Malcolm Wilson: “o líder mais resiliente da história dos Ralis”
A M-Sport, sob a liderança inabalável de Malcolm Wilson, é uma verdadeira lenda viva no Campeonato Mundial de Ralis. Desde 1997, a equipa tem sido o braço forte da Ford no cenário mundial, superando as muitas adversidades com uma resiliência que só os verdadeiros guerreiros do desporto possuem. Ao longo dos anos, mesmo enfrentando períodos de interrupção e desafios implacáveis, Wilson e a sua dedicada equipa de “muchachos” têm conseguido navegar por águas agitadas e levar o barco a porto seguro.
No entanto, o caminho nunca foi fácil. As pedras no percurso surgem com frequência, como se viu recentemente com a decisão de Adrien Fourmaux de partir rumo à Hyundai. A razão? A falta de garantias de que a Ford/M-Sport pudesse oferecer um carro e uma equipa à altura das gigantes Toyota e Hyundai, que nadam em mares de abundância financeira. Enquanto estas duas marcas contam com cofres recheados, a M-Sport opera com uma criatividade e eficiência quase milagrosas na sua base em Dovenby Hall.
Malcolm Wilson, porém, é o coração pulsante dessa história de luta. Com uma capacidade ímpar de extrair o máximo dos recursos disponíveis, ele transformou a M-Sport numa equipa que, apesar das limitações, se recusa a desistir ou a ceder terreno. O mérito de Wilson é imensurável: ele não só manteve viva a presença da Ford no WRC como também trouxe momentos de glória que muitos achavam impossíveis.
É impossível não lamentar que a Ford, com todo o seu legado, não consiga dar um passo adiante e fornecer à M-Sport os meios necessários para competir em igualdade de condições com as grandes potências. Ainda assim, a M-Sport permanece como um símbolo de determinação, paixão e resistência, com Malcolm Wilson como o herói silencioso que transforma dificuldades em combustível para sonhos.
Caminho mais ‘sério’ começou em 1997
Recorde-se que a M-Sport foi selecionada pela Ford em 1997 para revitalizar o programa da marca no WRC. Desde então, a equipa tem sido responsável por desenvolver e operar os carros de rali da Ford, começando com o Ford Escort World Rally Car de 1997.
A equipa viveu depois uma época de ouro no meio dos anos 2000, conquistou títulos consecutivos de construtores em 2006 e 2007 com o Ford Focus RS World Rally Car. Contou com pilotos campeões mundiais como Colin McRae, Carlos Sainz e Marcus Grönholm, que trouxeram numerosas vitórias, mas em 2012, a Ford retirou-se oficialmente do WRC, embora tenha continuado a fornecer apoio técnico à M-Sport, tal como sucede até hoje.
Apesar deste revés, a M-Sport manteve-se competitiva, desenvolvendo e operando carros da Ford no campeonato, e também desenvolvendo talentos.
A M-Sport gere o Junior WRC, uma competição de formato “arrive-and-drive” que utiliza Ford Fiesta Rally3, continua a identificar e nutrir jovens talentos, oferecendo-lhes oportunidades para progredir até ao nível máximo amador, que é o WRC2. Mas nos últimos anos, a M-Sport tem enfrentado novos desafios e já vai longe os grandes tempos de 2017 e 2018, quando a ida de Sébastien Ogier para a equipa, ajudou a que esta tivesse dinheiro suficiente para lutar pelos títulos: Resultado? Dois títulos de Pilotos para Ogier e um de Construtores.
Agora, vêm aí novas regras, menos custos, talvez seja suficiente para a M-Sport voltar às lutas, mas nã é certo que assim seja..
Entretanto, recordamos a longa carreira de Malcolm Wilson, que logicamente começou como piloto, teve mais momentos baixos do que altos, conhecida que era a sua propensão para… passar dos limites. A sua estreia aconteceu em 1973, com as primeiras vitórias a surgirem em ralis locais, então já com um Ford Escort privado – um carro que já explorava como poucos.
Tal como sucedeu com Jean-Pierre Nicolas (Peugeot) ou Guy Frequelin (Citroën), também Malcolm Wilson começou a sua carreira atrás do volante, embora no caso do britânico sem o sucesso dos seus agora rivais franceses – que chegaram a vencer provas no “Mundial” na década de 70 e 80.
A razão talvez esteja precisamente na visão empresarial que Malcolm Wilson sempre teve da disciplina, fundando a sua primeira empresa, a “Malcolm Wilson Motorsport”, apenas cinco anos depois da sua estreia como piloto, em 1973. Talvez por isso, na hora de pendurar o capacete, a transição para o mundo empresarial foi relativamente fácil. Mas Malcolm Wilson tinha como objetivo vencer o Mundial de Ralis, o problema é que nos primeiros anos dos world Rally Cars, a Mitsubishi dominou com Tommi Makinen, depois o domínio andou entre a Subaru, Peugeot e Toyota, até que a partir de 2004 entrou na liça um senhor chamado Sébastien Loeb que levou a Citroën aos píncaros, mas finalmente em 2006 e 2007 chegaram os títulos de Construtores, embora o de pilotos só tenha surgido em 2017 e 2018 com Sébastien Ogier. Mas chegaram. E mais conseguiria Malcolm Wilson se tivesse condições para isso.
Ford e Wilson junto há muito
A ligação entre Malcolm Wilson e a Ford remonta quase à infância deste britânico, nascido e crescido em Cumbrian, de onde aliás teimou em nunca sair, mesmo quando recebeu um convite de Martin Withaker para tomar conta dos destinos da Ford no “Mundial” de Ralis… mas em Essex. De início, Malcolm Wilson até considerou essa hipótese. “Mas numa noite acordei e pensei para comigo: nem pensar! Não conseguiria fazer o meu trabalho se tivesse de sair de Cumbria. Na manhã seguinte telefonei ao Martin Withaker e disse-lhe que o sonho tinha mesmo acabado. Ou ficava em Cumbria ou nada feito.”
Só que tudo mudou num célebre Rali dos 1000 Lagos, em 1996, quando o então piloto privado da Ford, Jarmo Kytolehto, que na altura recorria aos serviços de Malcolm Wilson, bateu os oficiais Carlos Sainz e Bruno Thiry. “No dia seguinte, recebi outro telefonema e as negociações recomeçaram”. E pouco tempo depois, o mesmo miúdo que aos oito anos já conduzia um Ford Anglia, no terreno que ficava à frente da casa dos pais, dava início a uma profícua ligação com a Ford.
O pontapé de saída foi dado oficialmente no “Monte Carlo” de 1997. E desde aí, muita coisa mudou na rebaptizada M-Sport, com sede em… Cumbria.
A lei do progresso
De facto, os ralis passaram a ter outro tipo de exigências, com a tecnologia a substituir cada vez mais a mão-de-obra nos ralis. “Lembro-me que no nosso primeiro ‘Monte Carlo’, em 1997, tínhamos cerca de 100 pessoas envolvidas na nossa estrutura, sendo que apenas dois eram engenheiros. Agora, apenas deslocámos 40 a 50 para uma prova, sendo que dessas, dez são engenheiros. As restantes pessoas ficam a trabalhar em ‘casa’, por detrás do palco.
A tecnologia deu efetivamente um salto incrível e os métodos de trabalho tiveram se adaptar a esta realidade, nomeadamente quando começaram a surgir no terreno os primeiros World Rally Car.
Hoje em dia a maioria do nosso trabalho é diante de um computador. Parece contraditório, mas na verdade poupa-se muito mais do que a testar no terreno.
Os anos passam a M-Sport continua ligada à Ford, mas é uma pena que não possa lutar de igual para igual com a Hyundai e Toyota. Vamos ver se as novas regras equilibram melhor as coisas, porque é frustrante para Malcolm Wilson lutar com armas desiguais.
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Infelizmente a Ford mete dinheiro noutras disciplinas mas o WRC é o parente pobre e é pena porque com um apoio mais robusto que permitisse contratar um piloto de topo, poderiam lutar de igual para igual com a Toyota e Hyundai. A M-Sport/Ford tem a primeira vitória da era Rally1, logo o carro foi bem nascido
Concordo em relação ao Malcolm Wilson (conheci-o nos anos 80……) mas sou daqueles que acha que a Ford devia ter ficado em Boreham – Essex: Não sei se teria feito diferença na Ford, mas os Escort’s MkI & MkII foram lá desenvolvidos (um tio meu era o electricista chefe que incrivelmente só vim a saber mais tarde 🙁 ) e até instalou-se lá agora uma empresa com o “aval” da Ford a fabricar, por enquanto, apenas uma versão nova do MkI e RS200… Posso já ser “antiquado”, mas acho que uma das coisas que falta é esse “misticismo”, digamos.
Nos anos ’70 e ’80, um dos maiores problemas vividos em Boreham eram as várias greves que afectavam o desenvolvimento dos carros de competição. Os Escort MK II e o RS1700T foram vítimas desses acontecimentos que contribuiram mais do que uma vez para que a Ford não pudesse comparecer na máxima força em alguns ralis e, com isso, ficar arredada de discutir alguns campeonatos do Mundo o que só veio a acontecer em 1979, até porque a FIAT – principal adversária da marca da oval – resolveu fazer uma ligeira pausa e faltar a algumas provas do Mundial, pelo que… Ler mais »
Já me tinha esquecido das greves… mas obrigado por nos recordar do resto! Por acaso passei na altura p’las oficinas do David Sutton (Cars) em Londres… e passei também por Boreham, mas já depois de ter encerrado! O Sutton faleceu como sabemos (DEP) mas a empresa existe em Yorkshire…
Malkom por tudo o que tem dado ao mundo dos ralis merecia mais apoio da Ford. Creio não estar enganado mas foi ele que deu oportunidade a maioria dos actuais pilotos, alguns campeões do mundo muitos nunca lhe retribuíram o que fizeram por eles
Pois!
Quanto ao Sr. Malcolm Wilson só lhe posso dizer uma coisa; Chapeau ! 👏👏👏