Os últimos pilotos lusos a pontuar no WRC…
Não são muitos os exemplos de pilotos portugueses de ralis a correr ao mais alto nível no Mundial de Ralis, Aliás, contam-se pelos dedos. O que recordamos hoje é a prova de Miguel Campos no Rali do Chipre de 2004, naquela que foi uma das últimas três vezes em que pilotos portugueses pontuaram no WRC.
Francisco Romãozinho, em Citroën GS 1220, foi pioneiro a correr no WRC numa prova fora de Portugal, no Rali de Marrocos de 1973, seguiram-se Carlos Torres, que se estreou no Rali da Acrópole de 1977.
Seria preciso esperar até 1995 para ver Rui Madeira e Nuno Rodrigues da Silva ser a dupla que verdadeiramente abriu as portas do WRC, tendo estado muito perto, em 1997, de um programa aos mais alto nível no Mundial de Ralis.
Depois, uma ‘tal’ de Renault 4L, pelas mãos de António Pinto dos Santos, ‘roubou’ as atenções da imprensa de cada país por si visitado!
Adruzilo Lopes contou com uma “mão cheia” de participações além-fronteiras, Miguel Campos estreou-se em 2000, também em Espanha, com um positivo quarto lugar no Grupo N. Em 2002, as cores nacionais regressaram ao Mundial de 2002, de novo na Catalunha, com as duplas Miguel Campos/Carlos Magalhães e Rui Madeira/Fernando Prata, respetivamente, ao volante do Peugeot 206 WRC e do Ford Focus WRC.
Miguel Campos, voltaria algum tempo depois, nos ralis de Monte Carlo e Chipre de 2004, Ricardo Teodósio fez um ‘one off’ com o seu Mitsubishi no Rali da Finlândia de 2006.
O primeiro dos 49 ralis no WRC de Armindo Araújo, foi em 2007, na Suécia. Depois dos dois títulos Mundiais de Produção em 2009 e 2010, tudo terminou com o projeto com a equipa oficial da Mini em 2011 e 2012.
Bernardo Sousa é o segundo piloto português com mais provas no WRC, 42, tendo começado a sua aventura fora de Portugal um ano depois de Armindo Araújo, em 2008, também no Rali da Suécia.
Entrou e saiu até 2016, e desde aí para cá, presenças portuguesas no WRC, são muito esporádicas, Diogo Salvi fez duas provas na Turquia, e pouco mais…
Mas há precisamente 20 anos, no Chipre, Miguel Campos assegurou o 8º posto, o último pontuável e foi mesmo um dos últimos portugueses a pontuar no WRC fora de Portugal, juntamente com Bernardo Sousa (2011, Jordânia) e Armindo Araújo (2012, Nova Zelândia).
Rali de Chipre 2004: Miguel Campos no top10: missão quase cumprida
Quando tirou as luvas e pousou o capacete depois de entrar no último Parque Fechado do Rali de Chipre, Miguel Campos respirou de alívio. Valeu o esforço de continuar em prova depois de um azar mecânico ter-lhe roubado toda e qualquer possibilidade para se bater pelo objetivo a que se propunha, ou seja, ser o melhor piloto privado. Uma meta que, em condições normais, dificilmente teria sido conseguida devido à experiência e rapidez de Janne Tuohino e do seu Ford Focus WRC02, mas que esteve também longe de ser uma miragem. Averbando regularmente, a partir da quarta classificativa, tempos no “top ten”, o piloto da Peugeot Total Silver Team SG acabou por subir 11 posições desde a primeira classificativa, terminando em 10º e com o carimbo do terceiro melhor piloto privado.
A VOLTA AO TEXTO
Com seis minutos perdidos só na primeira classificativa a que somou uma penalização de 1m30s devido a um problema no amortecedor traseiro do 206 WRC, Campos e Rodrigues da Silva rapidamente conseguiram encontrar motivação para se imiscuírem entre
os melhores tempos quanto aos privados. Perdendo quase sempre para Tuohino, mas batendo, não raramente, Henning Solberg e praticamente sempre Antony Warmbold e Alistair Ginley e Luis Companc, Campos marcou presença pela atitude de garra e motivação
que não o deixaram esmorecer logo na primeira etapa.
Impondo um ritmo suficientemente forte para embaraçar os responsáveis da equipa dos quais tinha recebido ordens para terminar apenas a prova, o vice-campeão europeu aplicou- se então no cronómetro, começando a trepar na classificação, realizando os seus dois
primeiros tempos dentro do “top ten”, mesmo sendo prejudicado pela marcha mais lenta do concorrente que o precedia na estrada. Para a segunda etapa, a tónica de rapidez e regularidade manteve-se e Campos, com o 206 isento de problemas, voltou a subir na classificação (até ao 12º lugar), fazendo jogo igual com Henning Solberg, mas sofrendo a desvantagem de ser o primeiro piloto na estrada e com isso abrir o caminho para os seus adversários. Os tempos realizados nas segundas passagens (já com o terreno “limpo”) vieram confirmar isso mesmo, mas com a neutralização da 11ª Prova Especial, Campos viu-se privado de 30 quilómetros de troço para tentar recuperar mais lugares.
NO “TOP TEN”
De qualquer maneira, a história do rali estava escrita para a dupla do Silver Team e a terceira etapa foi praticamente para “cumprir calendário”. Com a desistência de Henning Solberg e o “forcing” final para ultrapassar o Mitsubishi Lancer de Andreas Tsouloftas, Campos conseguiu ascender ao “top ten“ minimizando os prejuízos iniciais. Para compensar o facto de ser constantemente prejudicado por ser o primeiro piloto na estrada, na última secção da derradeira etapa, o piloto do “Júnior Team” da Peugeot recebeu uns pneus de “evolução” que lhe permitiram brilhar. Com o 10º lugar alcançado, mas sem o objetivo de ser o melhor privado, Miguel Campos não deixou de ficar satisfeito com a sua prestação: “sem os 23 minutos (aproximadamente) que perdemos inicialmente, com o problema do amortecedor, penalização e dificuldades com o pó atrás de concorrentes mais lentos, penso que poderíamos ter lutado pelos lugar de melhor privado. Fizemos uma boa recuperação e assinámos bons tempos pelo que só posso estar contente”.
Amortecedor estragou a prova
O alarme dentro da equipa Bozian Racing soou ainda cedo, logo no primeiro troço. A expressão de Carlos Barros também denunciava preocupação. E não era para menos. Sensivelmente ao quilómetro 30 da Especial de Lagoudera – Spilia, o suporte de fixação do amortecedor traseiro direito cedeu e o amortecedor entrou pela carroçaria dentro, obrigando Miguel Campos a parar durante seis minutos e atingir o final com todos os cuidados. O piloto da Peugeot Total Silver Team SG referia com algum desalento: “de um momento para o outro partiu-se o topo da suspensão e estivemos parados cerca de seis minutos. Arrancámos de novo e com grande sacrifício conseguimos trazer o carro até ao Parque de Assistência”. Uma solução técnica improvisada, feita à base de cintas e chaves, ainda conseguiu atrasar os efeitos do problema, mas também essa solução artesanal rapidamente se “desintegrou”, obrigando a dupla a cumprir os dois troços seguintes antes do Parque de Assistência a passo de caracol. Um esforço que foi, afinal, compensado…