ENSAIO: Audi Q7 3.0 V6 TDI quattro tiptronic

Por a 24 Janeiro 2016 16:00

No universo dos SUV de grande porte, não raro o parecer é tão ou mais importante do que o ser para parte significativa dos seus compradores. E, nesse particular, pode considerar-se que o Q7 da nova geração terá perdido algo face ao seu antecessor – menos volumoso e imponente, exibe uma aparência porventura mais ligeira e dinâmica, mas não é particularmente gracioso ou por demais apelativo, e o que perdeu pose e personalidade fê-lo em detrimento de um estilo bem mais anónimo e sem grandes traços de originalidade, tipicamente Audi. Iniciar a análise de um novo modelo por um aspeto tão subjetivo e discutível, para mais não propriamente elogioso no caso em apreço, pode não parecer a forma mais “simpática” de abordar o tema, mas justificase também porque a estética exterior poderá considerar-se como a única característica menos conseguida da nova geração do SUV de maiores dimensões da casa de Ingolstadt. É como o que único grande defeito, pois para quase tudo o resto tendem a sobrar os elogios. Ainda no capítulo estilístico, vale a pena salientar que o ar mais “leve” do novo Q7 não se deve a uma mera técnica de design, antes espelha a sua nova

postura e renovados atributos tecnológicos.

Por exemplo, por ter por base a nova plataforma MLB, que recorre em abundância a materiais como o aço de alta resistência e o alumínio, o peso do conjunto desceu consideravelmente, sendo que, na versão 3.0 V6 TDI quattro tiptronic em concreto, aqui analisada, o ganho foi superior a 300 kg! Mais: todas as dimensões da carroçaria

são mais contidas do que no modelo anterior, mas, apesar disso, todas a cotas de habitabilidade interior são mais generosas. Aliás, passando ao interior, é de imediato percetível a vastidão do espaço disponível, seja à frente, na segunda fila de bancos, ou até na terceira, caso se opte pela instalação deste extra (€1665,00), como acontecia como o nosso Q7 3.0 V6 TDI quattro tiptronic. Quando assim é, vale a pena sublinhar que, mesmo com os bancos da segunda fila chegados o máximo à frente, o espaço aí disponível é mais do que suficiente para satisfazer a maioria das exigências, permitindo, deste modo, que na terceira fila de bancos viagem, confortavelmente, passageiros adultos de estatura média, ou mesmo um pouco superior. Para mais, não só a operação dos bancos da terceira fila é totalmente automática, como os bancos exteriores da segunda avançam e rebatem para garantir um fácil acesso aos lugares traseiros.

Espaço é o que também não falta no compartimento destinado às bagagens. Na configuração de cinco lugares, a capacidade da bagageira já é de uns significativos 700 litros, mas pode ser ampliada até um máximo de 1995 litros mediante o rebatimento dos bancos. Quem optar pelo pacote desportivo S line (€6180,00), por sinal também incluído na unidade aqui avaliada, e de que faz parte a suspensão com amortecimento pneumático, terá as operações de carga e descarga (e de entrada e saída do habitáculo) facilitadas por via do modo da suspensão específico para o efeito, que, ao toque num botão, baixa ao máximo a carroçaria e, naturalmente, só pode ser ativado com o veículo imobilizado. Mais difícil de entender é o fato de um modelo completamente novo, para mais deste calibre, não ter um local próprio para acomodar a chapeleira quando se pretende fazer uso dos sete lugares, ou da plena capacidade da mala… Ainda antes de passar à ação, um olhar final pelo interior, também ele concebido a partir do zero para o novo Q7. Posição de condução um pouco alta, como é da praxe neste género de proposta, mas muito boa, em boa parte graças à perfeita colocação dos pedais, volante e principais comandos e instrumentos, e às múltiplas e amplas regulações dos bancos e coluna de direção. O painel de instrumentos integralmente digital, o já célebre virtual cockpit, continua a ser um must; o touchpad para controlo de parte significativa das funções do sistema de infoentretenimento é do melhor que se faz na indústria neste particular; e o estilo e a qualidade interiores fazem pleno jus aos pergaminhos da Audi neste domínio, merecendo especial menção os materiais e acabamentos utilizados, mesmo nas áreas mais recônditas do habitáculo.

Esta qualidade de vida a bordo é reforçada também pelo motor V6 turbodiesel de 3,0 litros. Pressionado o botão de arranque, mal se dá pela sua entrada em funcionamento, fruto tanto de um trabalhar suave como de uma excelente insonorização. Em cidade, ou em percursos com maiores variações de velocidade, o generoso binário de 600 Nm logo às 1500 rpm garante uma condução fácil e muito agradável, com a caixa automática de oito velocidades (com patilhas no volante, para comando manual em sequência) a colaborar na medida certa, oferecendo um funcionamento rápido e suave, apenas criticável por evidenciar alguma brusquidão nos arranques.

MODUS VIVENDI

Em estrada aberta, os 272 cvdisponibilizados por este motor também dão muito boa conta de si, garantindo uma progressão fácil e muito célere que o velocímetro confirma, seja em aceleração como nas recuperações. Relativamente a consumos, são bastante contidos atendendo ao rendimento do motor e a um peso superior às duas toneladas, e a prova está na média um pouco superior a 9,0 l/100 km por nós obtida em condições absolutamente reais de utilização. Um valor que pode diminuir ou aumentar (neste caso, significativamente) em função do cuidado ou do dinamismo postos na condução. Por via da capacidade do Q7 para enfrentar outros pisos que não o asfalto, o Audi Drive Select conta aqui com mais modos do que o habitual, típicos de um veículo com tais aptidões: aos tradicionais Efficiency, Comfort, Auto, Dynamic e Individual juntam-se os Lift/Offroad e o Allroad. Selecionado o modo Comfort, a suspensão pneumática demonstra uma notável capacidade para absorver quase com desprezo tudo o que é desnível, ressalto e irregularidade, o que garante um soberbo conforto a bordo, bem como uma condução fácil em cidade, sobretudo quando há que percorrer aquelas artérias com o piso tão mal tratado. A agilidade é outro ponto a reter, principalmente quando se opta pelo eixo traseiro autodirecional (€1370,00), que reduz ainda mais o diâmetro de viragem. Quando se opta por ritmos mais empenhados, com outros níveis de exigência em curva, é recomendado eleger o modo Dynamic, capaz de reduzir significativamente o rolamento (a suspensão não só altera a firmeza do amortecimento, como pode fazer variar a altura ao solo entre menos 30 mm e mais 60 mm do que a posição “normal”, consoante as exigências e necessidades do momento).

Ainda assim, as importantes transferências de massa e a elevada altura da carroçaria, e não obstante o centro de gravidade ter baixado face ao modelo da geração anterior, fazem com que o adornar da carroçaria pareça sempre superior aquilo que é na realidade, o que exige alguma habituação quando se pretende explorar ao máximo o potencial do Q7. Uma situação que é especialmente evidente nas entradas em curva mais impetuosas, e em que também é notório que o deixo dianteiro não é o mais rápido e incisivo (ou, pelo menos, não o é tanto como o do BMW X5, um dos principais rivais do Audi Q7). Insistindo na trajetória, e no ritmo imposto, a tendência para a subviragem passa a ser compensada pelo sistema de tração integral quattro, através do aumento do binário enviado para o eixo posterior, acabando por tornar a atitude do Q7 em curva bastante honesta, neutra e previsível, o que torna a condução bastante fácil e agradável. Aliás, desligando-se por completo o ESP, é até possível desfrutar de alguma deriva da traseira quando a isso instada.

Face ao seu substantivo leque de atributos técnicos, com destaque para o rendimento do motor, para a tração total e para suspensão com altura variável (podendo atingir um máximo 235 mm), seria legítimo prever que o novo Q7, mesmo não dispondo de redutoras, tivesse natural predisposição para se aventurar por caminhos alternativos aos de asfalto. Uma perceção que faz todo o sentido, mas que a prática só confirmará se se optar por uns pneus com alguma aptidão para o fora de estrada, que não os Pirelli Scorpion Verde que o Q7 V6 3.0 TDI quattro tiptronic montava de série. Ainda assim, as ligeiras incursões por pisos de terra deixaram antever a relativa facilidade com que o modelo evoluirá perante dificuldades de outro nível, assim como é aqui que a diversão pode aumentar exponencialmente, graças à facilidade com que é possível adotar uma atitude mais sobreviradora. Exceção feita a este pecadilho, facilmente resolúvel com outra escolha de borrachas, pouco mais há a apontar ao novo Audi Q7 V6 3.0 TDI quattro tiptronic, sem dúvida um dos mais evoluídos e eficientes representantes do seu segmento. O preço de €88 190 está em linha com o praticado pela concorrência, e se a lista de opções permite facilmente inflacionar de modo significativo esta verba, também há que reconhecer que parte importante dos elementos que a compõem são soluções tecnológicas de vanguarda e inequívoca utilidade (e, mais uma vez, a unidade testada, dotada de €43 135 em opcionais, serve de prova disso mesmo).

Texto: António de Sousa Pereira

Audi Q7 3.0 V6

Preço: €88 630

Motor: 6 cil. em V a 90°, inj. Direta commonrail, turbo+intercooler, Diesel, 2967 cm3

Potência: 272 cv/3250 rpm

Binário: 600 N.m/1500 rpm

Transmissão: integral perm., cx. Auto 8 veloc.

Suspensão: Independente com braços sobrepostos à frente e amortecimento pneumático; Independente multibraços atrás com amortecimento pneumático

Travagem: DV/D

Peso: 2060 kg

Mala: 770 -1995 litros

Depósito: 75 litros

Velocidade máxima: 234 km/h

Aceleração 0-100 km/h: 6,5s

Consumo médio: 5,9 l/100 km

Consumo médio AutoSport: 8,92l/100 km

Emissões de CO2 153 g/km

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