Baja Portalegre 500: do Clube Aventura à passagem para o ACP em 2006

Por a 18 Outubro 2024 11:13

José Megre era um bom falador, um excelente contador de história e ainda mais um ‘enorme’ viajante.

Foi dele a ideia do ‘nascimento’ do ‘Portalegre’ numa origem que remonta a bem antes de 1987, resultado de um conjunto de circunstâncias que se alinharam ao longo do tempo.

Um dos principais fatores foi o sucesso que a Baja de Aragon, em Espanha, já alcançava.

Após participar no seu terceiro e quarto Dakar, José Megre teve a ideia de criar o Clube Aventura e lançar uma competição inspirada na Baja Aragon.

Além disso, houve ainda a influência de César Torres, que revelou que o então secretário de Estado dos Desportos, doutor Miranda Calha, tinha um forte desejo de organizar um rali em Portalegre.

O primeiro encontro com todos os presidentes de Câmara do distrito de Portalegre aconteceu entre o final de 1983 e o início de 1984, momento em que a iniciativa começou a ganhar forma. No entanto, as condições necessárias para organizar a prova só foram reunidas em 1987, quando o Clube Aventura já havia realizado duas edições da Transportugal.

As primeiras edições foram em abril e a terceira em novembro, e em todas elas houve chuvadas monumentais: “nomeadamente na primeira, em que andei a desatascar concorrentes às 3 e 4 da manhã, chegando mesmo à queima à distribuição de prémios” revelou José Megre quando nos contou a história do ‘Portalegre’.

“o maior dilúvio aconteceu na terceira edição, de tal forma que chegaram ao fim pouco mais de dez carros e cerca de 15 a 20 motos. Daí para a frente, tentamos evitar as zonas mais críticas e nunca mais se repetiram estas condições…até que em 1997, praticamente a dois dias do arranque, fomos uma vez mais surpreendidos pelas condições climatéricas que nos obrigaram a cortar praticamente metade do percurso de prova. Uma verdadeira hecatombe.”

“Seja como for, não há dúvida que evoluiu muito a nossa experiência neste tipo de provas e com os anos passamos a ter uma organização e um orçamento que não tivemos nas primeiras edições.

Julgo aliás, que existiram dois grandes momentos de viragem em Portalegre: os primeiros três anos foram de sucesso estrondoso, porque duplicamos sempre o número de inscritos de ano para ano e, em 1990, na quarta edição, e mesmo nas três seguintes, tivemos cerca de 700 inscritos: 250 automóveis e mais de 450 motos.”

“Depois houve um abaixamento, mas nunca ficamos aquém dos 100 a 150 automóveis e das 250 a 300 motos, só mais tarde. Mas o outro grande salto dá-se em 1997, quando aparece a SIC e em que tudo subiu de tom. Passamos a ter outra infraestrutura e outro orçamento e melhoramos muito em qualidade e no profissionalismo da nossa organização.”

“Ao ponto de mesmo em 99 e 2000, quando não fizemos parte do Campeonato Nacional, o número de inscritos em Portalegre ser quase cinco vezes superior às médias das restantes provas do calendário. Como outros pontos, ressalvo que desde a segunda edição tivemos entre nós os melhores motards do mundo, casos do Serge Bacou, Thierry Charbonnier, Gilles Lalay, Stéphane Peterhansel, David Castera, Cyril Esquirol, Richard Sainct, Alain Perez ou Thierry Magnaldi. Por um lado, foi uma vitória pessoal

ter na minha prova os melhores especialistas do Dakar mas, por outro, também foi uma derrota, já que só muito mais tarde, em 1996, é que um estrangeiro consegue vencer a prova, e isto sem que alguma vez a Comunicação Social lhe tenha dado a atenção que mereciam. Já a prova dos automóveis só mais recentemente, em 2004, é que passou a ter um cunho internacional, particularmente com a presença do Colin McRae, que ganhou logo no seu ano de estreia, e no ano seguinte, em 2005, quando tivemos a presença das equipas oficiais da Mitsubishi e Volkswagen. Infelizmente, nestes 20 anos tivemos também alguns pontos baixos, com a morte de um motard, após chocar contra uma árvore, e também de dois elementos da Organização envolvidos num acidente de comboio cujas circunstâncias nunca consegui compreender. Gostava de terminar com esta última fase, iniciada em 2006, que corresponde à cedência das nossas três corridas ao ACP. Tenho a perfeita convicção que assegura um futuro bem mais certo e sólido não só para as provas como para quem nelas trabalha. Foi aliás essa a razão principal desta decisão.”

E tinha toda a razão, 18 anos depois o ACP continua a colocar bem alto a fasquia do ‘Portalegre’, que continua a ser um dos eventos motorizados mais importantes do ano em Portugal.

História ‘telegráfica’ até 2006, começo da ‘era’ ACP

1987 – Realizou-se a primeira edição da prova sob o nome de Rali Maratona de Portalegre – Finicisa. Com base na cidade de Portalegre, a prova decorreu num circuito de 400 km, percorrido por duas vezes e sem quaisquer interrupções. Cerca 100 carros e outras tantas motos estiveram à partida desta primeira edição, marcada por fortes chuvadas. António Bayona e José Costa, num Mitsubishi Pajero, inauguraram a lista de vencedores nos automóveis, enquanto nas motos (aberta à participação de dois

pilotos) o triunfo foi para a Aprilia RX 250 de Paulo Marques e Marques Carvalho

1988 – Nesta segunda edição, o percurso teve dois voltas sem interrupções a um circuito com 400 km. Nos automóveis, os UMM Alter Turbo fizeram o pleno no pódio, de resto, tal como no ano seguinte, enquanto António Lopes assinava o seu primeiro de quatro triunfos nas duas rodas.

1989 – Sob o nome 500 km Cerveja Sagres Portalegre, a prova foi disputada numa única volta, num percurso de 500 km de extensão. Apenas dez por cento dos concorrentes atingem o final.

1990 – É nesta quarta edição que se atingem os máximos de 250 carros e 450 motos à partida. Nas duas rodas, a participação passa a ser só para um piloto. Duarte Guedes é coroado vencedor num Nissan Terrano V6.

1993 – Tomaz Mello Breyner torna-se no primeiro piloto a bisar nos automóveis, repetindo o triunfo da anterior edição.

1994 – João Vassalo oferece à Mitsubishi o seu primeiro triunfo em Portalegre, após bater a Nissan de Francisco Esperto.

1996 – Apesar de ser uma prova internacional para as motos desde o primeiro ano, só nesta edição acontece a primeira vitória de um piloto estrangeiro, por intermédio de Richard Sainct. Logo no ano seguinte, o compatriota Alain Perez repete o feito.

1997 – A prova passa a ter a designação de Baja Galp 500 Portalegre, numa edição em que só se disputaram 182 km, fruto das más condições atmosféricas que se fizeram sentir.

1998 – Filipe Campos vence pela primeira vez em Portalegre e sagra-se Campeão Nacional Absoluto com a estreante equipa oficial da Toyota.

1999 – A Adega Cooperativa do Redondo passa a ser o patrocinador principal da prova, que passa a designar-se Baja Porta da Ravessa/ 500 Portalegre. O Clube Aventura abandona o esquema tradicional de prova em linha, passando a prova a dividir-se em dois Sectores Selectivos com uma neutralização pelo meio;

2000/01 – Neste dois anos, a prova não pontua para o Campeonato Nacional (Autos). Em 2001, é introduzido o sistema de 3 sectores selectivos, sendo o primeiro disputado após a realização do Prólogo. Nesse ano, o Clube Aventura candidata a sua prova à

Taça FIA de Bajas. 2002 – Já integrada na Taça FIA de Bajas, Portalegre regressa ao Campeonato Nacional mas com o estatuto de prova “Joker”, numa das edições mais participadas desde o seu início: 150 automóveis, 150 motos e 60 quads.

2003 – A 17ª Baja Anta da Serra 500 Portalegre continua com um esquema de 3 Sectores Selectivos, adoptando o último a designação de “Epílogo”. Decisiva para a atribuição do título absoluto, a prova alentejana revela-se dramática para Rui Sousa, a quem

bastava pontuar para se sagrar Campeão Nacional. Obrigado a vencer, Miguel Barbosa não desperdiça a oportunidade, num final tão emocionante quanto inesperado.

2004 – A presença de Colin Mcrae, numa Pick Up inscrita pela equipa oficial da Nissan, trouxe a Portalegre mais de 250 mil espectadores, segundo dados da Guarda Nacional Republicana. Apesar da excelente réplica oferecida por Carlos

Sousa, o Campeão do Mundo de Ralis em 1995 vence na estreia. Nas motos, primeira de três vitórias consecutivas para Mário Patrão.

2005 – Ano de ouro em Portalegre, com a presença das equipas oficiais da VW (Carlos Sainz, Bruno Saby, Jutta Kleinschmidt e Mark Miller) e da Mitsubishi (Hiroshi Masuoka e Luc Alphand). Disputada sobre péssimas condições meteorológicas, a vitória acaba por ir parar às mãos de Alphand.

2006 – Alinharam à partida 114 autos, 127 motos e 84 quads. Primeira vitória para um espanhol e terceira consecutiva para um piloto estrangeiro, depois do catalão Marc Blazquez aproveitar um furo de Miguel Barbosa para assumir a liderança

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