WRC: Não está fácil ‘reativar’ a China, nem foi fácil lá ir em 1999!

Por a 29 Agosto 2024 09:46

O regresso do Mundial de Ralis à China ainda é incerto, mas há planos e discussões em andamento para que isso aconteça nos próximos anos.

Para além de ter recebido uma prova em 1999 a China já esteve prestes a receber nova etapa do WRC em 2016, mas o evento foi cancelado devido a fortes chuvas que danificaram as estradas não tendo sido possível encontrar alternativas em tempo útil. Desde então, o regresso do país asiático tem sido um desafio, porque o interesse dos chineses no WRC está a ‘milhas’ do que sucedeu com a F1. E mesmo assim, não foi fácil, depois da pandemia, que a China se dispusesse a acelerar o regresso da F1.

O Promotor do WRC tem demonstrado grande interesse em expandir o campeonato para novos mercados, com a China e os EUA à cabeça. Peter Thul, representante do Promotor, afirmou que o projeto de levar o WRC à China é de médio a longo prazo, pois a China é vista como um mercado estratégico para o WRC, juntamente com os Estados Unidos.

Embora não haja uma data definida para o regresso do WRC à China, é quase certo que isso não acontece antes de 2026. O foco atual parece estar em estabelecer uma prova nos Estados Unidos.

Certo é que nunca será fácil levar o WRC à China novamente, por vários motivos, provavelmente o principal deles sendo o facto do WRC precisar mais da China do que a China do WRC…

Mas há oito anos, depois de meses de dúvidas e suspeitas, o WRC esteve muito perto de voltar à China, dezassete anos depois da última vez que lá esteve. Já nessa altura, Martin Holmes escreveu no AutoSport que nada tinha mudado na China, pois as dúvidas e as suspeitas também foram frequentes na preparação do WRC de 1999. “Havia muitas posições diferentes” recordou Holmes: “Algumas equipas, como por exemplo a Mitsubishi e a Subaru, que tinham competido na China em rondas da série Ásia-Pacífico, sabiam que iam para uma zona onde conheciam de antemão alguns dos problemas, enquanto outras, como a Ford, a SEAT e a Toyota, enfrentavam uma viagem ao desconhecido.

O rali já tinha estado em Huairou em duas ocasiões anteriores para o campeonato Ásia-Pacífico, em 1997 e em 1998, na sequência do último rali Hong Kong-Pequim, realizado em 1996. A análise dos meus relatos de 1999 permitiu-me simplesmente ver algumas das surpresas do país e, em especial, os padrões de tráfego nas estradas”, escreveu Martin Holmes.

“1999 foi uma época em que os chineses eram a primeira geração de condutores de automóveis nas estradas. Freddy Loix fazia parte da equipa da Mitsubishi e observou que este era verdadeiramente o país das bicicletas. Elas estavam por todo o lado. Os seus proprietários conduziam-nas à esquerda e à direita da estrada. Atravessavam a estrada sem pensar em olhar para ver se vem um veículo.

As estradas eram claras e largas, não havia carros, só camiões. Os chineses não tinham um sentido de estrada natural. Para nós, conduzir na China era como fazer um jogo de vídeo.

Desviar em todas as direções, na esperança de não bater. Agora, quase uma geração mais à frente teria sido interessante ver se a atual geração de condutores tinha mais sentido de estrada do que os seus antecessores. Mas não foi desta…”

“Um dos grandes mal entendidos no rali de 1999 foi o facto de os habitantes locais não estarem preparados para os reconhecimentos. Havia 67 pilotos de partida, metade dos quais estrangeiros, e os seus habitantes viram-se invadidos durante vários dias, e não apenas nos dias do evento.

Pensavam que só tinham de permanecer em segurança nas suas casas no dia da chegada da manifestação. Não tinham sido emitidas ordens de recolher obrigatório para que os aldeões permanecessem nas suas casas durante os reconhecimentos. Depois, houve um grande mal entendido sobre o tempo. Os eventos de 1997 e 1998 tinham sido realizados em pleno verão, em junho.

A prova de 1999 foi transferida para setembro, uma semana mais tarde do que a prova de 2016.

O verão tinha sido muito húmido e as estradas, outrora lisas, tornaram-se muito irregulares.

Um troço teve de ser substituído devido a danos causados por inundações.

Depois do reconhecimento, caiu mais chuva, o que deixou as equipas completamente sem saber como seria o tempo para a prova, mas temendo o pior. O estádio destinado à partida oficial ficou inundado e a cerimónia teve de ser cancelada.

Os troços de 1999 foram disputados em zonas distintas. O primeiro dia decorreu principalmente nas montanhas, enquanto os dias 2 e 3 se centraram mais nas estradas dos vales, todas em estradas de terra. As estradas eram frequentemente muito estreitas.

Tommi Makinen afirmou que muitos troços eram como uma longa prova de slalom. A Toyota levou muito mais peças sobresselentes para o rali do que o habitual e a equipa espanhola da SEAT levou duas toneladas de comida para o seu pessoal comer na China!

Apenas a equipa Subaru tinha competido nestas estradas anteriormente, quando Colin McRae venceu as duas vezes, embora em condições bastante diferentes. A Ford sentiu-se encorajada pelo facto de McRae estar agora a conduzir para eles. A Mitsubishi sentia-se confiante após as vitórias nos ralis Safari e Argentina no início do ano.

Havia pedras na estrada à espera de serem atingidas, como a Ford rapidamente descobriu.

Perderam os dois carros depois de destruírem as suspensões na mesma pedra na primeira etapa. Makinen liderou inicialmente, mas embateu numa grande pedra, acabando por se retirar com uma falha de suspensão perto do final do evento. Richard Burns passou para a liderança com o seu Subaru.

No segundo dia, Didier Auriol disse que as condições eram como conduzir no gelo com pneus escorregadios e, nestas condições, Burns perdeu tempo quando tocou num muro.

Isto permitiu a Auriol assumir a liderança e obter uma vitória muito significativa. Esta seria a última vitória de Auriol no WRC, a última vez que a Toyota venceu uma prova do WRC.

Auriol, de 42 anos, tornou-se o francês mais velho a vencer uma prova do WRC. Auriol foi atrevido.

Ele disse que a sua vitória lhe deu a confiança necessária para participar no seguinte Network Q Rally e desfrutar da lama e da chuva britânicas…”

“De regresso ao futuro, até à data, ainda pouco se sabia sobre o evento de 2000. Não houve nenhum rali tradicional candidato. Pensava-se que muitas das estradas utilizadas em 1999 eram agora de alcatrão ou betão e que o evento seria mais de ‘asfalto’ do que de terra.

Uma das histórias de sucesso dos eventos no final dos anos noventa foi a importação de ajuda experiente do Rally Australia, o que significou que, tecnicamente, o rali de 1999 correu muito bem.

O mesmo sistema estava planeado para 2016. Mas, no fim de contas, será que os promotores do desporto confiavam plenamente numa organização que esteve fora de cena durante tanto tempo e a quem foi agora imposto um rali desta importância?

Estava tudo preparado para a inclusão da China no calendário do campeonato do mundo de 2000, novamente marcada para o segundo fim de semana de setembro, mas depois veio a notícia que lançou todo o mal-estar que ainda persistia. Lamentamos, mas o rali não pode realizar-se na época 2000 do WRC. Os organizadores não podiam dar-se ao luxo de o organizar.

Assim, os organizadores desistiram em abril, a cinco meses do fim da época e depois de cinco das provas de 2000 já terem sido realizadas, lançando imediatamente a FIA numa zona de pânico.

Chipre interveio num prazo muito curto, após anos de esperança, sem qualquer expetativa real da realidade, de que tal eventualidade pudesse acontecer.

A memória do desastre do Rali da China de 2000 é a última recordação que restou do WRC na China. Esperávamos que o Rali da China de 2016 (o ano chinês do Macaco) não voltassea fazer do WRC um ‘Macaco’. Mas infelizmente, novo ‘azar’ e nova anulação. Às três será de vez?

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1 Comentário
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Abarth
Abarth
2 meses atrás

O WRC continua obcecado com os gtandes mercados, mas tratando-se de países onde não querem saber de ralis não vejo grande interesse nessas provas se nem sequer históricas são.
Andavam cismados com os EUA, a p*ta da Russia e a p*ta da China. Os segundos já se auto-excluiram da lista. Quanto aos EUA se não lhes proporcionarem algo diferente que vá ao encontro dos gostos deles não vejo interesse em lá ir e os chineses só têm interesse em se apoderar do mundo, não querem saber de automobilismo para nada.

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