto, em termos estatísticos, da F1 e da equipa que tudo ganhou, durante a sua curta presença na F1, na década de 50.

No GP da Bélgica, Michael Schumacher celebrou o seu 300º GP de F1, numa terceira época em que os seus detratores garantem ser do tudo ou nada – pois apenas aqui e além voltou a mostrar o talento que o tornou no piloto que mais títulos mundiais (sete) e maior número de GP de F1 ganhou (91). A verdade, durante estas três temporadas, Michael Schumacher tem mantido intacta a fama que, ao logo da sua carreira, o fez ser desclassificado várias vezes, a mais notável delas em 1997, quando foi apagado da classificação do Mundial, após ter deliberadamente tentado atirar para fora de pista, em Jerez de la Frontera, o seu rival Jacques Villeneuve, numa repetição da manobra que, em 1994, lhe deu o primeiro título. No domingo termina em definitivo a sua carreira na Fórmula 1, mas para a história vai permanecer o registo dum super-campeão.

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