Dakar: como foram os últimos cinco anos

Por a 1 Janeiro 2023 10:25

Os últimos anos de qualquer grande evento dá sempre muitas pistas quanto ao novo, que se está prestes a realizar, e também coloca em contexto o que irão fazer os pilotos na 45ª edição da prova. Por isso vamos recordar o que foi o Dakar nos últimos cinco anos nas quatro rodas. Para mais info das duas rodas: motosport.com.pt

2022: Nasser Al-Attiyah vence Dakar pela 4ª vez

Nasser Al-Attiyah e Matthieu Baumel venceram o Dakar, no quarto triunfo do piloto do Qatar, que empatou com Ari Vatanen. Sébastien Loeb foi segundo e está cada vez mais perto de vencer um Dakar. Yazeed Al Rajhi foi merecido terceiro classificado, um pódio em ‘casa’.

Depois do saudosismo de África e da variedade da América do Sul, a Arábia Saudita tem-se mostrado como um grande local para uma prova como o Dakar.

As paisagens são de arrepiar, o percurso escolhido pela ASO foi duro, como tem de ser a grande maratona. E esta prova só não foi mais interessante nos autos, porque Nasser al Attiyah esteve a um nível muito difícil de bater. Resolvida a questão dos furos com os novos T1+, o piloto do Qatar esteve pouco menos que imbatível, deixando claro que tinha mais para dar se fosse preciso. Nunca há certezas de nada numa prova como o Dakar, mas Attiyah cedo deixou perceber que dificilmente perderia esta prova. Como sucedeu.

A Toyota esteve um nível acima da BRX Prodrive, que apesar de ter construído o seu segundo carro em dois anos, mostrou estar pronta para dar cada vez mais luta à Toyota.

A pioneira Audi cumpriu o seu caminho, cedo ficou claro que não seria chegar ver e vencer, mas as suas três equipas fizeram o suficiente para deixar claro que no próximo Dakar vai ter que se contar com a equipa alemã. Por fim, a Mini, sem piloto de topo já viu o conceito dos seus buggy ultrapassado, mas ainda capaz de lutar no top 10, tal como sucedeu.

A prova foi complicada em termos de navegação, os percursos foram duros quanto baste, numa prova marcada por polémica antes de começar com uma explosão de um carro de apoio, numa história muito mal gerida pelas autoridades locais e terminou com uma enorme tragédia, a morte de um jovem mecânico da PH Sport, Quentin Lavallée, devido a um acidente de viação numa ligação.

Nasser al Attiyah um nível acima

Depois de ter guiado para algumas das principais equipas do desporto (BMW, Volkswagen, Hummer e Mini), Nasser al Attiyah estabeleceu-se no seio da equipa Toyota Gazoo Racing, conquistando o primeiro triunfo da marca em 2019. Hoje em dia, tornou-se no piloto a bater no TT, e nesta prova esteve imperial.

O nativo de Doha arrancou para este seu 18º Dakar com a Hilux renovada com rodas e suspensão maiores e dominou primeiro, controlou depois, toda a prova. Venceu três etapas, liderou sempre, a sua maior vantagem foi alcançada na etapa 6, 48m54s, o dia antes do descanso e foi aí que estabeleceu a tática para a segunda semana: expetativa, controlo, gestão, fugir dos erros e ‘azares’ como o diabo da cruz. Penso e executou na perfeição.

Pelo segundo lugar da geral durante a prova passaram Carlos Sainz, Sébastien Loeb e Yazeed Al-Rajhi, mas a liderança nunca esteve verdadeiramente ameaçada.

Sebastien Loeb/Fabian Lurquin(BRX Hunter/Prodrive Bahrain Raid Xtreme) terminaram no segundo lugar, e mais uma subida de degrau do francês face a um futuro triunfo no Dakar.

Foi segundo em 2017 com a Peugeot, no seu segundo Dakar, terceiro em 2019 novamente com a Peugeot, e pelo que se viu este ano já não restam muitas dúvidas que Loeb um dia vai vencer o Dakar. Nesta prova fez o que podia, pressionou até onde pode, e o facto de não se ter excedido prova que já sabe até onde pode ir no Dakar. Mais vale um segundo lugar que novo abandono…

Pódio em ‘casa’

Depois do quarto posto em 2020, Yazeed Al Rajhi/Michael Orr (Toyota/Overdrive Toyota) terminaram este Dakar em terceiro, o seu melhor resultado de sempre na prova.

Não foi fácil, o percurso teve alguns altos e baixos, mas depois de ter caído de segundo para terceiro na etapa 6, nunca mais teve a posição em risco, sabendo-se que voltar ao segundo lugar era muito difícil. Mostrou consistência e finalmente conseguiu o pódio, o que em ‘casa’ lhe sabe ainda melhor.

Quarto posto para Orlando Terranova/Daniel Oliveras (BRX Hunter/Prodrive Bahrain Raid Xtreme) que melhora assim o seu quinto posto de 2014. Dois sextos lugares em 2017 e 2020 foi o melhor que conseguiu depois disso, mas com a BRX Prodrive elevou o nível do que pode alcançar no Dakar e este quarto posto é a prova disso. Começou a prova com muitas cautelas, mas a sua consistência foi fantástica, subidindo posições quase todos os dias. Ainda tentou chegar-se a Yazeed al Rajhi, mas já não teve tempo para isso. Seja como for, é o seu melhor resultado de sempre no Dakar.

Giniel de Villiers/Dennis Murphy (Toyota/Toyota Gazoo Racing) terminaram em quinto, e de ano para ano os seus resultados no Dakar continuam a fraquejar, ainda que se mantenham a um nível alto. De Villiers está longe do piloto que venceu em 2009 com a Volkswagen, mas foi o azar que teve na etapa 7, uma fuga de óleo que o imobilizou em pista, que não lhe permitiu lutar pelo pódio.

Jakub Przygonski/Timo Gottschalk (Mini/X-Raid Orlen Team) terminaram o Dakar no 6º lugar, não conseguindo por isso bater os seus dois melhores resultados, dois quartos lugares em 2019 e 2021. Como se percebeu, os BRX estiveram este ano bem mais competitivos, e atiraram com o polaco um pouco mais para trás. Ou seja, a sua prestação não piorou, mas sim os adversários melhoraram.

Com a chegada da Audi e a BRX cada vez melhor, vai ser cada vez mais difícil ao polaco brilhar. Seja como for, as 2h42m perdidas na etapa 9, devido a um problema mecânico no Mini Buggy, tramaram-no. Caiu de quarto para sexto e ficou à mercê dos adversários diretos. Sem esse problema teria lutado pelo pódio.

Mathieu Serradori/Loic Minaudier (Century/SRT Racing) terminaram o Dakar na nona posição, não conseguindo sequer fazer melhor do que em 2020, mas fizeram uma boa prova. Começaram mal, no 31º lugar, a meio da prova já estavam em 12º, e daí até final ainda subiram até ao 7º lugar.

Sebastian Halpern/Bernardo Graue (Mini X-Raid Mini John Cooper Works Rally), terminaram no oitavo lugar, melhorando uma posição face ao que conseguiram em 2018. Com alguns altos e baixos, na primeira semana foram perdendo posições, mas melhoraram na segunda, foram mais consistentes e terminaram no top 10.

Audi trilhou caminho

Sendo verdade que se esperava mais da Audi em termos de classificação geral, o facto de Stéphane Peterhansel e Carlos Sainz terem perdido muito tempo, muito cedo na prova, deixou-os logo muito atrás e por isso não foi de estranhar que tenham sido Ekstrom/Emil Bergkvist (Audi RSQ e-Tron) os melhores da equipa, com o nono lugar.

Todos tínhamos dúvidas face ao que a Audi poderia fazer, mas cedo se percebeu que chegar ver e vencer já não é para os tempos que correm, muito menos numa prova destas.

A não ser que tivessem feito 10 Rali Dakar em testes, e mesmo assim nada lhes seria garantido. Tendo em conta o número de etapas que venceram, quatro, Carlos Sainz (2), Mattias Ekström (1), Stéphane Peterhansel (1), não lhes faltou performance apesar das queixas apresentadas.

Foi pela fiabilidade que o carro quebrou, no caso de Peterhansel, uma das vezes, quando perdeu mais tempo ficando fora de prova, bateu e arrancou a suspensão traseira. ficou a servir de mochileiro para os colegas. Não nos admiraremos se voltarem para o ano na luta pelo triunfo.

Depois de terem caído para o 47º lugar na etapa 1B, em que se perderam, Carlos Sainz/Lucas Cruz (Audi RSQ e-Tron) ainda recuperaram até ao 12º lugar da geral.

Peterhansel ficou fora da classificação muito cedo.

Vladimir Vasilyev/Oleg Uperenko (BMW/VRT Team) encerraram o top 10, longe do sexto lugar do ano passado. O russo tem uma única tática: fugir dos problemas e andar com consistência.

Vaidotas Zala/Paulo Fiúza (Mini JCW/Teltonika Racing) não conseguiram terminar no top 10, mas ficaram à porta, no 11º lugar. Seja como for é o melhor resultado do piloto lituano no Dakar.

Nasser al Attiyah foi claramente o piloto de maior brilho nesta prova, mas há outros que se destacaram: Sébastien Loeb fez uma prova inteligente, forçou até onde podia, mas a Toyota Hilux T1+ parece mais bem preparada que o BRX Hunter T1+, que no entanto está mais perto da nova Hilux do que o BRX do ano passado face à Hilux.

Outro ponto ‘mais’, o combustível sustentável Prodrive EcoPower, que poupou muitas toneladas de C02 na atmosfera.

Yazeed al Rajhi, também fez um bom Dakar. A Toyota nota-se que está um passo à frente da BRX Prodrive, e do lado ‘menos’, a Audi, mas um ‘menos’ muito suficiente pois as várias vitórias e etapas mostram que o conceito é bom. Venha o próximo, só faltam 50 semanas…

2021: 14ª vitória de Stéphane Peterhansel no Dakar

Stéphane Peterhansel (Mini Buggy) venceu o Dakar! Ao lado do seu novo co-piloto, Édouard Boulanger, o francês susteve com êxito os ataques da dupla de Nasser Al-Attiyah e Matthieu Baumel e obteve o seu oitavo triunfo no Dakar nos autos e o seu 14º entre autos e motos. Além disso, este triunfo de ‘Mr. Dakar’ surge precisamente 30 anos após a sua primeira vitória, nas motos, em 1991. Nasser al Attiyah (Toyota Hilux) foi segundo a menos de um quarto de hora, na frente de Carlos Sainz (Mini Buggy) que desta vez se quedou pelo lugar mais baixo do pódio.

Nos últimos quatro anos só Giniel de Villiers, Nani Roma e Sébastien Loeb se conseguiram imiscuir no pódio do Dakar no meio do enorme domínio que tem sido levado a cabo por Stéphane Peterhansel, Carlos Sainz e Nasser al Attiyah. Há muito que estes veteranos da grande maratona que é o Dakar, dominam a disciplina e este ano não foi exceção.

Desde 2017 que Stéphane Peterhansel não acrescentava triunfos no Dakar ao seu longo palmarés, mas isso terminou agora com o seu 14º triunfo na grande maratona. Carlos Sainz, duas vezes (2018 e 2020), e Nasser al Attiyah, uma, em 2019, vinham dividindo entre si os triunfos, mas desta feita o francês foi buscar os seus melhores atributos e triunfou mais uma vez. Nasser al Attiyah foi segundo na frente de Carlos Sainz.

A prova foi interessante, mas a ASO tem vários problemas para resolver pela frente, pois como tem vindo a suceder todos os anos, sendo verdade que para os adeptos o Dakar são duas semanas de competição, no resto do ano a política domina a prova com os responsáveis das principais marcas a pressionar a ASO para desenvolver regulamentos que os beneficiem. Há muito é assim e nunca como sucedeu este ano no final da prova, com as declarações de Attiyah, a questão subiu tanto de tom. Mas já lá vamos…

Em termos desportivos, o momento-chave da prova deu-se na etapa 9. À entrada desta tirada, Nasser al Attiyah rodava 5m50s atrás de Stéphane Peterhansel, e no final a margem subiu para 17m50s. Foi aí que o rali se decidiu apesar de duas complicadas etapas que ainda havia pela frente, entre elas a 11ª, que para o diretor de prova, David Castera, era a mais difícil deste Dakar, com cerca de 80 Km de difíceis dunas.

Na etapa 9, Stéphane Peterhansel viu Nasser Al-Attiyah sofrer dois furos, e com a margem entre ambos a mais do que triplicar, as hipóteses do piloto da Toyota repetir o triunfo de 2019, diminuíram drasticamente. A partir daqui o piloto da Toyota só poderia contar com a má sorte de Peterhansel, mas há um dado em que se tem de refletir. A Toyota teve até esse momento, 48 furos entre os três carros, e foi aí que se fez a diferença.

Independentemente do restritor do motor, entre o Mini Buggy da X-Raid e a Toyota Hilux, a verdadeira diferença fez-se na forma como os pneus dos Mini e das Toyota suportaram as dificuldades do percurso.

Como sempre, o Dakar ‘cai’ mais para um lado ou outro, entre os favoritos, dependendo do percurso que é escolhido, e este ano isso foi notório, com a agravante da questão das diferenças nos pneus. Este ano tivemos uma prova com diversas etapas de muito mau piso, pedra e trialeiras, e os buggy conseguem passar bem mais depressa, não só devido ao maior curso de suspensão mas também o tamanho dos pneus. Os Mini da X-Raid, têm um diâmetro maior e paredes laterais também maiores, por isso têm tendência a furar menos. O único contra é mesmo pesarem mais cerca de 10 kg.

E foi aí que se fez boa parte da diferença, só Nasser al Attiyah teve 16 furos. Stéphane Peterhansel teve quatro e Carlos Sainz, três. Uma diferença abismal para al Attiyah. Tendo em conta que a diferença final foi de 13m51s, imagine-se a importância que tem o tempo perdido em 12 furos, os que al Attiyah teve a mais que Peterhansel.

Por outro lado, há também que não esquecer o fator navegação, e nesta edição um piloto que já tivesse competido e navegado nas motos era uma ajuda enorme, tendo a conta a melhor leitura do terreno que os homens da motos se habituam a fazer. E quem já o fez dos três do pódio? Peterhansel!

Nos últimos anos, Carlos Sainz tem ganho ano sim, ano não, mas este ano o espanhol não se entendeu com as dificuldades de navegação que a ASO impôs para este ano, e perdeu a prova nesse particular, atrasando-se irremediavelmente nas etapas 3, quando se perdeu, e depois, definitivamente, na 9, quando teve problemas com os travões do Mini, ficando nesta altura demasiado longe para poder aspirar em vencer.

Boa estreia do BRX Hunter

Para lá dos três homens da frente, exatamente aqueles que esperávamos poder terminar nos três lugares da frente, independentemente da ordem, o Dakar ficou ainda marcado pela estreia do BRX Hunter 4X4, de Sébastien Loeb, Nani Roma e da Prodrive e o quinto lugar do espanhol foi um bom prémio para uma prova em que a estrutura de David Richards provou que em poucos meses é capaz de construir um carro para uma prova tão difícil quanto esta e colocá-lo de imediato entre os melhores. Nunca o BRX deu quaisquer sinais de poder terminar no pódio, mas percebeu-se que há potencial para fazer mais e melhor no futuro. Dinheiro não vai faltar vindo do Bahrein.

Quanto a Sébastien Loeb, atrasou-se cedo depois de ter tido problemas. Durante a etapa sete, o camião de apoio, transportando peças sobressalentes vitais para ambos os carros, danificou o seu eixo traseiro, e ficou sem tempo para completar a etapa e estar em condições de fornecer rodas e peças sobressalentes a qualquer um dos Hunter. Como tal, foi tomada a decisão de fornecer a Nani Roma #311 Hunter a maioria dos pneus sobresselentes disponíveis da equipa, para assumir a etapa oito, e preservar a posição competitiva no rali. Nesse contexto, e na etapa 8 Sebastien Loeb e Daniel Elena sofreram dois furos no #305 Hunter. Sem pneus sobresselentes para poder continuar, foram forçados a retirar-se da prova.

Jakub Przygonski (Toyota Hilux) foi quarto classificado e repetiu a sua melhor classificação de sempre no Dakar. Fez uma prova muito consistente, só na etapa 9 as coisas lhe correram verdadeiramente mal, e mesmo assim não se atrasou demais, mantendo a quarta posição que já trazia da quinta etapa. Fez quatro quintos lugares e essa consistência valeu a posição, 50 minutos na frente de Nani Roma. Com grande tenacidade e uma estratégia inteligente, o polaco foi o “melhor dos outros”. O piloto da Orlen Team, de 35 anos, competiu no Dakar pela 12ª vez (sexta vez nos autos) e repetiu o melhor resultado de há dois anos, quando pilotava um Mini. Agora correu de Toyota Hilux Overdrive.

A dupla russa Vladimir Vasilyev/Dmitro Tsyro (Mini All4 Racing X-Raid) terminou em sexto, e ainda não foi desta que melhorou ou repetiu o quinto lugar de 2015. Perderam-se na etapa 1, mas a partir daí subiram 20 posições, do 26º para o sexto lugar.

Khalid al Qassimi e Xavier Panseri (Peugeot 3008 DKR), terminaram em sétimo depois de terem de recuperar do 11º lugar, chegando ao sétimo posto na etapa maratona.

Nos últimos dias de prova, Giniel de Villiers e Alex Haro (Toyota Hilux, Gazoo Racing) foram dos únicos a ganhar uma posição, terminando em oitavo. Esperava-se mais de um piloto oficial Gazoo Racing, mas o sul africano teve alguns azares, e até problemas físicos. Atrasou-se cedo e nunca mais recuperou.

Martin Prokop e Viktor Chytka /Ford Raptor) foram nonos, longe do sexto lugar de 2019. Começaram bem mas atrasaram-se cedo. Recuperaram até ao quinto posto, mas voltaram a cair novamente para o 10º lugar. Terminaram em nono, foi o possível.

Depois duma boa luta pelo último lugar do top 10, o ‘prémio’ foi para Cyril Despres (Peugeot 3008 DKR) que bateu o experiente Christian Lavieille (Buggy MD) e também Benediktas Vanagas e Filipe Palmeiro (Toyota Hilux), que ficaram meia hora mais atrás de Despres.

Dos azarados falámos na passada semana, a meio da prova já Orlando Terranova, problema elétrico na etapa 5, Henk Lategan (acidente), Bernhard ten Brinke (acidente) Sébastien Loeb (furos e falta de pneus) Mathieu Serradori brilhou de início, mas terminou apenas na 44ª posição, Yasir Seaidan prometeu, mas acabou em 39º. Romain Dumas já tinha sido 8º no Dakar, foi 43º depois de muitos problemas no Buggy Rebellion.

Por fim, um semi-azarado: Yazeed Al Rajhi partiu a caixa de velocidades, chegou a ser 43º no fim da etapa 4 e ainda recuperou 27 posições até ao 16º lugar depois de triunfar em duas etapas.

Dores de cabeça para a ASO

A ASO ‘inventou’ e correu mal ao tentar travar a velocidade com que se estava a andar nas diversas categorias, dificultando a navegação artificialmente com jogos de waypoints escondidos, retirando alguma informação importante das notas, e fazendo os concorrentes andar aos ziguezagues. Deu mau resultado e Carlos Sainz foi dos que se expressou com mais veemência ao dizer que “estava farto disto”. Loeb disse que “Não quero criticar o roadbook. Mas, para mim, esta prova é mais para os navegadores, mas também pode ser do terreno. Em comparação com a América do Sul, a navegação é muito mais agressiva”.

Como piloto, não faço diferença, faço o que me mandam. Por isso é que é uma corrida para os navegadores e não para os pilotos”, disse.

Mas não foi só por causa da navegação que a ASO recebeu críticas.

A mais contundente foi de Nasser Al-Attiyah, ao revelar que não está interessando em regressar à prova se os atuais regulamentos se mantiverem. Al-Attiyah defende um maior equilíbrio entre os Buggies e os 4X4, “precisamos de ter regras justas”, diz “Os buggies ganham há cinco anos contra os 4X4, porque as regras os favorecem. Espero que os organizadores mudem isso, porque se não mudarem não me interessa vir competir”, disse.

Como se percebe, é muito difícil o trabalho da ASO pois qualquer coisa que faça vai afetar um ‘lado’ ou outro e já é assim há largos anos…

2020: Carlos Sainz vence o seu terceiro Dakar

O espanhol conquistou pela terceira vez o Dakar, evento que ficará marcado na história por bons e maus motivos. Portugal perdeu um dos seus atletas mais distintos, Paulo Gonçalves, por outro lado, Paulo Fiúza foi ao pódio dos autos, batendo um recorde com 17 anos. A Honda regressou às vitórias nas motos, a Kamaz voltou a vencer nos Camiões e Casey Currie triunfou nos SSV, categoria em que Bianchi Prata foi quarto

Este Dakar pode ficar na história por vários motivos, infelizmente, um deles demasiado triste até para ser recordado. A morte de Paulo Gonçalves irá ensombrar para sempre esta prova, numa edição do Dakar que para as cores portuguesas ficará marcada também pelo melhor resultado de sempre de um luso nos automóveis, com o terceiro lugar de Paulo Fiúza, navegador de Stéphane Peterhansel. Portugal já tinha dois segundos lugares nas motos, em 2013 e 2015, por intermédio de Rúben Faria e Paulo Gonçalves, respetivamente, mas nos autos pontificava ainda o quarto lugar de Carlos Sousa e Henri Magne de 2003, agora suplantado pelo navegador luso.

Este Dakar fica também para a história devido ao fim do domínio da KTM nas motos, com a Honda a vencer 30 anos depois da última vez que o tinha conseguido, agora intermédio de Ricky Brabec.

Para Carlos Sainz, depois de ter vencido dois títulos mundiais de ralis, assegurou este ano o seu terceiro triunfo no Dakar, vitória que pode ainda revelar-se mais especial já que não é garantido o regresso de El Matador a estas lides. A poucos dias de completar 58 anos, o espanhol consegue mais um feito notável na sua excelente carreira, realizando uma corrida quase perfeita, contando para isso com a ajuda de Lucas Cruz, o seu fiel navegador.

Para a X-Raid, é o regresso aos triunfos, o quinto da Mini no Dakar, que já não sucedia desde 2015. Depois de vencer quatro vezes seguidas com o Mini All4 Racing, Sven Quandt mudou de conceito com o seu novo Buggy, mas não de veia ganhadora, como ficou provado.

2010, 2018 e 2020. Carlos Sainz assegura a terceira vitória da sua carreira no Dakar, curiosamente, todas com carros diferentes (Volkswagen, Peugeot e agora Mini). O espanhol, que conquistou quatro vitórias em etapas pelo caminho, bateu Nasser Al-Attiyah por seis minutos após 5.000 km de corrida, com Stéphane Peterhansel e Paulo Fiúza a terminarem no lugar mais baixo do pódio.

As Mini e a Toyota colocaram quatro carros cada no top 10, sendo as duas restantes posições alcançadas por dois buggies.

Quanto aos portugueses das quatro rodas em prova, e para lá do pódio de Paulo Fiúza, Benediktas Vanagas e Filipe Palmeiro (Toyota) terminaram em 15º, depois de terem passado pelo top 10. Ricardo Porém e Manuel Porém ficaram pelo caminho na etapa 8, depois de já terem abandonado uma primeira vez antes do dia de descanso. Pedro Bianchi Prata teve uma grande estreia como navegador ao ficar à beira do pódio dos SSV, no quarto lugar, num Dakar em que navegou Conrad Rautenbach, ex-piloto de ralis. Bruno Sousa terminou em 26º dos Camiões, mas a missão dele não era o cronómetro, e sim o apoio aos homens da South Racing.

Fez-se história

Como já destacámos, no que a Portugal diz respeito, fez-se história no Dakar, já que Paulo Fiúza tornou-se no primeiro português no pódio do Dakar, nos autos, melhorando o registo de Carlos Sousa em 2003, quando foi quarto classificado. Por outro lado, registe-se ainda o contributo de Rúben Faria e Hélder Rodrigues, ex-pilotos que estão inseridos na estrutura da Honda, que fez história nas motos, ao triunfar. É um grande feito para as cores portuguesas, num Dakar perfeitamente ensombrado pela morte de Paulo Gonçalves.

Para Paulo Fiúza, se o feito de Carlos Sousa em 2004 foi grande, com o quarto lugar obtido, o que Paulo Fiúza consegue neste Dakar é fantástico, pois há poucos eventos em que o navegador seja mais importante do que nesta grande maratona. A partir de agora, Fiúza passa a ser, nos autos, o português melhor classificado de sempre no Dakar, nas quatro rodas, claro…

El Matador

Carlos Sainz e Lucas Cruz venceram o seu terceiro Dakar fruto de uma prova quase exemplar, e sempre muito consistente. Chegaram ao primeiro lugar na terceira etapa e já de lá não saíram. Tiveram dias menos bons, como por exemplo na 8ª etapa, em que se perderam, e tiveram alguma sorte por o mesmo ter sucedido a Attiyah e Peterhansel. Venceram quatro etapas, e o triunfo na 10ª foi o momento chave da prova. A 10ª etapa foi interrompida ao km 345, numa altura em que Stéphane Peterhansel (Mini Buggy) perdia 11m48s para Carlos Sainz e Nasser Al-Attiyah (Toyota) 17m46s, o que significava que a classificação geral, no que aos três primeiros diz respeito, ficou bem diferente dos 6m38s que separava os três concorrentes da frente no arranque desse dia.

A partir desse momento, e numa altura em que Attiyah e Peterhansel tudo tinham que fazer para recuperar tempo a Sainz, o espanhol ficou com 18m10s de avanço para Nasser Al-Attiyah (Toyota), com Stéphane Peterhansel (Mini Buggy) 16s mais atrás do catari.

A duas etapas do fim, Carlos Sainz ganhou uma margem significativa, que lhe permitiu gerir os dois últimos dias sem grandes problemas, mesmo com os fortes ataques dos seus adversários.

Tendo em conta este difícil Dakar, é absolutamente notável que aos 57 anos Carlos Sainz ainda tenha tido resiliência para levar de vencida a prova, ainda mais face a adversários do calibre de Nasser Al-Attiyah e Stéphane Peterhansel. Depois de várias provas em que a sorte não esteve do seu lado, com abandonos consecutivos, entre 2013 e 2017, o espanhol venceu a prova de 2018, voltou a ter problemas o ano passado com o Mini Buggy, e regressou este ano mais forte, ele e o Mini, vencendo novamente o evento.

Se os dois títulos mundiais de ralis são um grande feito, as agora três vitórias no Dakar não ficam atrás. Teve, como todos, alguns contratempos, mas soube fugir bem da maioria das armadilhas, venceu com todo o mérito, terminando com 6m21s de avanço para Attiyah, uma das menores diferenças de sempre da história do Dakar.

Yazeed Al-Rajhi (Toyota) termina o Dakar em quarto, naquela que é a sua melhor classificação de sempre na prova, um facto ainda mais saboroso para o saudita que ‘jogou’ em casa. Foi sétimo o ano passado sem antes nunca ter ficado no top 10, o que é notável sendo este apenas o seu sexto Dakar.

Giniel de Villiers (Toyota) termina a prova em quinto, posição a que só chegou nos últimos dias, depois duma prova sem grande brilho, mas suficientemente eficiente para um top 5. Teve problemas logo a abrir, reagiu na segunda etapa com uma vitória, mas foi fogo fátuo. Com oito pódios em 16 edições, este Dakar não fica entre os seus melhores momentos.

Orlando Terranova (Mini) tinha como objetivo, repetir ou melhorar o quinto lugar de 2014, mas ‘ficou-se’ pelo sexto lugar que também conseguiu em 2017. Uma prova com muito altos e baixos, que não lhe correu nada bem na fase decisiva. Depois de ter sido terceiro na etapa 8, a nona correu-lhe mal, perdeu tempo e a partir daí foi cedendo até perder o quinto lugar para de Villiers.

Bernhard Ten Brinke (Toyota) igualou o seu melhor resultado de sempre, o 7º em 2015. Mathieu Serradori (Buggy Century) venceu uma etapa, andou vários dias em sexto, mas atascou e caiu para oitavo, onde terminou.

Yasir Seaidan (Mini) brilhou em casa com o nono lugar. A fechar o top 10 ficou colocado o chinês Wei Han (Buggy Geeley), que andou sempre a rondar o top 10 até se fixar nele.

Entre os pilotos que se esperava mais, destaque para Martin Prokop (Ford), que depois de ter ficado sem ‘mochileiro’ (Martin Kolomy desistiu no shakedown) não pôde arriscar mais e quedou-se pelo 12º lugar.

Na sua estreia no Dakar, Fernando Alonso, que teve Marc Coma ao lado (Toyota), não conseguiu o objetivo de vencer uma etapa (foi 2º na 8ª), e terminou a prova em 13º depois de perder muito tempo logo no segundo dia.

Jakub Przygonski (Mini) teve uma prova muito azarada e terminou apenas em 19º. Vaidotas Sala, o lituano que venceu a 1ª etapa, concluiu a prova em 26º, na frente de Nani Roma, que teve muitos problemas no Borgward.

Tim e Tom Coronel (Maxxis Buggy) foram 28º e asseguraram a sua melhor classificação de sempre no Dakar.

Foi boa a posta da ASO em rumar à Arábia Saudita, pois o traçado foi exigente, como se impõe para esta prova. É pena a falta de público, mas as coisas são como são. Fica um Dakar para esquecer por um lado, para relembrar por outro.

2019: Vitória histórica de Al-Attiyah e da Toyota

A Toyota fez história ao vencer o Dakar pela primeira vez. Para Nasser al Attiyah, este foi o seu terceiro triunfo, numa prova que dominou quase por completo. Nani Roma levou o seu Mini 4X4 ao segundo lugar e SébastienLoeb terminou no pódio. Os buggy Mini da X-Raid não desiludiram, mas também não brilharam…

Primeiro, LeMans, agora o Dakar. Depois de várias desilusões nos últimos anos nas competições em que está envolvida a nível oficial, a Toyota tem vindo a reconciliar-se com a história. Após ter vencido as 24 Horas de LeMans em 2018, pela primeira vez, agora o triunfo no Dakar.

Nunca em 40 edições da prova, os nipónicos tinham visto um carro seu no lugar mais alto do pódio, mas isso terminou agora. É sem dúvida uma vitória histórica, esta conseguida agora por Nasser Al Attiyah e MathieuBaumel. Mas não foi só a primeira da Toyota. Foi também a primeira vez que um carro a gasolina vence o Dakar, na sua era sul-americana, já lá vão 11 anos.

Quanto a Nasser Al-Attiyah, assegura a sua terceira vitória no Dakar. A primeira teve lugar com o VW RaceTouareg, em 2011, a segunda com o Mini All4 Racing em 2015, a terceira, agora, com a Toyota. Três triunfos, com três carros diferentes.

Caiu desta forma o pano sobre esta edição do Dakar, uma prova que encerrava várias questões pertinentes cujas respostas temos agora.

A primeira delas o facto do Dakar deste ano ter sido mais curto, sendo por outro lado, também, dos mais duros de sempre. Quanto ao percurso, uma prova espetacular, paisagens fantásticas, mas… quase só areia. Faltaram outros tipos de paisagem que já se sabia não haver num Dakar realizado só no Peru.

Finalmente Toyota

Há muito que a Toyota lutava pela vitória no Dakar, e o facto da Peugeot se ter retirado deixou aberta uma janela de oportunidade. Suspeitava-se que apesar do DreamTeam da Mini, o buggy da X-Raid ainda não estaria ao nível do Peugeot 3008 DKR, e SébastienLoeb com um estrutura privada deixou isso bem à vista. As diferenças não são tão grandes quanto no ano passado, mas ainda falta alguma coisa ao buggy alemão.

Por isso, não surpreendeu tanto a prova que fez Nasser Al-Attiyah, confirmando o seu favoritismo. Foram várias as vezes que no passado a Toyota Hilux bateu os 3008 DKR, e com a Peugeot de fora, sem etapas em altitude, e mais do que isso, muita areia (mais devido a Attiyah do que ao carro), tudo junto, foram os ingredientes certos para a ‘refeição’ servida pela Toyota.

Quanto aos Mini da X-Raid, o trio de pilotos estava acima de qualquer suspeita, mas ao carro ainda lhe falta algo. Carlos Sainz falou antes da prova em grande evolução, mas faltava a prova dos nove. Apesar de não se terem visto avarias graves, enquanto Al Attiyah rodava calmamente, a sensação que ficou foi que os homens dos Mini tinham que puxar bem mais pelo carro para não andar longe.

Bem mais perto de Attiyah andou SébastienLoeb, a quem lhe bastou um Peugeot 3008 DKR de 2017 com um motor melhorado para andar na frente. Só que teve contratempos mecânicos que fizeram a diferença. Em resumo, andamento não lhe faltou, venceu quatro etapas, faltou-lhe alguma navegação e essencialmente mais fiabilidade no carro.

A prova que Nasser Al-Attiyah foi quase brilhante, só falhou na navegação da etapa 2. De resto, foi primeiro ou segundo em quase todos os dias e essa regularidade fê-lo nunca precisar de arriscar demais.

Excelente tática usou Nani Roma, que sem andamento, apostou na consistência e essa valeu-lhe o melhor resultado desde a sua vitória de 2014.

De SébastienLoeb já falámos. Quarto posto para Jakub ‘Kuba’ Przygonski, o seu melhor resultado na prova. Chegou a estar na rota do pódio, mas problemas com a caixa de velocidades na etapa 6 atrasaram-no. Ainda assim recuperou, e está a mostrar que pode fazer ainda melhor no futuro.

CyrilDesprés terminou em 5º a quase três horas, depois duma prova com pequenos problemas quase todos os dias. Andou mais a ajudar os colegas que outra coisa qualquer.

Martin Prokop foi sexto com a sua Ford Raptor e mostrou que está a evoluir no Dakar, sendo cada vez candidatos a lugares mais à frente. Como privado, fez uma prova fantástica e é delicioso vê-lo andar.

Yazeed Al Rajhi terminou em sétimo, depois duma prova com muitos problemas, a que foi sobrevivendo. Ainda chegou a ser segundo da geral, antes do meio da prova, mas depois afundou-se na classificação. Boris Garafulic e Filipe Palmeiro asseguraram o seu melhor resultado de sempre, o oitavo, com o vencedor de 2009, Giniel De Villiers, a ser apenas nono. Quando bateu numa pedra na etapa 3 e caiu para 40º da geral, passou a fazer guarda de honra de luxo a al Attiyah e também isso contribuiu para o triunfo.

RonanChabot (Toyota) fechou o top 10 numa prova que viu Carlos Sainz, vencedor do ano passado, ser apenas 13º. Tal como de Villiers, o acidente da etapa 3 foi ‘fatal’.

StéphanePeterhansel foi o buggy Mini que andou melhor, apesar de alguns contratempos e erros, foi quem mais luta deu a al Attiyah, mas um ‘queda’ de uma duna lesionou David Castera, no navegador, e a dupla ficou-se pela etapa 8.

Fica por referir a prestação de Robby Gordon, que com um Textron Wildcat XX, uma espécie de SSV mais ‘quitado’, passou por completo ao lado desta prova, não só porque o seu carro foi limitado em termos de velocidade e isso afastou-o dos lugares da frente. O melhor que conseguiu numa etapa foi um 21º lugar… na primeira. Bruno Martins e Rui Ferreira, terminaram a prova a 276h37m13s do vencedor, mas na frente de um espanhol, Alex Aguirregaviria, que terminou a 488h48m34s. Curioso! Venha o próximo Dakar, na América do Sul (difícil), África (possível) ou Arábia Saudita (talvez em 2020)…

2018: Regresso de El Matador

Carlos Sainz e Lucas Cruz venceram o seu segundo Dakar, fruto duma prova em crescendo. Quando chegaram à liderança, não mais a largaram, oferecendo à Peugeot a sua terceira vitória em quatro anos, na despedida, até ver, do Dakar. Depois do azar de Peterhansel, os Toyota completaram o pódio, numa prova desastrada para a Mini.

O Dakar é para gente resiliente, que mesmo ‘derrotada’ vezes a fio, volta ainda com mais vontade, pois só com perseverança se derrota o ‘monstro’. E que Adamastor foi este Dakar, com um Cabo das Tormentas inultrapassável apenas para alguns, e um acima de todos, Carlos Sainz. Depois de vários Dakar em que teve muito pouca sorte, com abandonos consecutivos, poucos acreditavam que Sainz ainda fosse a tempo de vencer novamente, estando claramente, na bolsa de apostas, quase ao nível de Cyril Després. Teve alguns contratempos, como a todos sucedeu, mas ao saber fugir bem da maioria das armadilhas, venceu com todo o mérito, terminando com mais de 40 minutos de avanço face aos homens da Toyota.

Córdoba mostrou-se uma vez mais agradável para Sainz, pois chancelou ali a sua segunda conquista no Dakar, curiosamente o mesmo palco onde em 2004 assegurou o seu último triunfo no WRC, há 14 anos. Depois de ganhar em 2010 e cinco abandonos mais tarde, nova vitória, tornando-se também o mais velho piloto de sempre a vencer o Dakar nos autos.

Teve alguma sorte na etapa maratona, a que Stéphane Peterhansel arrancou uma roda do seu Peugeot, ficando aí na frente do rali, liderança que não mais perdeu, mesmo tendo apanhado dois sustos pelo caminho. Depois, ainda se ‘enervou’ com o caso do piloto do quad, mas ultrapassou o facto com mestria, pois sabia ter a razão pelo seu lado.

Para a Peugeot, nem de perto dominou como no ano passado, por exemplo, o triunfo nas 13 etapas foi dividido entre a Peugeot e a Toyota, mas esse equilíbrio foi mais virtual do que real, pois os homens dos carros japoneses venceram quando menos importava e quando o desenho da prova já estava quase terminado.

Melhor carro

Os responsáveis da Peugeot entraram nesta prova com a dúvida relativamente ao que os novos regulamentos iriam influenciar a competitividade relativa dos carros, mas depressa se percebeu que não era por aí que iam ter problemas, ainda que a diferença se tenha esbatido.

Qualquer um dos seus quatro pilotos, poderia vencer a prova, se bem que o favoritismo inicial pertencia mais a Peterhansel e a Loeb. O nove vezes vencedor do WRC caiu num tipo de buraco em que era impossível sair sozinho, e para cúmulo, Daniel Elena lesionou-se. Quanto a Peterhansel, teve um Dakar estranho, parecendo já um pouco saturado, cometeu erros poucos vistos nele, e foram esses erros que o tramaram, e abriram o caminho a Sainz. Num dia tinha meia hora de avanço, no dia seguinte já tinha uma hora de atraso. É assim o Dakar.

Depois, Peterhansel, estava a mostrar que se iria facilmente desenvencilhar dos Toyota, mas partiu a direção do Peugeot na penúltima etapa, depois dum toque numa árvore, e nem ao pódio foi, sendo este o seu pior Dakar em muito tempo. Quanto a Cyril Després, desde a etapa 4 quando caiu para lá do top 5, passou a ser apenas um mochileiro de luxo. Terminou no 31º lugar.

Toyota mais forte

Ficou claro para todos que os Toyota estiveram neste Dakar mais perto do andamento dos Peugeot, mas aqui a diferença fez-se na qualidade dos pilotos e neste momento só Nasser Al-Attiyah tem capacidade e andamento para se opor aos homens da Peugeot. Teve alguns azares, dois furos, quebra das suspensão da Hilux, que o deixaram algo atrasado e depois já não conseguiu recuperar, especialmente face a Sainz. Tentou sempre, nunca deixou de tentar manter a pressão, mas não chegou, terminando no segundo lugar.

O seus dois colegas de equipa estiveram bem, mas a um nível mais baixo. Em determinada altura, os três Toyota lutaram pelo pódio, ficando claro que em termos de andamento puro as Toyota deram um bom pulo. Veja-se por onde andaram os Mini, para o perceber melhor. No top 10, ficaram cinco Hilux e isso diz muito da resistência do carro.

Giniel de Villiers terminou no pódio, mas já não mostra a mesma garra que lhe permitiu vencer o Dakar em 2009. É um piloto ‘certinho’, comete poucos erros, é bom piloto de equipa, mas já não brilha como antes. Bem melhor esteve o holandês Berhard ten Brinke, que não chegou ao fim, e bem merecia, pois fez uma bela prova, mostrando que é uma boa aposta da Toyota. Andou na luta com os seus colegas de equipa, e se não teve andamento para Attiyah, podia perfeitamente ter batido de Villiers. Sem a Peugeot no Dakar para o ano, se não aparecer outro projeto forte, a Toyota será super-favorita, pois não temos sequer ideia de como a Mini vai dar a volta ao texto relativamente ao que lhe sucedeu neste Dakar.

Mini ultrapassado

Ficou claro que, mesmo evoluído, o Mini parece estar ultrapassado (ou então são os pilotos que estão longe), e o novo projeto buggy Mini da X-Raid está ainda muito verde para o que quer que seja. O carro irá testar e rodar muito em 2018, e por isso tudo poderá ser bem diferente para o ano que vem. Este Dakar, para a Mini, se não foi um desastre, não andou lá longe.

O único mino no top 10 foi o discreto Jakub Przygonski, que terminou em quinto. O polaco limitou-se a andar o que podia, mas não conseguiu melhor do que ficar a quase três horas do vencedor. Os carros alemães andaram sempre arredados dos lugares da frente. O segundo Mini foi o de Boris Garafulic e do português Filipe Palmeiro, na 13ª posição a quase 13 horas do vencedor.

Mikko Hirvonen e Orlando Terranova fecharam o top 20, a não passaram do 19º e 20º lugares, mais um pouco, quase a um dia do vencedor. Foi demais. Não foi só azar, longe disso. Uma equipa que vence todos os Dakar entre 2012 e 2015 e agora nem pelo pódio luta? Mau demais.

Daqui para a frente, ficaram os concorrentes privados, com Khalid Al Qassimi à cabeça, com um Peugeot 3008 DKR do ano passado. Terminou em sexto, três horas na frente de Martin Prokop, que teve um Dakar cheio de aventuras e problemas, mas sempre com o top 10 à vista, algo que ficou claro desde muito cedo. Daqui até ao 12º lugar, cinco Toyota Hilux, um carro que é hoje em dia o mais seguro para um privado fazer o Dakar.

E assim caiu o pano sobre, senão o mais duro, um dos mais, mesmo contanto com os primeiros anos em África. As dificuldades que Marca coma e a ASO colocaram aos concorrentes fizeram deste um Dakar que em nada deveu aos africanos, que valha a verdade, também tiveram anos de nos fazer adormecer. Neste Dakar, isso foi impossível, vejam lá que até apareceu um holandês ‘alucinado’ a dizer que passou por ele um Peugeot a voar…

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