F1: Mais que o talento… força mental

Por a 9 Outubro 2024 13:12

A força mental é um atributo fundamental para o sucesso em qualquer área, especialmente no desporto de alta competição. Na F1 é então ainda mais flagrante essa importância. Saúda-se a mudança de atitude, com os pilotos a perderem a vergonha de falarem dos seus pontos fracos e das suas limitações, servindo de exemplo.

Numa entrevista há já algum tempo com Tiago Monteiro, o piloto português, com larga experiência no desporto automóvel, apontava a principal arma de um piloto de top: a força mental. E essa resposta vai sendo dada um pouco por todos os pilotos a quem é perguntado qual o melhor trunfo de um piloto. Mas até essa força mental requer treino e cuidado.

O exemplo de Hamilton

O antigo piloto de F1 Anthony Davidson expressou a sua tristeza ao saber que Lewis Hamilton tem lutado contra problemas de saúde mental, incluindo depressão, desde os 13 anos. Davidson, que correu de kart ao lado de Hamilton, sentiu-se orgulhoso do sete vezes Campeão do Mundo por ter falado abertamente sobre as suas experiências.

A revelação de Hamilton, partilhada numa entrevista ao The Sunday Times, destacou as pressões das corridas, o bullying e a falta de apoio durante os seus primeiros anos. Davidson elogiou Hamilton pelo seu impacto positivo no desporto e salientou que a sua abertura em relação à saúde mental incentiva outros, incluindo ele próprio, a partilharem as suas dificuldades. Davidson contou as suas próprias batalhas contra a ansiedade, incluindo ataques de pânico durante a sua carreira de piloto, e reconheceu a coragem de Hamilton ao abordar um tema tão vital.

“O Lewis teve um impacto muito positivo no desporto. Ele tem a autoridade de um heptacampeão do Mundo – qualquer que seja o assunto que ele escolha para falar, as pessoas vão ouvir, e ele é um ser humano inteligente. Eu cresci nas pistas de karting com o Lewis. Estive perto dele toda a minha vida, vi-o chegar aos paddocks como um miúdo de oito anos e como um pioneiro no nosso desporto, um pioneiro absoluto, e tiro-lhe o chapéu. Por isso, por agora, falar abertamente sobre saúde mental entristece-me, em muitos aspetos. Estou um pouco orgulhoso por ele ter falado sobre saúde mental”, disse Davidson.

“Entristece-me pensar em todos aqueles dias que passei com ele nas pistas de karting, que ele estava a passar por isso, mas agora está numa posição em que sente que pode falar sobre o assunto. Eu sofri com problemas de ansiedade, como uma verdadeira ansiedade incapacitante nos meus dias de piloto, e tinha mais a ver com a saúde mental, o que me levou a ter ataques de pânico dentro do carro às vezes, e é horrível. E o facto de Lewis Hamilton falar sobre isto dá-me confiança para poder falar sobre o assunto também”, acrescentou Davidson.

Félix da Costa também trabalhou essa capacidade

Ainda recentemente, António Félix da Costa, no podcast Geração 90 do Jornal Expresso, também falou dos desafios mentais da sua carreira. A já muito falada desilusão por não ter conseguido o lugar na F1, a sua dura adaptação à Fórmula E. Mais ainda, a necessidade de, por vezes, ter de fazer jogo político para conseguir avançar na carreira, mesmo que implique fazer coisas que vão contra a sua essência. Félix da Costa é também um exemplo de um campeão que teve de trabalhar a sua mente para chegar ao topo.

É uma caraterística intrínseca a todos os grandes pilotos. A força mental, a determinação, insaciável fome de vitórias. Mas é também algo que se treina. Lando Norris tem sido muito aberto quanto ao trabalho mental que faz e quanto às dificuldades que sentiu no início. Lewis Hamilton agora reconheceu as dificuldades que sentiu e são já vários os pilotos que dão o exemplo e mostram o trabalho mental que fazem. Esse trabalho, ainda menosprezado por uns, faz a diferença noutros pilotos que aceitam que este é também um “músculo” a treinar e, acima de tudo, a tratar com cuidado.

Um “músculo” que pode e dever ser treinado e cuidado… por todos

Num mundo que vive a uma velocidade estonteante, para o bem e para o mal, muitas pessoas sentem-e assoberbadas com o seu dia a dia. As exigências crescentes do trabalho, os problemas sociais e económicos, levam-nos para um caminho em que por vezes a nossa força mental fica em causa. Estes exemplos de grandes campeões, que despem a capa de super-herói e mostram que são feitos de carne e osso, como nós, é uma dádiva tremenda, permitindo que as questões mentais sejam tratadas com o devido respeito e atenção. A nova geração de pilotos pode não ter a aura dos pilotos do passado, que pareciam intocáveis. Mas colocam o dedo em certas feridas que magoam muitos e apontam um caminho. Esse caminho é fundamental para os campeões do futuro… dentro e fora das pistas.

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