WRC: Volta… Córsega!
É uma pena que seja hoje em dia o dinheiro, quase só a principal razão pela qual temos, ou não, um qualquer evento no Mundial de Ralis. É verdade que o Rali de Monte Carlo se realiza quase todo em França, e por isso não se pode dizer que o País está completamente ausente do WRC, mas o Rali de França sempre foi uma das mais tradicionais provas do WRC, mas somente quando se realizava na Córsega. O Tour de Corse…
Foi uma grande mudança quando a federação francesa decidiu que a tradicional Volta a Córsega deixaria de representar o país no Campeonato do Mundo. As dificuldades financeiras vividas na ilha, na altura, foram apontadas como razão para a mudança, quando a federação levou ‘a concurso’ a oportunidade de outras regiões de França passarem a organizar a prova. Quatro candidaturas foram apresentadas, mas a da Alsácia acabou por ser a escolhida e, durante alguns anos, substituiu a Córsega, que regressou em 2014, mas ‘desapareceu’ em 2019 e com ela o Rali de França.
Durante muito tempo, a mudança e a saída da Córsega chegou a estar algumas vezes em cima da mesa, devido ao peso que Jean-Marie Balestre tinha na qualidade de presidente duplo (da FIA e da federação francesa). Balestre era mestre na arte de negociar e em subverter a pressão das negociações para o lado que mais lhe conviesse e, ao que tudo indica, com o Rali de França chegou a fazê-lo diversas vezes.
De qualquer modo, esta alteração não tão teve um desfecho fatal para a ilha da Córsega que continuou a organizar ralis importantes e cheios de mística.
O Rali da Córsega, também conhecido como Rali dos 10.000 Curvas devido ao seu traçado sinuoso, sempre foi um dos eventos mais icónicos e desafiadores do Mundial de Ralis. Realizado na ilha francesa da Córsega, no Mar Mediterrâneo, este rali foi parte integrante do calendário do WRC desde a sua inauguração em 1973.
Ganhou notoriedade durante a era do Grupo B nos anos 1980, considerada por muitos como a época de ouro dos ralis, mas infelizmente, a prova também ficou marcada por trágicos acidentes em 1985 e 1986,com as mortes de Atillio Bettega e Henri Toivonen e Sergio Cresto, o que contribuiu para o fim da era do Grupo B.
Disputado inteiramente em asfalto, o que o diferenciava de muitos outros ralis do campeonato, tinha um desafio técnico inigualável. As estradas estreitas e sinuosas exigiam habilidade excecional dos pilotos e uma configuração específica dos carros. Vencer o Rali da Córsega era considerado uma grande conquista devido à sua dificuldade e história, ao longo dos anos, o Rali da Córsega foi palco de duelos memoráveis entre os maiores nomes do desporto, contribuindo significativamente para a rica história do WRC.
Infelizmente, sempre foi também um evento muito conhecido pelos seus acidentes graves. O mais conhecido é a morte de Henri Toivonen e Sergio Cresto em 1986 num Lancia Delta S4 do Grupo B, mas um ano antes Attilio Bettega morreu ao volante de um Lancia 037. Tommi Makinen teve dois acidentes graves, em 1997, embateu numa vaca a alta velocidade e caiu num desfiladeiro. Em 2001, bateu forte numa escarpa com o seu Mitsubishi Lancer WRC, ferindo gravemente o copiloto Mannisenmaki.
Colin McRae também teve dois acidentes que resultaram em ferimentos, mas apenas o de 2000 foi grave, uma vez que ficou preso no carro capotado durante um significativo período de tempo.
Há vontade, e tem-se visto com a chegada ao WRC de provas como a Croácia ou o Rali da Europa Central, as Canárias vai entrar, fala-se também do regresso da Irlanda, portanto há vontade de trazer provas de asfalto para o WRC e diminuir as de terra, mas do ponto de vista de técnico, beleza, dificuldade, exigência, é difícil pensar noutro em asfalto com o mesmo conjunto de desafios, como o Rali da Córsega.
O Tour de Corse era originalmente, uma volta a toda a ilha e o percurso era um dos mais longos fora das provas de resistência africanas. A quilometragem da prova foi reduzida, mas não o desafio. É, a seguir à Finlândia, Monte Carlo, Suécia, Portugal e Acrópole, a par da Grã-Bretanha e Sanremo, um evento que o WRC não deveria dispensar. Sabemos que os tempos mudaram, haver novas provas não é mau para a competição, porque sem haver provas novas o WRC estagnaria, mas no equilíbrio entre a tradição e a novidade, o Rali da Córsega não devia estar há tanto tempo ausente do WRC…