24 horas de Le Mans de 2011: a menor diferença em tempo da história
Estas 24 horas de Le Mans de 2014 foram equilibradas, mas foi em 2011 que uma luta entre a Audi e a Peugeot redundou na diferença de tempo mais curta da história das 24 Horas de Le Mans.
Uma corrida agridoce para Pedro Lamy. Recorde o que se passou…
Nem o filme Le Mans, interpretado por Steve McQueen, nem a adaptação cinematográfica Michel Vaillant, gravado no decurso da prova francesa em 2002, tiveram tanto drama, tanta ação e tantas reviravoltas como esta edição das 24 Horas de Le Mans.
Desde que a prova francesa passou a ser cronometrada em tempo em vez de distância percorrida, os 13 segundos que separaram o Audi R18 de Marcel Fässler, André Lotterer e Benoit Tréluyer e o Peugeot 908 de Pedro Lamy, Sébastien Bourdais e Simon Pagenaud passaram a ser a distância em tempo mais curta na história das 24 Horas.
O resultado da prova foi uma completa incógnita do princípio ao fim. Ao contrário de outras edições, nenhum carro liderou confortavelmente durante qualquer período de tempo, com a liderança a trocar de mãos em quase 40 ocasiões e não exclusivamente através das paragens nas boxes para reabastecimentos. Durante a madrugada e até pouco depois do nascer do sol, o Audi nº 2 (o futuro vencedor) e o Peugeot nº 9 proporcionaram ao público uma animada discussão pela vitória, com o Peugeot nº 7, mais atrasado na altura, a servir de força de bloqueio, dando origem a algumas ultrapassagens menos ortodoxas.
Pedro Lamy fez apenas três turnos (cerca de hora e meia) ao volante do Peugeot, com a marca a entregar o comando das operações a Bourdais e Pagenaud, aparentemente considerando que estes estavam mais rápidos que o português.
Com o passar do tempo, as hipóteses de vitória das duas marcas foram ficando reduzidas a um candidato cada, mas enquanto a Peugeot conseguiu levar os três carros até ao final, a Audi teve apenas um a cortar a meta. Os outros dois Audi R18 abandonaram em dois aparatosos acidentes, que miraculosamente não resultaram em ferimentos.
Ainda na primeira hora de prova, Allan McNish tentou ultrapassar o seu colega Tréluyer e dobrar um Ferrari numa única manobra, mas o piloto escocês bateu de lado neste último, saindo disparado a toda a velocidade contra o muro de proteção. Felizmente, McNish conseguiu sair do carro pelo próprio pé e os fotógrafos presentes na área escaparam aos destroços.
Por volta da meia noite, foi a vez de Mike Rockenfeller sair violentamente de pista na zona de Arnage, quando outro Ferrari, que o alemão se preparava para dobrar, mudou inesperadamente de direção, atirando Rockenfeller de frente contra o muro. Rockenfeller também conseguiu sair do seu carro sem problemas.
Na Peugeot, ambos os carros perderam algumas voltas nas boxes, o número 8 devido a um pequeno problema com os travões e depois com um drive through, enquanto o número 7 teve uma saída de pista que obrigou a uma paragem não prevista no interior das boxes. Arredados da luta pela vitória, continuaram a pista não só para ajudar o número 9, mas também para marcar alguns pontos para a classificação da Intercontinental Le Mans Cup.
Luta de classes
Atrás das equipas de fábrica que lutam pela vitória, está sempre um grupo de concorrentes por vezes classificados como ‘os outros’. São as equipas privadas, sem as quais seria impossível ter uma lista de inscritos condigna, que não têm hipóteses reais de vencer, mas que têm sempre um pequeno grupo de dedicados de fãs, que admiram a paixão e a persistência que fazem nascer estes projetos. Era aqui que podíamos encontrar, por exemplo, Miguel Pais do Amaral e a ASM Team, bem como Tiago Monteiro. A luta pelo melhor dos ‘outros’ intensificou-se na fase final entre o Pescarolo do regressado Team Pescarolo e o antigo Peugeot 908 HDi da Oreca, principalmente depois de uma saída de pista que danificou a carroçaria do 908. A equipa de Henri Pescarolo parecia ter a vitória ‘no papo’, até Julien Jousse destruir o carro num acidente.
Quem achava que a categoria LMP2 iria ficar menos profissional, desengane-se. Quem quer ganhar corridas à classe em Le Mans ainda precisa de ter uma estrutura técnica bem montada e pilotos especializados. É por isso que a Oreca Matmut dominou grande parte da corrida, até o Oreca-Nissan se despistar. A Greaves Motorsport, agora com Tom Kimber-Smith como profissional, os meios financeiros proporcionados pelos gentlemen drivers Karim Ojjeh e Olivier Lombard e uma ligação privilegiada à Zytek, herdou o triunfo por ter poucos problemas. A Signatech, também em Oreca-Nissan, teve que recuperar terreno, enquanto a Level 5 Motorsports de João Barbosa terminou num surpreendente terceiro lugar com um Lola-Honda muito pouco competitivo.
A corrida dos GT esteve muito equilibrada, com a Corvette, Ferrari e BMW a assumirem-se como potenciais vencedores. A Corvette Racing, que teve que iniciar os reabastecimentos mais cedo, acabou por ver-se beneficiada pela presença do safety car após o acidente de Allan McNish, mas acabou por ser o segundo carro da equipa a vencer, com Tommy Milner, Antonio García e Olivier Beretta a aproveitarem o abandono dos seus colegas e a recuperarem terreno para passar o Ferrari 458 da AF Corse e um dos BMW M3 oficiais. A marca americana também venceu a classificação GTE-Am, com o carro da francesa Larbre Competition.
Pedro Lamy: “O carro tem muito de mim”
Obviamente que não posso dizer que estou contente com a decisão da equipa de me manter fora do carro, mas não posso alongar-me, quando ainda não me deram uma explicação sobre essa decisão. Sou um piloto profissional e obedeço às ordens da equipa, mas sinto que podia ter corrido de outra forma eles foram injustos comigo. Os meus colegas estiveram mais rápidos que eu, mas em outras ocasiões fui eu que estive mais rápido, como aconteceu em Spa.
Mesmo assim, subir novamente ao pódio em Le Mans é algo que sabe sempre bem e não vou deixar de o saborear só porque guiei menos tempo. Entrei para a Peugeot há cinco anos, estou neste projeto desde o começo e contribui muito para chegarmos à posição em que estamos. Desde então houve muitas mudanças, muitos pilotos novos que entraram e outros que saíram. O carro tem muito de mim, mas também dos meus colegas de equipa.
Este pódio foi diferente do que conquistámos em 2007. Lá, não tínhamos expectativas de terminar bem classificados, enquanto aqui pensámos que a vitória poderia sorrir-nos. Só que para ganhar corridas primeiro é preciso terminá-las e Le Mans não é o sítio ideal para experimentarmos coisas durante a corrida. Os Audi estavam muito rápidos, como pensei que iam estar, porque eles têm muito apoio aerodinâmico, enquanto nós tínhamos problemas com os pneus. À noite tínhamos que usar os moles, que não eram bons para usar durante o dia.
Agora espero continuar ligado à Peugeot durante mais tempo. É uma equipa que conheço e uma casa onde me sinto bem.
CLASSIFICAÇÃO
24 Heures du Mans (3/6), Intercontinental Le Mans Cup, Circuito de Le Mans, Perímetro 13 629 metros, disputadas 355 voltas.
1º M. Fässler/A. Lotterer/B. Tréluyer Audi R18 TDI 24h02m21,525s
2º P. Lamy/S. Bourdais/S. Pagenaud Peugeot 908 a 13,854s
3º F. Montagny/S. Sarrazin/N. Minassian Peugeot 908 a 2 voltas
4º M. Gené/A. Wurz/A. Davidson Peugeot 908 a 4 voltas
5º N. Lapierre/L. Duval/O. Panis Peugeot 908 HDi a 16 voltas
6º N. Jani/N. Prost/J. Bleekemolen Lola B10/60-Toyota a 17 voltas
7º V. Ickx/M. Martin/B. Leinders Lola Aston Martin a 27 voltas
8º K. Ojjeh/O. Lombard/T. Kimber-Smith Zytek SN11-Nissan a 29 voltas
9º F. Mailleux/L. Ordoñez/S. Ayari Oreca 03-Nissan a 35 voltas
10º S. Tucker/C. Bouchut/J. Barbosa Lola B11/80-Honda a 36 voltas
11º A. García/T. Milner/O. Beretta Corvette ZR1.R a 41 voltas
12º T. Erdos/M. Newton/B. Collins Honda ARX01D a 41 voltas
13º G. Fisichella/G. Bruni/T. Vilander Ferrari 458 Italia GTC a 41 voltas
14º S. Nakano/N. De Crem/J. Charouz Oak Pescarolo-BMW a 42 voltas
15º A. Priaulx/J. Müller/J. Hand BMW M3 GT a 42 voltas
16º M. Lieb/R. Lietz/W. Henzler Porsche 997 GT3-RSR a 43 voltas
17º P. Pilet/R. Narac/N. Armindo Porsche 997 GT3-RSR a 44 voltas
18º J. Bergmeister/P. Long/L. Luhr Porsche 997 GT3-RSR a 45 voltas
19º M. Frey/R. Meichtry/M. Rostan Oreca 03-BMW a 51 voltas
20º P. Bornhauser/J. Canal/G. Gardel Corvette ZR1.R a 53 voltas
Classificaram-se 27 equipas
Pole position: B. Tréluyer,3m25,738s
Volta mais rápida: B. Tréluyer, 3m25,289s