19 dias para o Rali de Portugal: Sébastien QUÊ?
Há 14 anos, a 30 de maio de 2010, Sébastien Loeb deixou de passear no Mundial de Ralis. A fórmula mágica que permitiu tão estranho acontecimento também se chamava Sébastien mas tinha, e tem ‘Ogier’ como apelido. Na altura, escrevemos que poderá revolucionar os ralis dentro de… momentos!
Dito e feito, 59 vitórias e oito títulos de campeão depois…
Mas porque recordamos isto agora? Porque faltam 19 dias para o Rali de Portugal e num ano em que os dois Campeões da Toyota, Kalle Rovanpera e Sébastien Ogier decidiram partilhar o terceiro carro, há uma prova que não quiseram perder, o Rali de Portugal, prova que é especial para Ogier. Porque foi aqui que venceu pela primeira vez, em 2010, e porque partilha com Markku Alen cinco triunfos e há muito que tenta o sexto.
Por isso aqui fica o que escrevemos em 2010, logo a seguir a se ter estreado a vencer:
Dois anos bastaram para o francês Sébastien Ogier atingir o estrelato no Mundial de Ralis e chegar ao topo. Quem ousaria vencer o (quase) invencível Sébastien Loeb, sem ser um dos pupilos da Ford?
A resposta veio a meio do campeonato deste ano, precisamente há pouco mais de uma semana, por altura do Rali de Portugal, a sexta prova do ano. Ogier tornou-se o primeiro vencedor diferente de uma prova do Campeonato do Mundo de Ralis desde fevereiro de 2008 quando Jari-Matti Latvala teve essa honra. Três semanas depois do finlandês se tornar o mais jovem vencedor de sempre no Mundial de Ralis, Ogier, então com 24 anos, começava a dar nas vistas, ao carimbar a primeira vitória no JWRC, logo na estreia com um Citroen C2 S1600. E assim, nascia uma estrela. Até ao final do ano, o francês ainda venceria na Jordânia e Alemanha e chegava facilmente ao título com 12 pontos de vantagem. De imediato, ficou a certeza que Ogier não era ‘mais um’ piloto, mesmo se era humano e também errava. E com uma entrada de rompante, a direção de Citroen Sport não podia ficar indiferente e deixar um talento tão grande passar ao lado de uma grande carreira. Foi assim que o piloto teve a oportunidade de se estrear em 2008 num Citroen C4 WRC e subjugar todos os grandes ‘dinossauros’ do WRC durante dois troços, na primeira vez que guiou um World Rally Car, até ser obrigado a afundar-se na classificação devido a problemas mecânicos.
Futuro esteve tremido
Nessas circunstâncias não foi de estranhar que no ano seguinte o francês estivesse ao volante do mesmo C4 WRC com um contrato ‘prova-a-prova’, mas a verdade é que aí nem tudo correu pelo melhor e a meio do ano, Ogier esteve a um passo de perder a confiança que de forma tão célere tinha conquistado por altura do Rali da Argentina.
Olivier Quesnel, patrão da Citroen Sport, recorda essa altura atribulada: “chegámos a pensar em recambiá-lo novamente para o IRC (tinha ganho o Monte Carlo nesse ano), mas pareceu-nos demasiado estúpido fazê-lo e decidimos oferecer-lhe o resto da época no WRC.
Esse foi o ponto de viragem! Isso foi antes de Acropóle e fê-lo mudar completamente de atitude. Logo na Grécia foi segundo, o seu melhor resultado até à vitória em Portugal!”. O passaporte registava então o mais importante carimbo um lugar cativo para o Mundial deste ano, ao lado de Kimi Raikkonen, integrado no Júnior Team da Citroen Sport.
O programa inicial deste ano contemplava todas as provas, à excepção da Nova Zelândia. Mas, depois de ver a sua performance na Jordânia e na Turquia, Quesnel ofereceu-lhe também uma passagem para as Antípodas onde ele acabou por fazer um rali praticamente perfeito até três curvas do fim.
Por isso, o seu andamento em Portugal e a sua primeira vitória em solo algarvio, não foram uma surpresa. O que é surpreendente, é a ascensão meteórica que fez em dois anos!
E é isso que leva à grande dúvida do momento: poderá Ogier bater o palmarés de Loeb a longo prazo? Ainda ninguém tem uma resposta convincente, mas se Ogier está carregado de talento, é cada vez mais impermeável à pressão e, sobretudo, está no lugar certo, na hora certa…é bem possível que sim!
Entrevista a Ogier: “Não me chamem o outro Sébastien…”
Há dois anos, poucos eram os que conheciam Sébastien Ogier. Mas em dois anos, o francês saltou para a ribalta, está nas bocas do mundo… e pronto para alterar a fisionomia das estatísticas do Mundial de Ralis a médio/longo prazo.
Honestamente, gostas que te tratem como o outro Sébastien?
Bem… (risos) No início da minha carreira, quando comecei a ter bons resultados e a dar nas vistas junto da Comunicação Social, era simpático. Ser comparado a um piloto como o Loeb, um dos melhores de sempre da modalidade, era um elogio. No entanto, com o passar do tempo, com outros resultados e prestações, deixou de fazer sentido. O Loeb é o Loeb e eu sou outro piloto. Não sou o outro Sébastien, apenas o Ogier.
Mas com um início de carreira parecido…
Sim, um pouco. Em 2006 fui sexto no Volant Peugeot, uma competição monomarca em França e no ano seguinte venci a Taça Peugeot 206 – 4 vitórias e 2 segundos lugares, ndr. Seguiu-se a presença no JWRC em 2008, que venci, e depois a contratação pela Citroën.
Outro sinal: as perguntas que os jornalistas fazem são as mesmas que as colocadas a… Loeb!
Sim! (Risos) É verdade que, agora, os jornalistas vêm ter comigo e colocam-me o mesmo tipo de perguntas que as que Sébastien tem que responder. É bom sinal. Significa que estou a conseguir bons resultados e a Imprensa vê-me com potencial. Mas nada disso importa quando nos sentamos no carro, pois o que queremos é vencer e sermos os melhores.
Muitos pilotos passarem pelo CJT em 2009, mas apenas tu ficaste…
Conrad Rautenbach, Evgeny Novikov, Chris Atkinson e Petter Solberg deram o seu contributo à equipa, mas a Citroën Sport entendeu ter apenas uma dupla para este ano. Eu estava sob contrato e, entretanto, deu-se a chegada de Kimi Raikonnen.
Quando olhas para trás, as coisas já estão muito diferentes. No passado houve erros e abandonos, mas agora transformaste-te num piloto tão rápido quanto consistente. Quando notaste que tudo mudou?
O último ano foi difícil. Chegar aos World Rally Car sem experiência é difícil. No ano passado, nunca tinha guiado um carro tão potente e é difícil adaptarmo-nos à velocidade. Foi um fantástico momento, mas progredimos e a relação com a equipa facilitou-o. Eles continuarem a apoiar-nos e acho que isso fez a diferença e é graças à Citroen que já ganhei. Na segunda parte da época do 2009, fui progredindo de rali para rali, o que foi quase perfeito. E agora só temos que melhorar no asfalto onde não tenho tanta experiência e que é a minha prioridade.
O delfim visto pelo campeão
Depois de ter sido derrotado no Vodafone Rali de Portugal, Sébastien Loeb aceitou com desportivismo o segundo lugar. Uma selecção das suas melhores frases colhidas durante a prova portuguesa relativas a Ogier, não deixa dúvidas que o Campeão do Mundo terá, a partir de agora, motivos para estar mais preocupado.
“É, claramente, o mais rápido dos outros”
“Este ano era visível a sua evolução”
“Impressionou-me no segundo dia, quando abriu a estrada”
“Aproveitou bem as dicas que lhe dei em 2008”
“Mais um nome a ter em conta para a vitória”
Tão competitivo no asfalto como na terra?
Sébastien Ogier mostrou-se muito competitivo em asfalto com um S1600 (venceu na Alemanha, foi segundo na Córsega, embora tenha falhado na Catalunha). Impressionante também foi o seu sexto lugar na Irlanda no segundo rali com um WRC e até o seu quinto lugar em Espanha depois de experimentar as habituais dificuldades de alguém com falta de experiência (ao nível do sobreaquecimento de travões e degradação precoce de pneus). Esteve entre os seis primeiros em 18 troços, sendo mesmo o mais rápido em duas classificativas com muita gravilha. De resto, ganhou o Monte Carlo de 2009, num Peugeot S2000. Se isto, a juntar ao seu excelente momento de forma e motivação em alta, será suficiente para bater o super-especialista Loeb no alcatrão? Talvez não, mas…
Como Quesnel conheceu Ogier
Olivier Quesnel não podia estar mais satisfeito com a vitória de Ogier em Portugal. Na primeira pessoa, o diretor da Citroen Sport explicou já em ambiente de descompressão que “a primeira vez que ouvi falar de Ogier estava a tomar o lugar de Guy Fréquelin, no início de 2008. Fui contactado por Jacques Regis, então Presidente da Federação Francesa, que me disse que o Sébastien Ogier devia ser o melhor piloto de ralis francês dos próximos tempos e que era da nossa responsabilidade conjunta em fazer com que isso acontecesse. Nunca tinha ouvido falar daquele nome! Jacques disse-me que se eu precisasse de alguma prova para o confirmar, era só dizer-lhe, mas que estava na disposição de assegurar metade do orçamento para ele correr por nós! Não me fez nenhum ultimato, só pediu para o ajudar”. O resto é história…