F1: Uma nova geração cada vez mais preparada

Por a 1 Outubro 2024 11:20

A F1 tem passado por uma fase de transição, com jovens talentos a entrarem de rompante, tirando lugar a pilotos mais experientes. No entanto, o que surpreende é a desenvoltura que apresentam nos primeiros contactos com os carros.

Olhando para o top 3 da classificação do campeonato de pilotos, entendemos que Max Verstappen tem 27 anos, Lando Norris 24 e Charles Leclerc 26. Pilotos jovens, mas todos eles já com mais de 120 corridas feitas na F1. O mundo do desporto parece agora focado (às vezes obcecado) por encontrar o próximo grande talento e, por conseguinte, jovens pilotos chegam aos grandes palcos cada vez mais cedo.

Cada vez mais jovens

Max Verstappen fez a sua primeira corrida de F1 com 17 anos, Lance Stroll com 18, Oliver Bearman com 18, Lando Norris com 19. Hoje em dia, o que parece ser norma, antes era a exceção. Fernando Alonso fez a primeira corrida com 19 anos e foi considerado um diamante em bruto por começar tão cedo. Jenson Button começou aos vinte anos e na altura que iniciou a sua carreira (2000) 19 e 20 anos era considerado muito cedo. Verstappen ganhou a sua primeira corrida aos 18 anos.

A tendência de colocar pilotos muito jovens nos cockpits começa a acentuar-se. Mas a realidade é que se vislumbram poucos motivos para não o fazer. Oliver Bearman, que nem é um dos candidatos ao título na F2 pontuou nas duas corridas que fez na F1 este ano e com isso ganhou o lugar na grelha em 2025. Franco Colapinto, que também não era visto como uma das primeiras opções para subir à F1, assume-se agora como um dos destaques e já é visto como merecedor de um lugar na próxima época. Andrea Kimi Antonelli fez o primeiro treino com a Mercedes e mostrou logo uma confiança tremenda (só assim poderia atacar a Parabolica de “faca nos dentes”). Os jovens da atualidade são diferentes.

Sergio Perez ficou muito impressionado com os novatos da temporada de 2024 da Fórmula 1, incluindo Kimi Antonelli, Bearman, Colapinto e também Jack Doohan. Pérez expressou a esperança de que Colapinto garanta o lugar restante na Audi em 2025, elogiando os estreantes pela sua confiança e bons resultados. Ele também criticou o sistema de F2 por arriscar carreiras se os pilotos não conseguirem encontrar oportunidades na F1.

“Espero sinceramente que o Franco consiga encontrar um lugar na Audi para ele. Seria uma pena que, depois do trabalho que está a fazer, não conseguisse um lugar para o próximo ano. Porque, mais uma vez, isso pode pôr em risco a sua carreira ao regressar à F2. Penso que a F2 tem algum trabalho a fazer com o seu campeonato. Mas sim, acho que é ótimo ver estes jovens pilotos a chegarem, tão confiantes e a conseguirem logo grandes resultados. É sempre bom ver isso”, disse Perez.

O que mudou?

A F1 permite poucos testes. Muito poucos testes. Apenas três dias antes da época começar, dois dias depois da época terminar, sem contar com os testes da Pirelli e testes privados que também não permitem muito tempo de pista, comparado com outros tempos. Os pilotos têm agora menos tempo para se preparar no mundo real. No entanto, os jovens talentos acumulam muito mais quilómetros graças aos simuladores. As equipas têm simuladores cada vez mais eficientes e próximos da realidade, os pilotos podem ter em casa simuladores que permitem treinar novas técnicas, novas abordagens, novas trajetórias. Max Verstappen passa inúmeras horas nos simuladores e continua a dizer que é um excelente treino.

Há também a proximidade das equipas. Se antes um piloto que chegasse a uma equipa de F1 ficava assustado com a quantidade de pessoas, de processos e com minúcia do trabalho, hoje em dia os jovens começam desde cedo a integrar-se nas equipas, a conhecer as pessoas, o trabalho e a exigência. A integração acaba por ser muito mais simples, pois já não é um mundo estranho.

Um novo mundo

Muitos devem lembrar-se da estreia de Max Verstappen, em 2015 (quase dez anos!). Muito se falou da falta de experiência do jovem neerlandês e da irresponsabilidade que era colocar um miúdo de 17 anos aos comandos de um F1. Nos tempos que correm, a Mercedes troca um heptacampeão por um jovem de 18 anos e ninguém se preocupa com a sua capacidade e apenas surgem algumas dúvidas se irá aguentar a pressão da equipa, a mesma preocupação que se pode ter de um jovem com mais idade.

Se antes ter um miúdo de 17 anos num F1 era quase um atentado, agora é quase a norma. Porque a sua preparação é de facto superior em todos os sentidos. Preparação física, técnica e mental. Mais ainda, a F3 e a F2 conseguiram tornar-se nos verdadeiros fornecedores de jovens talentos.

Quando Verstappen entrou na F1 não era bem assim. É caso para dizer que o trabalho tem sido muito bem-feito. Claro que a F1 é um mundo onde as vagas não abundam. Se queremos apenas os melhores entre os melhores, é normal que assim seja. Mas poucos diriam que Colapinto ou Bearman fossem tão bons.

Talvez seja preciso arranjar forma de colocar mais jovens da ribalta. Dar mais oportunidades aos melhores da F2. O sistema atual está propenso a desperdiçar muito talento e apenas com golpes de sorte (Liam Lawson que o diga) é que podem mostrar o seu valor na F1. Será impossível colocar todos os grandes talentos na F1. Mas a FIA e a F1, em vez de se preocuparem com problemas menores, como o uso ou não de linguagem imprópria, deveria pensar em formas de abrir um pouco mais a porta aos jovens. O desporto pode ganhar com isso.

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